Não é bem assim: O filme Conclave mentiu para você sobre como é eleito um novo Papa
Diego Souza Carlos
Apaixonado por cultura pop, latinidades e karê, Diego ama as surpresas de Jordan Peele, Guillermo del Toro e Anna Muylaert. Entusiasta do MCU, se aventura em estudar e falar sobre cinema, TV e games.

Fora das telas, um novo papa foi anunciado na tarde de hoje.

Assim como parte dos cardeais assistiram Conclave para ter uma noção de como a cerimônia de eleição do novo papa funciona, o filme apresentou este momento ao mundo inteiro de maneira intrigante. Com suas 8 indicações ao Oscar, e a vitória na categoria de Melhor Roteiro Adaptado, é irônico como o projeto teve uma repercussão gigantesca meses antes de Papa Francisco vir a falecer e o processo ter início mais uma vez.

Embora seja recheada de precisões quanto à realidade, como o procedimento de votação com a escrita dos votos em cédulas de papel e o sigilo que restringe telefones, internet e aparelhos eletrônicos, a produção de Edward Berger também tem suas falhas. Ao Washington Post, Daniel A. Rober, chefe do departamento de Estudos Católicos da Universidade do Sagrado Coração em Fairfield, explicou que existem algumas brechas no processo - o que pode acarretar em vazamentos.

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O especialista também afirmou que existem grandes debates ideológicos antes mesmo das janelas serem lacradas. "Há facções políticas, há diferentes grupos de cardeais com diferentes tipos de agendas para o futuro da Igreja", disse Rober, que acredita que a dramatização da eleição é feita de maneira mais intensa antes do início oficial do Conclave, algo que nos direciona para outra questão.

Não é permitido fazer campanhas como as que são representadas no filme. “A 'campanha' ativa para o cargo é estritamente proibida, e acho que algumas das conversas paralelas entre os cardeais no filme chegam perto demais de uma campanha”, escreveu Joanne Pierce, professora emérita do Departamento de Estudos Religiosos do College of the Holy Cross ao jornal.

Focus Features

Além destes pontos, dificilmente um candidato surpresa seria aceito ou apresentado posteriormente ao início do Conclave. No filme, Cardeal Benítez (Carlos Diez) chega para abalar as estruturas de um momento delicado - uma ótima virada para a trama. No entanto, esse tipo de situação é "extremamente improvável" , conforme afirma a reportagem.

“A ideia de que um candidato desconhecido subitamente chegaria ao topo dessa maneira é um pouco implausível”, disse Rober. Pierce concorda que “muito pouca chance de que algum escândalo surpresa acontecesse durante o conclave, ao contrário do que acontece no filme”.

Focus Features

Apesar do papa ter autoridade de nomear cardeais in pectore (em segredo) na vida real, a sua admissão causaria um embate interno. “A maneira como os cardeais in pectore trabalham é: se o status não for anunciado pelo papa antes de sua morte, ele é revogado”, disse Rober. “Então, você não pode simplesmente aparecer no conclave com uma carta dizendo que é cardeal e ser admitido.”

Ainda que tenha suas inconsistências, Conclave ainda teve grandes méritos em representar o processo que dá nome ao filme com os pontos principais da cerimônia real, com toques especiais que apenas o cinema pode nos oferecer.

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Curiosamente, enquanto esse texto é concluído, uma fumaça branca acaba de sair da Capela Sistina. No entanto, o nome do novo papa ainda não foi divulgado pelo Vaticano. Enquanto isso, o longa pode ser visto no catálogo do Prime Video.

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