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    "Yonlu é um filme reflexivo e poético como ele era", explica o ator Thalles Cabral

    Um mergulho na mente de um artista de 16 anos.

    Para interpretar um jovem músico, entra em cena outro jovem músico. Thalles Cabral, ator e cantor, foi escolhido pelo diretor Hique Montanari para interpretar o adolescente Yonlu nos cinemas.

    O projeto, focado na obra e nos últimos dias do garoto, estuda o modo como um fórum na Internet foi determinante para levar Yonlu ao suicídio, em 2006. Ao invés de encontrar ajuda nas redes, o jovem se deparou com sugestões que o encorajaram a passar à prática.

    Apesar de tocar em um tema delicado, Yonlu oferece uma construção livre e poética, explorando as letras melancólicas do artista, assim como suas ilustrações, para representar este universo íntimo. O AdoroCinema conversou com Thalles Cabral sobre o filme, que já está em cartaz nos cinemas: 

    Como foi o contato com Hique e a sua primeira leitura do roteiro?

    Thalles Cabral: Na primeira leitura eu estava em São Paulo. Fiquei muito feliz ao descobrir o roteiro porque, na verdade, era completamente diferente do que eu esperava. Ele conta a história do Yonlu atipicamente e acaba se transformando numa grande homenagem. O filme é reflexivo e poético como ele era. Pela fotografia e pela canção dele, a gente percebe toda a sensibilidade dele, e o projeto consegue compreender isso.

    Você se preocupou em parecer fisicamente com Yonlu?

    Thalles Cabral: Na primeira conversa que tive com o Hique, eu não achava que fosse interpretar o Yonlu de fato, porque sou meio velho. Na época eu tinha 22 anos, e o Yonlu tinha 16. Também existia a questão da aparência: ele tinha um cabelo meio encaracolado, e eu sou um pouco diferente, o que poderia ser uma barreira. Mas o Hique me garantiu que esse não seria o foco do projeto. Depois, mais para frente, ele confessou que achou meu olhar parecido, então a gente começou a trabalhar no filme de fato.

    Lembro que a pré-produção não foi tão grande. Eu tive acesso a algumas fotos do Vinícius, alguns vídeos que ele gravava dele mesmo. Era pouco material, bem raro, então eu tentei pegar alguns gestos que ele fazia frequentemente por esses arquivos pessoais, e tomei a liberdade que o Hique me deu para criar coisas que eu, como ator, achava interessantes para o personagem.

    De que maneira você se apropriou da música dele para o filme? 

    Thalles Cabral: Foi algo muito amplo. Eu estou acostumado com o violão, e canto músicas em versão inglesa também. Acredito que a maior dificuldade tenha sido aprender a maneira como ele tocava e reproduzir isso em cena. No filme, as cenas que estava tocando eram cenas de composição, então além de tocar, eu precisava encontrar a melodia, interpretar as letras. Neste sentido eu buscava ser fiel. Um dia eu estava no set e peguei de ouvido: ficava escutando ele cantar e cantava por cima, o que era tecnicamente difícil.

    A ação do filme se passa em 2006. De que maneira acredita que nossa relação com a Internet tenha mudado desde essa época?

    Thalles Cabral: Hoje a gente tem um pouco mais de consciência do que é a Internet como um todo. Não temos absoluta consciência, mas sabemos mais do que antes. Em 2006, quando aconteceu o caso do Yonlu, a Internet ainda era uma coisa nova. Antigamente ninguém pensava nisso, mas hoje em dia se fala um pouco mais sobre os cuidados que a gente pode ter, em questões de privacidade principalmente. É uma denúncia: a Internet pode ser maravilhosa mas também tem o lado ruim da coisa. A internet é o que a gente quer que ela seja.

    O filme tem a intenção de servir como um alerta sobre comportamentos depressivos e o uso abusivo da Internet?

    Thalles Cabral: Não acredito que existisse essa pretensão. Essa seria uma responsabilidade enorme, que não é interessante para o desenvolvimento criativo do filme. Mas a questão acabou vindo naturalmente, especialmente nos debates após a exibição de Yonlu nos festivais de cinema. É legal perceber que tanto jovens quanto adultos, e principalmente os adultos, interpretam o filme como um alerta. Num debate recente, uma senhora disse que o neto dela está sempre na Internet, e se sente protegido por estar em casa. Mas a internet é um mundo à parte, e o filme serviu de alerta para ela.

    Acredita que exista um público-alvo específico para o filme?

    Thalles Cabral: Na minha opinião, é um filme que dialoga bastante com um público jovem. Esse é o melhor aspecto: os são assuntos são típicos dos jovens, e o filme é feito de modo a se comunicar diretamente com eles. Percebo um engajamento muito grande: as pessoas se identificam com a história e querem assistir ao filme, querem falar sobre isso, então a gente vê como o tema não está sendo discutido tanto quanto deveria.

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