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    Olhar de Cinema 2018: Competição chega ao fim com perturbadora animação chilena; curtas locais expõem fissuras raciais

    Fantasmas políticos em A Casa Lobo.

    Se encaminhando para o fim nesta quinta-feira, a 7ª edição do Olhar de Cinema reafirmou o festival como um oásis de cinema provocador no circuito nacional de mostras. Último filme da competição de longas visto pelo AdoroCinema, a animação A Casa Lobo engrossa o caldo da experimentação com comentário social que compôs a programação, conectando ditadura chilena, Os Três Porquinhos e nazismo.

    Estreia em longa dos artistas visuais Cristóbal León e Joaquín Cociña, impressiona pelas elaboradas técnicas de produção, uma mistura de texturas, construções, deformações e interações que gera um desconforto (meio enfeitiçado) permanente, tão perturbador quanto a história contada.

    Com mais essa obra, pode-se dizer que a competição seguiu uma espécie de "grito irrealista" dialogando internacionalmente com o tema da Mostra de Tiradentes deste ano. Foram dias de narrativas factuais com um quê (ou dois, três...) de fantasia, como a menina em busca da caneta mágica em Ansiosa Tradução, o diretor empacado em meio a virilidade dos Homens que Jogam, o assalto entediante de A Floricultura, a estrada sem preconceitos de Fabiana, a morte prorrogada de O Visto e o Não Visto e a rebelião atarantada de Sol Alegria. Escapismo fundamental, desvio de alerta, chamados.

    Outro destaque da reta final do Olhar foi a segunda parte da Mirada Paranaese, dedicada a produções locais. A sessão de curtas foi aberta com o simples Mergulho do Olho (de Haroldo Castro Alves), exercício dedicado à submersão e extenuante dificuldade de uma câmera em voltar para a superfície após caixote na praia; inflamou com [Des]Prendidas (de Ana Esperança e Fábio Allon), que debate a relação de mulheres negras com seus cabelos crespos a partir de testemunhos carregados de emoção, mas é na verdade um episódio de série; atingiu o ápice em termos técnicos no sombrio Vazante (de Fábio Allon de novo); e acabou com a bonita mensagem e limitado cinema de Primavera de Fernanda (de Débora Zanatta e Estevan de la Fuente), estrelado pela trans Laysa Machado.

    Bastante irregular em termos artísticos, o programa foi especialmente desconcertante por exibir na sequência do empoderador [Des]Prendidas um curta protagonizado por grupo de crianças (brancas) que em determinada cena zombam ao encontrar suposto "despacho de macumba". Pior do que o choque escancarador da completa falta de empatia ou mesmo preocupação com questões raciais para além do "projetar filme de preto", foi ouvir a maioria do público presente na sala gargalhando. O espaço negro não foi conquistado ali. Foi cedido brevemente e a ilusão de mudança de status quo imediatamente trucidada. Apenas parem com esses filmes de nome Vazante... 

    Por fim, o longa-metragem O Bem-Aventurado, de Tulio Viaro, apresentou uma brejeira comédia dramática religiosa em que atores parcialmente escondidos manipulam expressivos bonecos. Encantador visualmente e muito bem dublado, o filme - baseado no conto A Conversão do Diabo, de Leonid Andreiev -, no entanto, não tem trama para sustentar os 100 minutos de duração.

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