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    10 filmes tão ruins, mas tão ruins que viraram clássicos cults

    Conheça o lado Z da sétima arte!

    CINDERELA BAIANA

    Não há nenhum musical na história da sétima arte como Cinderela Baiana. Aliás, não há nada como este filme. O longa estrelado pela dançarina de axé Carla Perez - e livremente baseado em sua trajetória de vida, que brincadeiras à parte, é uma verdadeira história de superação - desafia o espectador: "tente me assistir até o fim e falhe miseravelmente!". Não se pode dizer que a premissa seja pífia - ainda que realmente seja tão dolorosa quanto ter problemas estomacais em um dia de verão -, mas a principal questão é que, como todo camp que se preze, Cinderela Baiana é ingênuo o suficiente para tentar ser sério (em alguns momentos). Quanto mais o diretor Conrado Sanchez tenta acertar, pior fica a situação. Mas como não há nada tão ruim que não possa piorar, os dois "destaques" do filme realmente são a própria Perez - que interpreta uma versão semi-messiânica de si mesma que salva crianças carentes e liberta passarinhos engaiolados através da dança - e o roteiro, sutil como um bloco de concreto. Como atriz, Perez é a melhor dançarina de todos os tempos; e a trama, por sua vez, é tão improvável que parece ter sido escrita por 10 pessoas diferentes que não se conheciam, não tinham qualquer comunicação entre si e que nunca ouviram falar de algo chamado cinema. E como todo musical que se preze, Cinderela Baiana também traz canções que não saem da cabeça - "Quantas noites fiquei acordada esperando por você, amor..." - e uma apoteótica cena final: a moralizadora sequência de dança ao som de "Pau Que Nasce Torto", do É o Tchan. A única coisa que deu certo aqui é que Cinderela Baiana foi um dos primeiros trabalhos de Lázaro Ramos, que usou o salário que recebeu para se matricular em uma escola de teatro.

    MAMÃEZINHA QUERIDA

    Faye Dunaway intepreta Joan Crawford na adaptação do polêmico livro escrito pela filha da última, que retrata os supostos abusos parentais cometidos por uma das maiores estrelas de Hollywood entre as décadas de 30 e 60, uma mulher repleta de problemas psicológicos, culpas, remorsos e demônios internos. Em suma, a personagem complexa que toda atriz sonha em interpretar. O que poderia dar errado? Tudo, como Mamãezinha Querida bem faz questão de provar. Apesar da ambientação perfeita, do cuidado da cenografia, da incrível semelhança entre atriz e personagem e do claro desejo de fazer jus à personalidade "maior-que-a-vida" e à dramática trajetória de vida da atriz - Crawford, como inúmeras outras estrelas, foi prejudicada pelo machismo e sexismo da indústria e da sociedade estadunidenses -, nada salva Mamãezinha Querida. Enquanto todos os atores buscam um certo naturalismo e o diretor almeja o melodrama e um certo terror psicológico à la O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, Dunaway funciona em outra frequência. Andando pelos corredores da imensa mansão como Crawford, a atriz parece ter saído diretamente de uma encenação de uma tragédia grega, criando uma vilã que faria até Lady Macbeth sentir medo. Nos seus primeiros 40 ou 50 minutos, Mamãezinha Querida chega a iludir seu espectador; no entanto, logo chega a sequência mais infame, onde Dunaway perde completamente o controle quando encontra um cabide de arame no guarda-roupa de sua filha, escondido entre os cabides de madeira. "SEM. CABIDES. DE ARAME!!!". Daí para frente, é só ladeira abaixo da forma mais assustadora possível, e o clímax é um verdadeiro show de horrores no pior sentido da expressão: Mamãezinha Querida é um dos piores feel bad movies - aqueles que deprimem - já feitos.

    FIM DOS TEMPOS

    Poucas coisas são tão dolorosas e criminosas quanto uma péssima ideia filmada por um diretor de talento. Não restam dúvidas de que M. Night Shyamalan seja um bom cineasta: afinal de contas, ele é o responsável por obras como O Sexto SentidoCorpo Fechado e Fragmentado. Contudo, entre 2006 e 2014, o realizador parece ter operado com um saco de batatas fritas no lugar de seu cérebro: esta é a única explicação plausível para que o mesmo diretor dos filmes supracitados tenha lançado a catástrofe que é essa obra-prima às avessas, Fim dos Tempos. A julgar pela premissa, Shyamalan provavelmente quis rivalizar com Troll 2, uma vez que os vilões de Fim dos Tempos são... plantas. O plano é simples: a Mãe Natureza quer se vingar dos seres humanos e, para isso, decide utilizar samambaias, árvores e gramados inteiros para executar sua retribuição. As plantas "terroristas", então, liberam quimicamente uma misteriosa doença que faz com que todos os infectados desejem se suicidar. E aí entra Mark Wahlberg, na pior performance cênica de sua vida - e isso é dizer muito, levando em consideração que ele é a nova estrela da franquia Transformers. Interpretando um professor que mais parece um segurança de porta de boate, o ex-rapper contagia todo seu elenco com sua habilidade, especialmente a tenebrosa Zooey Deschanel, que apresenta a profundidade psicológica de uma flor de plástico. Fim dos Tempos é o bem-sucedido resultado de um esforço coletivo para criar o pior longa possível: como terror, é absurdo; como comédia involuntária, é um trabalho de gênio - a melhor cena, sem sombra de dúvidas, é aquela em que Wahlberg começa a conversar com uma samambaia no maior estilo "nós viemos em paz, tenha piedade de nós". É aí que o espectador entende que Shyamalan não foi o único a perder sua sanidade...

    Fim dos Tempos
    Fim dos Tempos
    Data de lançamento 13 de junho de 2008 | 1h 31min
    Criador(es): M. Night Shyamalan
    Com Mark Wahlberg, Zooey Deschanel, John Leguizamo
    Usuários
    2,9
    Assista agora em Star +

    SHOWGIRLS

    Não acredite naquele seu conhecido que diz que Showgirls é uma obra-prima: o apelativo filme de Paul Verhoeven definitivamente não é o trabalho genial sobre o lado mais sórdido e sexista do show-business de Las Vegas que muitos acreditam ser. Como afirma Sontag, "o Camp que se reconhece como Camp (Camping) em geral é menos prazeroso" - e não poderia existir verdade maior sobre Showgirls, que teria sido concebido por Verhoeven como um filme ruim de maneira intencional. O realizador holandês, conhecido por suas obras subversivas, é o mesmo responsável por aclamados filmes como Instinto Selvagem e Elle; no entanto, todas as características elogiadas em ambos os suspenses, incluindo a análise do sexo como forma de exercício do poder, não funcionam em Showgirls. É evidente que é possível rir da vulgaridade hilária deste filme brega e equivocado - Elizabeth Berkley, a protagonista, recebe a oportunidade de dizer alguns dos piores diálogos dos anos 1990; seus colegas de elenco ficam com o resto -; da cena de sexo entre duas pessoas que parecem estar sendo eletrocutadas; dos erros básicos de continuidade; e do inexplicável fetiche de Verhoeven por unhas bem pintadas - sério, o que diabos acontece ali com ele e esse lance do esmalte? Entretanto, quando se analisa com cuidado o que o filme transmite, há certamente uma feiura incontornável que os hilários diálogos e as sofríveis atuações não conseguem apagar. Ao invés de desconstruir os estereótipos que teoricamente almeja denunciar, Showgirls acaba reforçando-os ainda mais através de uma perspectiva perversa: debaixo de uma máscara "feminista", há uma história misógina - crítica esta que Elle também sofreu em 2016, ainda que em uma intensidade menor por causa da qualidade dos trabalhos de Isabelle Huppert e de Verhoeven. De certa forma, Showgirls tem êxito em sua suposta auto-paródia porque, essencialmente, é idêntico ao mundo que retrata: tão gratuito, feio e degradante quanto um show de striptease. Por outro lado, esta "benção" também é sua maldição.

    Showgirls
    Showgirls
    Data de lançamento 14 de junho de 1996 | 2h 11min
    Criador(es): Paul Verhoeven
    Com Elizabeth Berkley, Kyle MacLachlan, Gina Gershon
    Usuários
    2,7
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