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    Mostra de Tiradentes 2016: Um filme potente sobre o nascimento, um filme fraco sobre o luto

    O Que Eu Poderia Ser Se Eu Fosse e Estamos Vivos foram apresentados pela primeira vez em São Paulo.

    Mesmo após o fim da Mostra de Tiradentes em Minas Gerais, o público de São Paulo tem a oportunidade de assistir à maioria dos filmes selecionados na versão local da mostra - incluindo algumas produções inéditas, que nem mesmo foram exibidas no evento original. O AdoroCinema esteve presente em duas destas pré-estreias: O Que Eu Poderia Ser Se Eu Fosse, de Bruno Jorge, e Estamos Vivos, de Filipe Codeço.

    Dupla gestação

    O documentário O Que Eu Poderia Fazer Se Eu Fosse acompanha a gravidez da fotógrafa Fernanda Preto, esposa do diretor Bruno Jorge. O cineasta expõe as suas inseguranças quanto à vinda do bebê e às possíveis transformações na vida do casal. De modo direto, mas respeitoso, ele retrata os conflitos com a sogra, a dor relacionada à morte da cunhada e suas dúvidas sobre o próprio processo de criação do filme.

    Embora às vezes mire em temas amplos demais, o filme não perde seu foco, fazendo um belo retrato humano e artístico. Nós conversamos com Bruno Jorge sobre o projeto: "São duas gestações, de certa forma, e eu queria entender onde elas conversavam, até que ponto uma ajudaria a outra a ser bem-sucedida em seus propósitos. Existia um respeito e uma certa distância ao entender onde era o papel dela, e onde era o meu, como diretor e como pai. Aos nove meses, a mulher já é mãe, mas o pai ainda não. Nós homens cumprimos uma função um pouco decorativa, amando aquela barriga, mas no fundo não sentimos nada de modo orgânico ou fisiológico como as mulheres. Por isso, desde o início, eu mantive a distância, um olhar silencioso, para tentar compreender as mulheres".

    Ele completa: "No meu caso, eu roteirizo, dirijo, monto, e como eu acumulava tudo isso, sem obrigação cronológica, acabava fundindo as funções. Eu tinha ideias, escrevia, fazia imagens, assistia, editava, via o que funcionava ou não... Busquei uma cronologia deste processo, uma tentativa de encontrar a linguagem. Muitos planos têm um frescor porque acabo manipulando as imagens de acordo com minha configuração gráfica, mas o que ocorria lá dentro, eu tinha que deixar ao imponderável. O que eu pegava destes elementos eram as coisas mais orgânicas. É um limite entre a realidade e a ficção".

    Caldeirão em plano sequência

    O tom contido e intimista de O Que Eu Poderia Ser Se Eu Fosse encontra seu oposto em Estamos Vivos, de Filipe Codeço. Nesta ficção, uma família se reúne após a morte do pai, dando vazão a diversos traumas passados. O cineasta filma o ambiente doméstico como um caldeirão, encontrando o clímax nos gritos e brigas entre eles. É uma pena que o registro escolhido seja o da histeria, sem espaço para silêncios ou reflexões.

    Mas talvez o que mais chame a atenção neste projeto seja o seu formato: a história é registrada inteiramente em plano sequência, pelo ponto de vista subjetivo de uma criança autista de sete anos de idade. O recurso é ousado e curioso, mas além de parecer inverossímil - nenhuma criança teria tamanho domínio cinematográfico - acaba por monopolizar a imagem. O formato chama tanta atenção para si mesmo que minimiza a importância de qualquer elemento da trama.

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