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    Equipe e elenco falam de Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios

    A atriz Camila Pitanga, o diretor Beto Brant e outros nomes do elenco comentam o filme que estreia sexta-feira, 20 de abril, nos cinemas.

    Nesta sexta-feira, 20 de abril, estreia nos cinemas Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, drama dirigido por Beto Brant e Renato Ciasca, sobre um triângulo amoroso entre uma ex-prostituta (Camila Pitanga), um fotógrafo (Gustavo Machado) e um pastor (Zécarlos Machado). O filme, baseado no livro de sucesso escrito por Marçal Aquino, conquistou diversos prêmios em festivais, como o prêmio de melhor atriz para Camila Pitanga no Festival do Rio e o prêmio de melhor filme nacional na Mostra de São Paulo.

    Num bate-papo descontraído, a equipe e o elenco conversaram sobre a origem do projeto, a escolha dos atores, as dificuldades de filmagem, a adaptação literária... Eles vieram inclusive acompanhados de Dinael Cardoso, um militante paraense que pôde comentar a situação política e social no norte do país, onde se passa o filme. Confira abaixo algumas das melhores ideias vindas dos amigáveis lábios do diretor Beto Brant, Camila Pitanga, Zécarlos Machado, Gustavo Machado e Dinael Cardoso.

    A origem do projeto

    Beto Brant: A origem deste filme veio do Marçal Aquino, com quem eu trabalho há 20 anos e há sete filmes. Este é um livro que ele estava escrevendo desde 2003, e foi publicado em 2005. Ele sempre leu trechos do livro para mim, então eu acompanhei o processo criativo. A gente só conseguiu realmente filmar em 2010. Em 2007 nós fomos ao Pará, com o Renato Ciasca e o Marçal Aquino, e andamos mais de 2000 km pelo interior das cidades e chegamos a Santarém. A gente viu que poderia, nos arredores de Santarém, inventar a cidade do livro. Depois dessa viagem, nós fizemos a versão final do roteiro. Eu já pensava em filmar este projeto, mas enquanto ele terminava o livro eu investi em dois outros projetos, o Crime Delicado e Cão Sem Dono. Dos filmes que eu fiz em parceria com ele, teve a fase em que a gente falou de violência, em projetos mais ideológicos: Os Matadores, Ação Entre Amigos e O Invasor. Mas depois a gente partiu para outros caminhos, buscando o espaço privado e afetivo. A gente fez inclusive O Amor Segundo B. Schianberg, cujo argumento vem também deste mesmo livro, Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios.

    A escolha do elenco

    Beto Brant: O Zécarlos Machado foi o primeiro a ser convidado. Ele tem o dom da palavra, é alguém que exaure o texto antes de atuar, além de ser bonitão e bacana, um grande ator de teatro. O Gustavo Machado tinha feito meu projeto anterior, O Amor Segundo B. Schianberg, e nós trabalhamos muito tempo juntos. A gente teve que transformar o Cauby porque, no livro, o personagem já viveu toda a tragédia e relata o que se passou, mas no filme ele ainda descobre os mistérios. A Camila Pitanga foi escolhida porque eu procurava alguém capaz de dar corpo e voz a um personagem que já era um mito dentro da literatura do Marçal. A Lavínia é voluptuosa e sedutora, mas também é toda destroçada. A Camila tem uma coisa cabocla, e também é uma atriz no auge, que se faz notar pela beleza, além de ser ideológica, muito comprometida com o cinema e com as causas sociais. Ela leu o livro antes e trouxe várias ideias. Eu chamo ator que venha contribuir, não um ator para me obedecer.

    A preparação dos atores

    Camila Pitanga: Quando eu li o livro, eu entrei na viagem. A história me pegou, fiquei muito comovida com a personagem da Lavínia. O desafio foi dar conta dessa mulher dilacerada, porque a escolha é algo insuportável para ela. Ela ama profundamente o pastor, e o fotógrafo também. Então eu comecei a trabalhar. Nada ali é fruto do acaso. Eu trabalhei com a Márcia Feijó, e passei tanto a improvisar a partir de cenas do roteiro quanto a criar cenas que não existiam no texto. Fiz uma pesquisa de imagens, de rostos de mulheres, com seus olhares. Compus uma “videoteca lavinial” com filmes que tinham algo a ver com a personagem. Por conta da fase de loucura da Lavínia, eu fui ao Instituto Pinel e tive contato com pacientes, fiz entrevistas onde eu pude observar gestos e maneiras de falar. Eu também pesquisei a dependência química, porque no livro a Lavínia tem uma experiência com o crack. Mas quando eu pesquisei e conversei com pessoas em tratamento, o Beto e eu achamos que não seria o caso de transpor isso para o filme, porque as sequelas eram fortes demais, e achatariam todo o personagem.

    Gustavo Machado: A minha preparação era aprender a fotografar. O Beto (Brant) queria que as fotos fossem do ator. Cinco meses antes, eu comecei a ter aulas de fotografia, e fiz sessões de fotos com a Camila antes para me preparar. Não tinham diálogos escritos para a cena, então eu precisei interpretar o fotógrafo experiente enquanto ela passava por uma mulher que nem era modelo... Exatamente o oposto da vida! Eu estava com a mulher mais fotografada do Brasil, e tinha que dar conta!

    Camila Pitanga: Todas as fotos que aparecem no filme, foi o Gustavo que tirou. Ele é artista plástico e escreve. Aliás, toda a trupe é feita de pluriartistas. O Gero Camilo é compositor, dramaturgo, ator e cantor, o Gustavo é músico e diretor de teatro, e tem vários textos guardados, além de fazer desenhos e poemas. O Gustavo foi para Santarém e morou na casa cenográfica enquanto ele montava esse a casa do filme.

    Gustavo Machado: Cauby é um fotógrafo radical... Em São Paulo eu treinei dirigir e fotografar duas mulheres, e depois em Santarém eu fotografei mais seis mulheres que não eram modelos, porque era esse o propósito.

    Camila Pitanga: Numa das primeiras cenas, em que eles fotografam, tudo foi improvisação. A gente não combinou nada, a gente se arriscou ali, sentindo como os personagens fariam. Esses momentos não existem no livro, nem no roteiro.

    Beto Brant: O Zécarlos Machado foi à comunidade para pesquisar e compor o discurso do pastor. O pastor que ele compõe não é um pastor evangélico, é uma pessoa vocacional, ideológica, que não toma para ele a liderança, mas ele é o sensibilizador da sociedade.

    Zécarlos Machado: Para compor o personagem, nós trabalhamos juntos. O livro já dava um material fascinante, mas a gente precisou colocar o nosso pensamento, porque só com muito amor e com a busca de uma espiritualidade a gente poderia buscar uma comoção e chamar atenção para questões fundamentais de nosso país. Esse pastor começa como evangélico no Rio de Janeiro, e vai incorporando toda a cultura, com o Santo Daime e outras crenças. Quanto mais ele entra no país, ele entra em seu interior, ele busca um princípio que vem de antes, quando ele tinha ideais. Ele toma isso como uma missão. A gente buscou um princípio da Bíblia, em que a palavra é revolucionária.

    A nudez, o papel de prostituta

    Camila Pitanga: Todo mundo fala das cenas de nudez, mas elas não são as que eu considerei mais difíceis. Eu sou filha de ator, estou acostumada...

    Camila Pitanga: (Sobre a comparação com a prostituta Bebel, que Pitanga interpretou na novela Paraíso Tropical) Bebel era uma prostituta durante toda a novela, mas a Lavínia se prostituiu apenas durante um momento. Outra grande diferença é que a Bebel se desenvolveu por uma veia mais cômica. Ela tinha um mau caráter, era uma pilantra. O filme vai por outros territórios, ele é mais visceral. Eu entendo a aproximação, pelo fato das duas serem prostitutas, mas seria forçar a barra tentar aproveitar a Bebel para falar do filme.

    Crise política no Pará

    Camila Pitanga: Durante o filme, os índios da região de Santarém estavam denunciando a extração de madeira ilegal em áreas de conflito. São áreas sem fiscalização, mas são eles os verdadeiros donos da floresta. Na época, podiam passar legalmente dez balsas com madeira, mas ele viram que passavam quarenta. Então os índios tomaram uma balsa, e ficaram trinta dias acampados até serem ouvidos. Dinael foi preso, hoje ele é perseguido e sofre ameaças de morte. Esses são os nossos heróis. Como havia o desejo de trazer para o filme esta história, nós nos reunimos com essas lideranças. Essa é a parte documental da história, aquilo não é ficção. Tudo está muito latente.

    Gustavo Machado: O ponto de vista do filme, sem ser partidário, é amigável a essas comunidades.

    Dinael Cardoso: Eu me lembro de quando o Beto e a equipe vieram a Santarém para pesquisar sobre a garimpagem, porque é este o tema do livro. Mas a questão do garimpo não é mais tão atual, e sim a da madeira ilegal. Ele ficou sabendo do que acontecia na Amazônia e veio nos procurar. Ele me procurou, e eu fugia sempre, porque eu achava que uma equipe de São Paulo me procurando, só poderia ter algo por trás disso.

    Camila Pitanga: Ele ficou ressabiado porque ele fez entrevistas na época, e tudo que ele dizia era deturpado pela mídia, comprometida com os interesses das madeireiras.

    Dinael Cardoso: Até porque somos 10 mil, e quando a equipe nos procurou, nós nos reunimos. Nós pensamos que a atriz Camila Pitanga viria, mas antes de ser uma atriz, ela era uma guerreira. Na região, ela é uma parceira. Para nós foi satisfatório porque após o filme obteve-se muita luta a demarcação de uma terra indígena numa terra em Santarém, que foi erguida e construída em cima de uma aldeia indígena, e declarada oficialmente uma terra de dois povos indígenas.

    Trabalhar em dupla com Renato Ciasca

    Beto Brant: A gente fez faculdade juntos e depois nós construímos toda a carreira também juntos. Ele começou como assistente de direção, produtor e nós abrimos uma produtora a partir de O Invasor. Tanto Cão Sem Dono quanto Eu Receberia foram filmes de viagem: no primeiro a gente foi para Porto Alegre, e no segundo, para o Pará. Quando você constrói um filme fora da sua cidade, você precisa saber muito bem de que maneira você entra na cidade, a quem você se apresenta. Este é um trabalho de construção do filme que começa na produção, e eu o faço com o Renato. O Invasor foi o primeiro filme em que ele trabalhou como produtor, e eu o senti muito distante na hora de construir os planos. Foi só isso... A gente está o tempo inteiro junto, construindo as condições não só financeiras, mas materiais, logísticas. Eu o chamei para construir os planos e criar também juntos. Essa não é uma tendência, também não quer dizer que nunca mais. É algo aberto: assim como o Marçal, é tudo muito promíscuo, é uma amizade sobretudo. Não tem algo do tipo “isso é do meu filme”, “isso é do meu livro”, “você não pôs tal coisa no filme”... A gente vai ficando mais velho e mais maduro, aí a gente compreende melhor as coisas.

    Assista ao trailer de Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios:

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