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    Oscar 2018: As controvérsias dos indicados ao prêmio de melhor filme

    Plágios? Falta de precisão histórica? Banimentos? Condescendência com o racismo? Acusações de "pedofilia"? Tem polêmica para tudo quanto é gosto.

    Corra!

    Universal Pictures

    Indicado aos prêmios de melhor filme, melhor roteiro original, melhor direção e melhor ator, Corra! fez história ao propor uma sátira ácida e inesquecível sobre as relações raciais nos Estados Unidos.

    O diretor Jordan Peele, que estreou como cineasta no bem sucedido projeto, propõe o uso de convenções do cinema de terror para traçar um comentário sobre racismo e supremacia branca. Por mais que o filme tenha momentos de pura ironia, o tema é sério. Por conta disso, causou estranheza quando a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood indicou o longa-metragem ao prêmio de melhor filme - comédia ou musical o Globo de Ouro. Segundo informações da Entertainment Weekly, foi a Universal Pictures, distribuidora do longa, e a Blumhouse, produtora, que optaram por inscrever Corra! entre as comédias e não entre os dramas.

    "O tema do filme não é engraçado", reagiu Peele. "Muitos amigos negros me disseram, 'Cara, este é o filme que nós queríamos há tempos e você foi lá e o fez'. Isso é algo muito poderso. A controvérsia vem de colocá-lo em uma caixa menor do que a que ele merece." O diretor também disse que "Corra! é um documentário", relacionando a importância do tema que explora no longa com a vivência de milhões de pessoas negras nos Estados Unidos. "O problema é que este não é um filme fácil de colocar nas caixinhas de gênero", avaliou. Peele diz que seu filme "subverte os ideais de todos os gêneros" e que inicialmente conceituou o longa-metragem como um "thriller social".

    Nesta matéria sobre controvérsias, vale lembrar também de uma "não-controvérsia". O ator Samuel L. Jackson se perguntou como seria Corra! se o protagonista fosse afro-americano em um programa de rádio. Daniel Kaluuya, que vive o protagonista Chris, é um ator britânico nascido em Londres e filho de imigrantes ugandeses. John Boyega é britânico e pareceu ter levado o comentário de Jackson para o lado pessoal. "Negros britânicos versus afro-americanos. Um conflito estúpido para o qual nós não temos tempo", escreveu no Twitter o  Finn da franquia Star Wars.

    Para Peele, não houve nenhuma controvérsia e a imprensa se aproveitou do caso em suas manchetes. "Tudo o que eu li foi que ele [Jackson] fez uma ótima pergunta, uma ponderação. Eu não me ofendi. Eu também me fiz a mesma pergunta. O que eu acho interessante é que a mídia pega uma história como essa e coloca as pessoas negras umas contra as outras para instigar algo que nem está acontecendo. Eu só tenho amor por Samuel L. Jackson – ele apenas fez uma pergunta."

    Há ainda, especialmente nos think tanks conservadores e associados a chamada alt-right dos Estados Unidos, interpretações que colocam Corra! como um filme racista contra brancos, mas isso não é polêmica ou controvérsia, é só ignorância ou má fé mesmo.

    Dunkirk

    Warner Bros./Ratpac Entertainment

    Christopher Nolan revisitou um evento da Segunda Guerra Mundial que se tornou lendário para a história do Reino Unido. A Operação Dínamo, também referida como Milagre de Dunquerque, foi um evento lembrado como um êxito militar britânico. Esse êxito não envolve a vitória em um confronto, mas sim uma evacuação histórica de mais de 300 mil soldados que estavam debaixo fogo nazista no norte da França.

    A proposta cinematográfica de Nolan em Dunkirk é investir pouco nos diálogos e muito nas imagens e sons da guerra, fazendo alguns críticos apontarem para a obra como uma tentativa realista e sensorial de inserir o espectador no conflito.

    Entretanto, um artigo publicado no site do jornal The Guardian acusa o filme de ser "uma fantasia brexitiana descarada" que ignora a presença de soldados não-brancos entre as tropas britânicas. "[O filme] elimina as empresas do Royal Indian Army Services Corp, que não só estavam na praia, como foram encarregadas de transportar por terra suprimentos que eram inacessíveis pela Força Expedicionária Birtânica. E também ignora o fato de que em 1938, os lascares — em sua maioria do sul asiático e do leste africano — tinham a contagem de um para quatro tripulantes nos navios mercantes britânicos, e, portanto, participaram da evacuação em um grande número".

    Me Chame Pelo Seu Nome

    Sony Pictures Classics

    Luca Guadagnino colecionou elogios com Me Chame Pelo Seu Nome, drama romântico sobre amadurecimento e a descoberta do primeiro amor. O filme completa a temática trilogia do desejo iniciada em Um Sonho de Amor (2009) e Um Mergulho no Passado (2015) e, certamente, retrata momentos íntimos dos protagonistas.

    O relacionamento do adolescente Elio (Timothée Chalamet) com Oliver (Armie Hammer), um homem mais velho, é retratado de forma afetuosa pelo longa-metragem, mas a Fox News não gostou. Comentaristas da emissora americana conservadora consideraram que as quatro indicações ao Oscar recebidas pelo filme são um sinal da "hipocrisia" de Hollywood. De acordo com os articulistas de direita, o filme "glorifica o ato sexual com menores de idade". No filme, Elio tem 17 anos e Oliver tem 24.

    No Twitter, Hammer foi atacado por um usuário e se defendeu. "Nossa, você fez um filme sobre pedofilia? Você é pedófilo? Você promove essa depravação? Eu era seu fã", escreveu uma pessoa que se identificava como veterana de guerra. "Voce sabia que você vive em um estado em que a idade de consentimento é 16 anos, não é? Ok, então agora cale a boca. E obrigado por seus serviços para o nosso país." Na Itália, onde Me Chama Pelo Seu nome se passa, a idade de consentimento para relações sexuais é de 14 anos.

    Hammer também se envolveu em outra discussão na rede social para defender o projeto que lhe rendeu indicações ao Globo de Ouro, Critics' Choice Award e Independent Spirit Award. O ator James Woods disse que o longa-metragem com ênfase no amor gay "ultrapassava as barreiras da decência". O intérprete de Oliver respondeu: "Não foi você que namorou uma pessoa de 19 anos quando tinha 60?".

    The Post – A Guerra Secreta

    Twentieth Century Fox Film Corporation

    Perto dos demais indicados ao Oscar de melhor filme, The Post - A Guerra Secreta foi o que menos atraiu polêmicas. Tom Hanks disse que não estava interessado em realizar uma sessão do longa-metragem na Casa Branca. Sessões do tipo costumavam acontecer durante a administração de Barack Obama. A fala de Hanks não repercutiu muito na imprensa nem iniciou um grande debate sobre o assunto.

    O filme de Steven Spielberg celebra o valor do jornalismo investigativo contra os abusos do poder. Baseado em fatos reais, o longa se passa nos anos da admistração de Richard Nixon. Assim como Donald Trump, Nixon viveu uma guerra contra a imprensa de seu país. O magnata que virou presidente também não deve gostar muito da ideia de acompanhar uma sessão do longa-metragem em Washington D.C., visto que ele considera Meryl Streep "superestimada".

    The Post foi banido no Líbano por Spielberg ser judeu e ter feito um filme sobre o Holocausto, A Lista de Schindler.

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