Em quase cem anos de história, a maior premiação da indústria cinematográfica americana já condecorou grandes filmes e performances que se firmaram no cânone da sétima arte. De Audrey Hepburn em A Princesa e o Plebeu a Robert de Niro em Touro Indomável, o Oscar não deixa de ser um mapa dos muitos talentos e histórias que passaram por Hollywood. Um caso em particular, porém, chama atenção quando voltamos no tempo e olhamos a lista de vencedores da estatueta.
Um feito espetacular ainda hoje único na história da cerimônia – com baixas probabilidades de ocorrer novamente – aconteceu no ano de 1946, na 19ª edição do Oscar. Um ator novato chamado Harold Russell concorria como Melhor Ator Coadjuvante ao lado de Charles Coburn, Claude Rains, William Demarest e Clifton Webb.
Não apenas um iniciante, Russell era um ator amador, elencado para o filme Os Melhores Anos de Nossas Vidas por suas contribuições como veterano da Segunda Guerra, onde perdeu as mãos em conflito.

Dirigido por William Wyler, Os Melhores Anos de Nossas Vidas conta a história de três veteranos que precisam se adaptar às mudanças sociais e aos costumes da vida civil após retornarem da Segunda Guerra. No papel de Homer Parrish, Russell se viu na pele de um personagem que, assim como ele, perdia as mãos em combate e sofria com as consequências emocionais e práticas da volta para casa, o que garantiu um senso de autenticidade ao seu trabalho.
Na época, com Claude e Charles como favoritos e sem uma carreira consolidada ou com outras experiências de atuação, Russell não era visto pela Academia como um forte concorrente à estatueta. Logo, um prêmio foi criado especialmente para saudar o ex-soldado por sua participação heróica durante a guerra e pela qualidade e representatividade da sua performance.

O que o Conselho da Academia não esperava era que, após receber o Oscar honorário no início da cerimônia, Russell levantasse para pegar sua segunda estatueta da noite. O ex-soldado foi surpreendentemente agraciado como Melhor Ator Coadjuvante naquela noite, consagrando-se como o primeiro e único ator a ganhar dois Oscars pelo mesmo papel na história da premiação. Uma zebra fenomenal que consolidou o longa Os Melhores Anos de Nossas Vidas como o grande vencedor daquele ano.
De desconhecido a triunfo absoluto da temporada de premiações, Russell fez o que ninguém imaginaria ser possível. Apesar dessa enorme conquista, sua carreira foi curta e bastante espaçada, com crédito apenas em mais dois filmes, Inside Moves (1981) e Dogtown (1997).