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    10 filmes baseados em escândalos políticos

    Na onda de Polícia Federal, uma investigação sobre a história do cinema.

    Hoje, mais de três anos após seu início, é seguro dizer que a Lava Jato mudou a história do Brasil.

    A operação anti-corrupção, uma das maiores de todos os tempos, já investigou boa parte dos mais importantes empresários e políticos — inclusive o presidente em exercício —, prendendo alguns deles; invadiu as manchetes dos jornais brasileiros; tornou-se tema principal de conversas e debates acalorados nas redes sociais, nos almoços de família e na pausa para o café; e, enfim, chegou aos cinemas.

    Polícia Federal - A Lei é Para Todos, longa dirigido por Marcelo Antunez (Um Suburbano Sortudo), ficcionaliza os estágios iniciais da Operação Lava-Jato. Acompanhando os esforços de uma equipe de policiais federais para prender corruptos e corruptores, o suspense retrata os primórdios do maior escândalo político da história nacional.

    Aproveitando a temática de Polícia Federal, o AdoroCinema decidiu preparar uma lista com 10 dos mais influentes e simbólicos filmes baseados em escândalos que envolvem — direta ou indiretamente — grandes figuras políticas da vida real:

    SNOWDEN - HERÓI OU TRAIDOR

    Para começo de conversa, o escândalo mais recente: os atos de espionagem conduzidos pelo governo estadunidense contra milhões de cidadãos norte-americanos e as principais lideranças políticas internacionais.

    Em 2013, Edward Snowden, um funcionário terceirizado da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, descobre uma assombrosa tecnologia de coleta de dados. À época, o governo Obama até tentou se defender, mas os documentos confidenciais vazados por Snowden demonstraram que não havia sintonia fina alguma no ato de vigilância estadunidense: todos os dados de todos os cidadãos foram registrados para caso precisassem serem investigados. É como se o governo dos Estados Unidos tivesse aplicado a fórmula do velho ditado: é melhor prevenir do que remediar — mesmo que, para isso, você precise ir contra os maiores preceitos de sua constituição e tenha que espionar seus cidadãos.

    Este escândalo, cinematográfico por natureza, não poderia ser levado às telonas por outro cineasta senão Oliver Stone. Afinal de contas, poucos diretores esmiuçaram tanto a política dos Estados Unidos quanto ele. Sempre polêmico e dono de obras como JFK: A Pergunta que Não Quer Calar e Assassinos por Natureza, Stone emprega seu estilo visual característico para criar Snowden - Herói ou Traidor, um thriller político muito atual que recria com perfeição a trajetória do maior whistleblower da história.

    Protagonizado por Joseph Gordon-Levitt, que praticamente se funde à persona de Snowden, e dramatizando as cenas reais registradas por Laura Poitras (Melissa Leo no longa de Stone) em Cidadãoquatro, Snowden - Herói ou Traidor é um retrato da política estadunidense e, principalmente, dos tempos em que vivemos, onde a vigilância e o controle exercidos pelas grandes corporações e governos nacionais atingem os detalhes mais íntimos da população. Eliminada a distinção entre público e privado, a sociedade ocidental finalmente cumpre seu potencial distópico: é isto que Edward Snowden revelou ao divulgar os documentos confidenciais da Agência de Segurança Nacional e é este o clima que Stone consegue retratar em Snowden - Herói ou Traidor. Confira a crítica do AdoroCinema.

    BEM-VINDO A NOVA YORK

    Todos os materiais promocionais e a própria trama de Bem-Vindo a Nova York fazem questão de frisar que esta é uma história ficcional. Que o filme não narra a história de Dominique Strauss-Kahn, político e ex-ministro francês que foi acusado de abusar sexualmente de uma camareira em um hotel nova-iorquino.

    Entretanto, isto não passa de uma manobra conduzida pelos produtores do drama para escapar de possíveis processos judiciais movidos por DSK. Portanto, se você já viu o filme ou se já conhece um pouco do cinema do realizador e roteirista Abel Ferrara (Vício Frenético), tem plena consciência de que Mr. Devereaux (Gérard Depardieu) é, sem sombra de dúvidas, Dominique Strauss-Kahn. E aqueles que não estavam por dentro, agora já estão.

    Antigo presidente do Fundo Monetário Internacional, Strauss-Kahn perdeu todas as suas chances de disputar a eleição presidencial de 2012 — vencida por seu colega, o também socialista François Hollande — quando o caso de abuso ganhou as manchetes dos principais periódicos internacionais. Ainda que não saibamos exatamente o que se passou no dia 14 de maio de 2011 — posteriormente, a declaração da vítima foi descartada e o político foi solto —, Abel Ferrara utiliza seu firme, violento e impiedoso estilo cinematográfico para preencher as lacunas da realidade e reproduzir a personalidade de Strauss-Kahn — e de seus pares corruptos — nas telonas.

    No fim das contas — como bem aponta a avaliação 4,5 estrelas do AdoroCinema —, pouco importa se os eventos narrados aconteceram ou não, de fato. O que é importante em Bem-Vindo a Nova York é o retrato da gânancia de políticos como Strauss-Kahn, corruptos cuja sede de sexo, poder e dinheiro os tornam capazes de fazer tudo o que for preciso para conseguirem o que desejam. Bem-Vindo a Nova York é um filme provocante, profundo e necessário, protagonizado por um corajoso e excessivo Depardieu. Destaque também para a grande performance de Jacqueline Bisset (A Noite Americana).

    O CASO MATTEI

    Em O Caso Mattei, o diretor Francesco Rosi (Cadáveres Ilustres) explora a ascensão e a queda (literal) de uma das figuras mais peculiares e influentes da história recente da Itália, o empresário Enrico Mattei.

    Responsável por transformar a ENI (Ente Nazionale Idrocarburi) na maior empresa privada da Itália — conhecida como um "Estado dentro do Estado", tamanho o poder da companhia e de Mattei —, o democrata cristão morreu em um misterioso acidente de avião. Ocorrida no final de 1962, a suspeita derrocada da aeronave e sua consequente colisão motivaram uma longa investigação policial que chegou a comprovar que o avião foi sabotado. Contudo, a identidade dos culpados permanece uma incógnita até os dias de hoje: segundo as especulações, a Máfia italiana seria a responsável pelo atentado.

    Portanto, o brilho de O Caso Mattei reside no fato de que seu cineasta decidiu investir na dúvida que continua a pairar no ar. Empregando inúmeras técnicas cinematográficas, Rosi quebra a quarta parede, torna-se personagem do próprio filme e mistura ficção e documentário para explorar as complexas relações entre a esfera pública e a privada. Partindo do imenso escândalo político que foi a morte de Mattei, Rosi transcende o registro biográfico e analisa, profundamente, a corrupção que assolava a política italiana.

    Contando com um inspirado Gian Maria Volontè (Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita) no papel principal, Rosi cria um retrato impressionista do controverso Enrico Mattei. E, de quebra, consegue traduzir muito bem o mundo da política para as telonas: uma área cinzenta onde nada é o que parece ser, onde segredos obscuros movimentam Estados inteiros e onde toda e qualquer verdade pode ser manipulada e virada do avesso até se tornar matéria da ficção. O Caso Mattei não ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes à toa.

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