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    Funcionário do Mês: Diretor não se surpreende com o recorde de bilheteria histórico da comédia italiana (Exclusivo)

    Gennaro Nunziante fala sobre o que cerca a história do funcionário público que faz de tudo para manter o cargo. Da força da sátira à reflexão crítica da inteligente comédia.

    Desde a imigração europeia para o país, nos séculos 19 e 20, cresceram as semelhanças e a identificação entre Brasil e Itália. Esses laços estreitos se refletem na culinária, nos costumes e, já se pode dizer, no gosto cinematográfico do público. Assim como as comédias se destacam no cinema nacional, o diretor Gennaro Nunziante e o comediante Checco Zalone se reuniram pela quarta vez para tornar Funcionário do Mês o maior sucesso de todos os tempos na Itália.

    Para surpresa de todos, menos da dupla.

    "Sinceramente, não nos surpreendeu. Sabíamos que o filme tinha grande potencial. E não por presunção, mas porque tínhamos feito um bom trabalho", disse o cineasta, em entrevista exclusiva ao AdoroCinema via e-mail. Gennaro Nunziante é conciso, objetivo. Não foge a pergunta alguma, e fala sobre sucesso, a mescla de comédia com uma boa dose de reflexão, crítica e muito mais, do poder da sátira e o momento do cinema italiano à própria existência.

    O sucesso de Funcionário do Mês na Itália, aliás, tem tudo para se repetir no Brasil. Em meio a boas piadas, de chorar de rir, enxergamos a realidade brasileira: de um lado, um homem que venera as facilidades e a segurança do funcionalismo público, e fará de tudo para manter seu emprego seguro; de outro, um governo que trata pessoas como estatística, elemento dispensável frente aos números.

    Saiba mais na entrevista abaixo e depois assista à ótima estreia da semana nos cinemas brasileiros.

    O desafio de uma boa comédia

    "Temos uma maravilhosa tradição de comédia italiana que nos ensinou a conciliar profundidade e agilidade, buscando um equilíbrio que me parece sempre muito difícil de realizar."

    O pior tipo: o político burocrata ou o empregado preguiçoso?

    "Eu enxergo toda a humanidade melhor do que eu. Então, eu e Luca [nome real de Checco Zalone] tentamos contar as nossas hipocrisias. Somos sempre nós os sujeitos dos nossos filmes. Somos nós que, em alguns momentos, somos estúpidos burocratas ou sonhadores da segurança de um cargo público. O dedo está sempre apontado para nós mesmos."

    A moral da história

    "A moral não me espanta pois, como dizia, eu sou o sujeito a quem a moral se volta. Não precisa ter medo de julgar a si mesmo tentando buscar uma válvula de escape da nossa inércia, das nossas seguranças, dos nossos preconceitos."

    Como lidar com um protagonista preconceituoso

    "Talvez a comédia seja a única forma que permite dizer coisas terríveis fazendo sorrir, de outra forma seria comicidade consolatória ou, no máximo, irreverente."

    Você conheceu pessoas como Checco?

    "Eu me conheci quando terminei um filme e tive vontade de me sentar sobre os louros, nunca mais arriscar nada, ligar o piloto automático e seguir caminhando. Eu sou o sujeito analizado, eu sou o italiano que não suporto."

    Checco é brasileiro, talvez universal — sabia?

    "Em um mundo atravessado por todos os tipos de incerteza, é claro que existe a universalidade do emprego público. É por isso que nosso filme é do mundo, não só italiano."

    O poder da sátira

    "Quando a sátira é poder, é muito pior que o poder estrito. Tem um maravilhoso livro de Maurice Blanchot intitulado "A Escritura do Desastre", um raríssimo exemplo de lucidez filosófica sobre o poder da nossa língua. A sátira é uma linguagem presunçosa, de quem crê ser melhor, e é por isso que um bom impedimento para tudo isso é julgar a si mesmo, fazer sátira sobre si mesmo."

    Os prós e contras do sucesso

    "O sucesso não deve ocupar nem um instante da vida. A mim interessa caminhar um percurso ideal. Os resultados positivos se celebram com alegria, mas depois a gente volta ao estúdio para trabalhar, porque o caminho é longo, muito longo."

    A comédia italiana e mundial

    "Acho que não é uma fase boa para o nosso país, mas vale reconhecer que o melhor momento da nossa comédia coincidiu com o fato de muitos literatos de nível terem, por dinheiro, conciliado uma linguagem popular à do cinema. Hoje há muito roteiro e pouca filosofia, e muito menos poesia."

    Explicando o título original...

    "Quo Vado? [referência à expressão latina Quo Vadis?] é uma pergunta a mim mesmo: aonde estou indo? Também se o meu filme irá faturar milhões de euros o ou que fazemos nesse mundo. É uma pergunta cotidiana, uma inquietação necessária. Caso contrário, você se acomodará num emprego seguro.

     

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