Hoje à noite na Netflix: Este filme absolutamente chocante mudará a maneira como você vê os mundos virtuais
Giovanni Rodrigues
Giovanni Rodrigues
-Redação
Já fui aspirante a x-men, caça-vampiros e paleontólogo. Contudo, me contentei em seguir como jornalista. É o misto perfeito entre saber de tudo um pouquinho e falar sobre sua obsessão por nichos que aparentemente ninguém liga (ligam sim).

A história de um garoto com distrofia muscular cuja popularidade online só foi revelada após sua morte é contada em A Extraordinária Vida de Ibelin.

Netflix

Ouvimos com frequência sobre os efeitos negativos dos videogames em nossa sociedade. Quantas vezes já vimos reportagens tendenciosas sobre o assunto? Mas não desta vez. Estreando na Netflix em outubro passado, A Extraordinária Vida de Ibelin adota a abordagem oposta. Ele conta a história de como um jogador conseguiu escapar de suas dificuldades reais, às vezes insuperáveis, e de seu terrível sofrimento, graças a um mundo que pode ser virtual, mas que é cheio de amor, amizade e aventura.

Esse jogador era um jovem norueguês chamado Mats Steen. Quando ele morreu em novembro de 2014, aos 25 anos de idade, sofrendo de distrofia muscular de Duchenne, que causa uma degeneração progressiva de todos os músculos do corpo, seus pais ficaram compreensivelmente devastados pela dor.

O que poderia ser pior para pais amorosos do que perder um filho? Eles ficaram ainda mais tristes porque achavam que o filho tinha levado uma vida completamente solitária, isolado e sem amigos fora do círculo familiar. Sem saber, no fundo, o que nos torna humanos em primeiro lugar: os laços sociais.

A Extraordinária Vida de Ibelin
A Extraordinária Vida de Ibelin
Data de lançamento 25 de outubro de 2024 | 1h 43min
Criador(es): Benjamin Ree

No entanto, eles não poderiam estar mais longe da verdade. Eles não sabiam que Mats levava uma vida digital dinâmica há anos, o que causou um impacto profundo em uma comunidade de jogadores. O filme nos leva a uma jornada pela vida online de Mats Steen, por meio de seu avatar chamado Ibelin Redmoore, seu carismático personagem criado no mundo do jogo de RPG World of Warcraft.

“Antes de morrer, Mats nos deixou a senha de seu blog. Havia um bom motivo. Era óbvio, ele esperava que descobríssemos algo. Por trás dessa senha havia um mundo que nem sabíamos que existia”, diz sua mãe. “Mats me disse que ele estava brincando com outras pessoas. Mas nós achávamos que essas pessoas não o conheciam. Elas nunca tinham se visto e não se falavam”, acrescenta.

Devastados pelo luto, os pais de Mats estão se perguntando como avisar qualquer pessoa que possam conhecer sobre a morte do filho. Por que não publicar uma mensagem em seu blog? A resposta foi uma verdadeira enxurrada de e-mails. Dezenas de pessoas, incluindo membros de sua guilda no World of Warcraft, queriam demonstrar seu afeto pelos pais e falar sobre as partes da vida que haviam compartilhado com o filho.

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É nesse ponto que a abordagem do diretor Benjamin Ree atinge um forte tom emocional. O filme recria os anos que ele passou no jogo, com animações feitas usando o mecanismo do jogo (machinimas, por assim dizer), com as vozes de atores e atrizes, com base nos muitos diálogos escritos por Mats no jogo.

E há um bom motivo para isso: ele estava jogando em uma guilda baseada em interpretação de papéis; em outras palavras, o jogador deve “encarnar” seu personagem. É graças às dezenas de milhares de linhas de diálogo e trocas entre seu personagem e o resto dos membros de sua guilda, cuidadosamente arquivadas, que o documentário consegue reconstituir sua jornada com tanta precisão.

“Eu costumava ser a pessoa mais negativa do mundo”

Mas há mais. O diretor também foi ao encontro das pessoas que o conheceram. Seu amor virtual, por exemplo, uma jovem que mora na Holanda, que confidenciou que Mats a tirou da depressão em que se encontrava. Ou há o exemplo impressionante de como uma mãe e um filho, incapazes de se comunicar na vida real, finalmente conseguiram se reconectar e fazer as pazes pelo prisma do jogo, sob o olhar sempre atento de Mats Steen/Ibelin.

“Ele podia me contar coisas no jogo que não podia na vida real”, comenta ela, com a voz embargada pela emoção. Seu filho, que tinha desenvolvido uma fobia escolar, ficou feliz em voltar à escola com o incentivo de Mats / Ibelin. “Antes, eu era a pessoa mais negativa do mundo. Hoje, sou capaz de tolerar os outros".

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Sem nunca deixar de lado as frustrações vividas por Mats, suas alegrias, mas também suas tristezas, A Extraordinária Vida de Ibelin pinta um retrato absolutamente comovente. Não é preciso ser um gamer para ser cativado por esse documentário, que culmina em uma sequência emocionante de rachar pedras.

O Sundance Film Festival 2024 não cometeu nenhum erro. A Extraordinária Vida de Ibelin levou para casa o prêmio de Melhor Documentário. Agora disponível na Netflix.

*Conteúdo Global do AdoroCinema

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