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    Black Mirror: Bandersnatch oferece cinco finais com múltiplas variações

    Primeiro filme interativo da Netflix estreou nesta sexta-feira (28) na plataforma.

    A primeira reação de Charlie BrookerAnnabel Jones quando a Netflix os abordou sobre a possibilidade de criar um episódio interativo de Black Mirror foi um claro e categórico "não."

    Posteriormente, os dois concordaram porque, segundo Jones, nenhum dos exemplos anteriores de narrações interativas os agradava. Além disso, quando começaram a discutir ideias para a quinta temporada, havia uma especificamente que somente funcionaria caso houvesse a tal interação. E assim nasceu Black Mirror: Bandersnatch.

    Ambientado em 1984, o filme dirigido por David Slade acompanha Stefan (Fionn Whitehead), um jovem programador que transforma um livro de romance interativo — cujo autor enlouqueceu após finalizá-lo — em um video game com a mesma proposta. Logo, o mundo real se mistura com o virtual e isso passa a criar uma certa confusão na vida do personagem.

    Netflix planeja novas histórias interativas após Black Mirror: Bandersnatch

    "Estávamos tentando fazer a mesma coisa que Stefan", compara Brooker. "Em alguns momentos nós achamos que estávamos enlouquecendo."

    Para tirar o filme do papel, a Netflix criou um algorítmo próprio, uma ferramenta de escrita narrativa inédita para ajudar a criar as ramificações necessárias à história.

    Durante o filme, é pedido ao espectador que tome certas decisões pelo protagonista. Surgem duas opções na tela, e há um tempo limite para que a escolha seja feita.

    Netflix

    A ferramenta criada pela Netflix, explica a Variety, permite a criação de narrativas complexas que incluem loops que podem guiar o espectador de volta à linha principal caso as escolhas feitas desviem demais do objetivo. Há também a opção de voltar e refazer escolhas, algo que o próprio roteiro incorporou na história de forma natural, fazendo com que Stefan em alguns momentos perceba que pode voltar e fazer de forma diferente algo que já havia feito.

    Para Brooker, o maior desafio é manter o protagonista consistente enquanto dá ao público tantas opções. "Acho que muitas pessoas vão julgá-lo com base apenas na narrativa", disse ao New York Times. "Mas não depende de nós. Depende deles", afirmou, explicando que, apesar de ter sido desenvolvido como uma experiência cinematográfica, Bandersnatch usa "elementos de games", já que o espectador está "ativamente guiando as decisões" de Stefan.

    Bandersnatch apresenta cinco diferentes finais, sendo que há mais de um trilhão de permutações únicas. É importante salientar que nem todas causam alterações nos eventos. Algumas escolhas são relativamente simples, como por exemplo a do cereal, primeira apresentada no longa. "Queríamos que o público fizesse uma escolha bem-sucedida no início", justifica a diretora de inovação de produto, Carla Engelbrecht.

    Durante o desenvolvimento da história, houve debates entre a equipe criativa a respeito de finais bons, ruins, de alta qualidade ou 'cinco estrelas.' Brooker explica que há "um aspecto Feitiço do Tempo" na história, "que deliberadamente gira em círculos."

    Netflix

    Ainda assim, o produtor Russell McLean deixa no ar uma provocação, questionando se é realmente o público que está tomando as decisões. "É Black Mirror que está tomando as decisões por você."

    Pioneiro em formatos interativos, o produtor e roteirista Bob Bejan concedeu uma entrevista ao New York Times, em que esclarece a afirmativa de McLean:

    "Há uma quantidade finita de mídia que o cineasta cria, que ele divide e divide para dar a ilusão do controle, enquanto ao mesmo tempo guia o espectador através da planta que já havia desenhado. É muito mais megalomaníaco do que um filme linear."

    Enquanto Bandersnatch vai crescendo no gosto do público, a Netflix já tem grandes planos para a sua ferramenta de "narrativas ramificadas." A plataforma estuda a possibilidade de utilizar o formato em outras produções para o público adulto, o aplicando em histórias de romance, comédia e até mesmo terror.

    Há ainda um outro aspecto, um tanto apocalíptico: com a posse da informação de quais escolhas os seus assinantes vão tomando para a história, a Netflix poderá criar outras produções que atendam especificamente às preferências de determinadas parcelas do público. 

    É Black Mirror sendo mais catastrófica e assustadora do que jamais foi.

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