Na manhã de 7 de agosto de 1974, os nova-iorquinos que passavam pelo sul de Manhattan foram surpreendidos por uma cena inacreditável: a 400 metros do chão, um jovem francês atravessava os 61 metros que separavam as Torres Gêmeas do World Trade Center sobre um cabo de aço, sem qualquer equipamento de segurança. O acrobata de 24 anos se chamava Philippe Petit e, como ele mesmo contou ao New York Times na época, “não pude deixar de rir — era tão bonito”.
O ato durou cerca de 45 minutos e incluiu não apenas a travessia, mas também momentos em que Petit se ajoelhou, deitou-se no fio e até interagiu com aves e policiais que o aguardavam em cada extremidade. No total, ele cruzou o cabo oito vezes, em uma performance que rapidamente ganhou repercussão mundial. Embora tenha sido detido logo após descer da torre, as acusações foram retiradas dias depois.
A façanha foi resultado de meses de preparação. Petit visitou Nova York em janeiro daquele ano, sobrevoou os prédios de helicóptero para fotografar o local e construiu uma réplica em escala na França para treinar. O plano só foi possível com a ajuda de uma equipe dedicada: o fotógrafo Jim Moore, que o acompanhou desde o início; o malabarista Francis Brunn, que financiou parte do projeto; sua namorada Annie Allix; e o amigo Jean-Louis Blondeau, responsável por parte da logística.
Do ato ilegal nas Torres Gêmeas ao cinema com A Travessia
Levar o equipamento até o topo dos arranha-céus foi um desafio à parte. O cabo de aço, com menos de 3 cm de espessura, pesava entre 200 e 450 quilos. Para atravessá-lo de uma torre à outra, a equipe usou uma flecha com linha de pesca, que serviu de guia para o cabo principal. Até documentos falsos foram necessários: Barney Greenhouse, funcionário do edifício, conseguiu crachás que permitiram a entrada dos conspiradores como se fossem operários.
Petit já havia realizado feitos semelhantes: em 1971, caminhou entre as torres da Catedral de Notre-Dame, em Paris; no ano seguinte, atravessou os pilares da Ponte da Baía de Sydney, na Austrália. Mas sua obsessão nasceu em 1968, quando viu em uma revista as primeiras imagens da construção do World Trade Center.
Décadas depois, sua história foi contada em diferentes formatos. Em 2008, o documentário O Equilibrista, de James Marsh, venceu o Oscar. Sete anos depois, Robert Zemeckis levou a façanha para o cinema em A Travessia, estrelado por Joseph Gordon-Levitt no papel de Petit.
Caso queira assistir, A Travessia está no catálogo da Netflix, enquanto o documentário não está disponível em nenhum streaming no Brasil ainda.