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    Cine Ceará 2015: O belo Cavalo Dinheiro e o inusitado Virgindade se destacam na competição oficial

    O penúltimo dia do festival cearense trouxe boas surpresas ao público.

    Depois de causar forte impressão no Cine PE 2015 (levando quatro prêmios), o drama português Cavalo Dinheiro foi apresentado na noite de 22 de junho no Cine Ceará 2015. O filme do diretor Pedro Costa retrata a revolução social nas ruas de Lisboa, enquanto dois pacientes em um hospital conversam sobre as suas histórias de vida. 

    O diretor de fotografia, Leonardo Simões, representou a obra no festival. Pragmático e meticuloso como o próprio Costa, Simões afirmou: "Eu não me considero um artista, me considero um técnico. Não digo para me diminuir, mas acho que as imagens são criação dos diretores". Comentando o rigor do cineasta, ele confessou ter feito mais de cem vezes a mesma cena (em Juventude em Marcha) até Pedro Costa ficar convencido, e que jamais escolheu por si próprio um enquadramento nos filmes do diretor - algo que lhe convém muito bem.

    Esta estrutura em perfeito sincronismo se reflete no belíssimo filme, que traz imagens inesquecíveis no formato meio quadrado de tela (4:3), combinando o estetismo com a abordagem humanista. Leia a nossa crítica.

    Juventude em crise

    Quanto aos curtas-metragens em competição, talvez essa tenha sido a melhor noite do festival até o momento. Com exceção de dois trabalhos em fase de finalização, que não concorrem a prêmios (Silêncio e Flores, ambos de ritmo arrastado e deficientes em termos de atuação), tanto Virgindade quanto Feio, Velho e Ruim e Como São Cruéis os Pássaros da Alvorada possuem elementos muito interessantes. Curiosamente, todos giram em torno de protagonistas jovens questionando a sua identidade:

    Virgindade, de Chico Lacerda, mostra as primeiras lembranças sexuais do diretor e narrador, desde a infância. No momento em que o som descreve momentos de excitação sexual, a imagem contenta-se em cenas normais do trânsito na cidade, deixando ao espectador o trabalho de compor suas imagens mentais. Quando o filme exibe uma pequena galeria de corpos, a descrição sexual é interrompida.

    Tudo é muito bem pensado para tornar o sexo e a (homo)sexualidade naturais, como parte integrante da formação do indivíduo e da passagem à fase adulta. Não há sinais de busca pelo escândalo, ou de fetichismo: o sexo torna-se algo orgânico, o que é bem difícil de obter em uma arte tão voyeurista quanto o cinema. Bem-humorado, reflexivo e esteticamente bem resolvido, este é provavelmente o melhor curta-metragem da competição até agora.

    Como São Cruéis os Pássaros da Alvorada já tinha se destacado no Cine PE, e retorna no Cine Ceará. A grande qualidade do filme é seu humor absurdo, minimalista, obtido tanto pela construção do roteiro (a piada dos mineiros, o peixe no banheiro) quanto pelo uso criativo da montagem e do som. O personagem principal, um adolescente errando pela cidade, não é plenamente contextualizado para o espectador, mas o diretor João Toledo tem consciência do quebra-cabeças que constrói, e que não busca solucionar. 

    Feio, Velho e Ruim ataca a importante questão do egocentrismo e dos relacionamentos digitais na era da Internet. O diretor Marcus Curvelo coloca-se em cena sem muitos pudores, explorando com acidez os discursos falsos nas redes sociais e nos sites de relacionamento, criando um bom retrato da solidão na metrópole. É uma pena que, logo quando a narrativa se torna mais interessante, o curta se interrompa de modo abrupto.

    O último dia da mostra competitiva traz o longa-metragem Crumbs e os curtas-metragens A Felicidade Chega aos 40, Muriel e O Lugar Mais Frio do Recife.

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