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    Tungstênio: Heitor Dhalia e Marcello Quintanilha falam sobre adaptar uma HQ tipicamente brasileira (Entrevista exclusiva)

    Filme estrelado por Fabrício Boliveira cruza tensões em uma Salvador marcada por desigualdades.

    Com histórias que se cruzam e uma sensação crescente de tensão, o drama Tungstênio transforma a efervescência da cidade de Salvador em uma verdadeira panela de pressão, uma câmara de ensaio sobre relações humanas em conflito. Com direção do cineasta Heitor Dhalia, de O Cheiro do Ralo e À Deriva, o longa-metragem adapta para os cinemas a HQ homônima do quadrinista Marcello Quintanilha em um projeto que chama a atenção por sua estética arrojada, boas perfomances de seu elenco principal e ótimos diálogos.

    "Eu sempre fui muito fascinado pelos escritores que tivessem sido capazes de transcrever a oralidade de maneira muito escorreita para as obras que escreviam", contou o autor do romance gráfico em entrevista para o AdoroCinema. Quintanilha conheceu a principal cidade da Bahia em 2003, quando foi convidado para escrever um livro sobre a primeira capital do Brasil, e da observação do cotidiano da cidade nasceu a ideia para a HQ Tungstênio (Editora Veneta), publicada em 2014 e premiada internacionalmente.

    Na trama, o estrondo de uma bomba oferece uma disruptura na vida dos protagonistas. Seu Ney (José Dumont) é um sargento aposentado saudosista dos tempos em que os militares tinham mais voz ativa na sociedade. Ao perceber que uma dupla de pescadores usava explosivos para capturar peixes, prática que configura crime ambiental, o idoso decide agir. Ele pede a ajuda do jovem Caju (Wesley Guimarães), seu improvável colega, mas o rapaz hesita em se envolver no caso. Depois de muito desentendimento, Caju liga para Richard (Fabrício Boliveira), um policial rude com fama de implacável que, assim que recebe o chamado, esquece que está de folga e corre para intervir no caso dos pescadores. Enquanto isso, Keila (Samira Carvalho), esposa de Richard, está insatisfeita em continuar vivendo este relacionamento marcado por brigas. Com este enredo, temas como exclusão social, violência urbana, relacionamentos abusivos, autoritarismo são aboradados em uma trama que trata de amarrar todas as suas arestas.

    "O filme um pouco retrata esse clima de intolerância onde você precisa de um pequeno evento para que toda essa normalidade da nossa vida cotidiana seja estilhaçada para um lugar de muita tensão. A gente tá vivendo isso em larga escala no Brasil", analisou Heitor, que imprimiu a atmosfera de apreensiva na tela usando apenas câmera na mão e ângulos e lentes nada convencionais.

    Os peculiares enquadramentos vistos no filme foram uma forma do cineasta recriar as composições visuais propostas por Quintanilha nas páginas de Tungstênio. "Eu tentei muito ser o mais fiel possível à obra, o que é um desafio gigante, porque você tem ao mesmo tempo uma referência claríssima, que é um quadro desenhado. Só que esse quadro desenhado não leva em consideração as questões naturais que um processo fílmico tem, né? No quadrinho o Marcelo desenha, ele muda a proporção, o mar tá sempre na mesma maré, do jeito que ele quer. Ele tem um controle mais absoluto desse universo que ele se propôs a construir. Num filme você não tem esse controle tão grande."

    Tungstênio entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 59 salas no último dia 21 de junho.

     

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