Este é o documentário da Netflix cotado ao Oscar 2026: Apenas 1h30 e uma história com final chocante

Vencedor do Festival de Sundance, filme atingiu 99% de aprovação no Rotten Tomatoes.

Com o intuito de informar, denunciar ou trazer luz a acontecimentos únicos, os documentários foram uma forma do cinema se manter fiel à realidade em seu papel quase jornalístico de registrar fatos ou acontecimentos - mesmo que existam recortes e perspectivas para qualquer produção audiovisual (e a imparcialidade seja, basicamente, inalcançável).

Como afirma o cineasta John Grierson, “o documentário é o tratamento criativo da realidade”, algo tratado com muito cuidado e inventividade em A Vizinha Perfeita, documentário da Netflix que tem chocado a audiência, agradado os crítica e, assim, começa a se direcionar rumo ao Oscar 2026 e à temporada de premiações.

A chocante história de A Vizinha Perfeita

Vencedor do Festival de Cinema de Sundance na categoria Melhor Direção em Documentário Americano, A Vizinha Perfeita é um dos registros mais estarrecedoras e importantes do ano. O documentário relata uma confusão que resultou em uma pessoa morta no estado da Flórida, nos Estados Unidos. Conhecida por se incomodar facilmente com a vizinhança, Susan Lorincz atirou em Ajike "AJ" Owens e alegou legítima defesa.

Com a situação sendo exposta através de câmeras corporais de policiais, uma simples discussão entre vizinhos abriu um cenário de grande discussão sobre as leis estaduais norte-americanas, inclusive a Stand Your Ground.

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João Moreira Salles disse, em uma entrevista à Revista Norte em 2009, que “o fundamental de um documentário não é a história contada, mas como conta a história”, um exercício utilizado à risca no trabalho de Geeta Gandbhir. Em agosto de 2023, a realizadora recebeu um pen drive com aproximadamente 30 horas de arquivos, divididos entre filmagens de câmeras corporais, áudios de entrevistas com detetives, interrogatórios e chamadas telefônicas, sobre o caso Owens.

Enviado pelo Xerife do Condado de Marion, o conteúdo ajudou a cineasta a montar aquilo que viria a se tornar o documentário A Vizinha Perfeita - título este retirado de uma declaração de Lorincz em que afirma "Sou pacífica. Sou a vizinha perfeita".

O conteúdo disponível no eletrônico foi responsável por reconstituir todo o caso que levou à morte de Owens, mas também representa uma experiência completamente imersiva no formato documental ao utilizar majoritariamente o que foi registrado antes de sequer existir a intenção de produzir um filme-denúncia. Trata-se de um projeto que, além de repercutir o triste episódio, também abriu discussões sobre o porte de armas nos Estados Unidos.

Documentário da Netflix também tem motivação pessoal

Geeta teve uma motivação pessoal para montar o documentário: Owens era uma amiga de sua família. “Você acompanha as interações de Susan com a polícia ao longo de dois anos”, disse ela. “Você vê esse rastro e os desdobramentos à medida que acontecem, e o problema piora. Você vê a incapacidade e o desamparo das forças da lei para realmente lidar com a situação ou mesmo para enxergá-la como uma ameaça."

Ela acrescenta: "Mas você também vê essa comunidade linda, diversa e unida, que cuida dos filhos uns dos outros. Susan é essa exceção, de certa forma, ela é essa ameaça iminente que continua se aproximando cada vez mais, e não há como mitigá-la.”

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Soledad O'Brien, produtora-executiva, exalta o potencial educativo e potencialmente transformador do longa: "Acho que essa história foi o exemplo perfeito do caos das leis de autodefesa. Ela define quem não deveria ter acesso a uma arma e quem não deveria poder se esconder atrás de uma lei que, embora tenha sido apresentada como algo que ajudaria a reduzir homicídios e a violência armada, fez exatamente o oposto. E se você acha que, neste momento, essas leis vão diminuir — não, não vão", explicou ela à Variety.

"Sabemos que o presidente Trump disse que vai revogar todas as leis de proteção a armas de fogo. Estamos num momento em que essa é exatamente a discussão sobre o que tornou mais fácil matar pessoas. Essas leis tornam mais fácil matar pessoas. Ponto final", completou.