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    O erro de cálculo da Blumhouse com O Exorcista - O Devoto: As razões para o primeiro grande fracasso de um modelo de negócios de terror infalível
    Eduardo Silva
    Eduardo Silva
    -Redator
    Jornalista que ama filmes sobre distopias e animes de battle royale. Está sempre assistindo alguma sitcom e poderia passar horas falando sobre Yu Yu Hakusho e Jogos Vorazes.

    A produtora de Halloween e Sobrenatural enfrenta perdas potenciais de milhões de dólares e um golpe em sua reputação.

    A decepcionante recepção da crítica sugere que O Exorcista - O Devoto pode ser ofuscado pelo seu desempenho de bilheteria. Embora não seja um fracasso em termos absolutos, está sendo considerado um revés para sua produtora, a Blumhouse, especializada em reviver franquias de terror para gerar sucessos infalíveis de bilheteria. Seu produtor, Jason Blum, tem um grande olhar comercial que vem abandonando o compromisso com a qualidade para gerar números lucrativos.

    O Exorcista - O Devoto fez sua estreia mundial em 6 de outubro de 2023, uma semana antes da data de lançamento previamente agendada para 13 de outubro de 2023, em uma tentativa de evitar a competição de bilheteria com o tão aguardado filme-concerto Taylor Swift: The Eras Tour.

    Esse primeiro movimento foi um revés inesperado, afastando o título ainda mais da data do Halloween que suas estreias sempre buscam, e perdeu a oportunidade de brincar com o choque de conceitos que “Barbenheimer” fez. O mais importante deste possível “Swiftxorcista” é que teria dado publicidade gratuita ao filme, compensando a péssima recepção no Rotten Tomatoes, que obteve apenas 22% de críticas positivas.

    O Exorcista - O Devoto
    O Exorcista - O Devoto
    Data de lançamento 12 de outubro de 2023 | 1h 52min
    Criador(es): David Gordon Green
    Com Leslie Odom Jr., Ellen Burstyn, Ann Dowd
    Usuários
    2,3
    Adorocinema
    2,5
    Assista agora

    Mas o primeiro grande erro de Blum foi considerar que o diretor David Gordon Green, que comandou o reboot da franquia Halloween, em 2018, estaria qualificado para modernizar O Exorcista, filme que continua gerando novos fãs 50 anos depois de sua estreia. Tanto é verdade que Green não assumirá o comando novamente em sequências futuras.

    Falta de compreensão do material original

    O trabalho de Green aqui, mais do que desajeitado, é ingênuo. Ele revisita os principais pontos do filme original sem ter muita ideia de como ressignificá-los para os novos tempos, optando por uma franca extrapolação da fé sob a perspectiva do “todo mundo é bom” que acaba sendo estúpida.

    Um “We are the world” das religiões que visa realocar a batalha da fé em uma época em que a religião foi estratificada, talvez buscando se distanciar da onda de horror católico que triunfa nas bilheterias, como O Exorcista do Papa e A Freira 2.

    O Exorcista - O Devoto quer ser importante e incisivo, tentando evitar essas abordagens, porém, quando tenta ser assustador limita-se a repetir tomadas de ruas com folhas ao vento e outros truques do original, que são traduzidos sem convicção para uma linguagem visual televisiva.

    Universal Studios

    A bilheteria não atendeu às expectativas, que inicialmente previam que o filme geraria entre 30 milhões e 35 milhões de dólares no mercado inteiro em seu fim de semana de estreia. A arrecadação de abertura foi de aproximadamente 26,5 milhões de bilheteria nacional (e quase 44 milhões em todo o mundo).

    Orçamento exorbitante que não se vê na tela

    Com orçamento de produção de 30 milhões de dólares, o filme poderia ser considerado lucrativo, mas o problema é que a Universal e a Peacock pagaram 400 milhões de dólares pelos direitos do que seria uma trilogia, o que eleva muito o patamar do quanto essa produção precisa para ter sucesso.

    As primeiras bilheterias e os indicadores dos críticos deixaram motivos de preocupação quanto à longevidade e qualidade dessa nova trilogia, que inclusive já tinha data de lançamento preliminar de sua sequência para 18 de abril de 2025.

    Isso significa que O Exorcista: Deceiver e a terceira parte podem ser um acordo potencialmente desastroso para Universal, Peacock e Blumhouse, quer as sequências sejam canceladas ou se mais dinheiro for investido nelas.

    Universal Studios

    O que fica claro é que os cálculos para o pagamento dos direitos foram exorbitantes. É um valor inédito para a Blumhouse, cujo modelo de negócio geralmente depende de elevados retornos potenciais de títulos de terror de baixo orçamento que normalmente custam entre 5 e 10 milhões de dólares.

    Com custos de marketing estimados em cerca de 1,5 vezes o orçamento de produção, é difícil encontrar um ponto de lucro, quando normalmente essa fórmula funcionava em títulos como Halloween ou A Ilha da Fantasia.

    Confiança excessiva ou desconhecimento da marca, o nome O Exorcista não se enquadrava bem na ideia de investimento conservador da Blumhouse, cujos filmes, exceto quando dirigidos por M. Night Shyamalan, Scott Derrickson ou Jordan Peele, têm aparência barata – o que tornou-se mais evidente ao longo dos anos.

    Negligência na produção

    Para fazer um bom filme da marca O Exorcista, não é preciso apenas de um bom diretor, mas de um aparato de produção que veja o filme como uma obra de prestígio. O roteiro tenta explicar a mesma história durante uma hora em que nada acontece, tomando como ponto de partida o desaparecimento de duas meninas, como se repetisse a trama de O Exorcismo da Minha Melhor Amiga.

    Universal Studios

    Outro elemento que não funciona mais é resgatar os antigos protagonistas dos filmes originais para aparecerem como salvadores no remake. O caso de Ellen Burstyn, que interpreta Chris MacNeil no original, é especialmente lamentável.

    Sua participação aqui é acompanhada por frases mal escritas (em um momento, a personagem diz que não assistiu ao exorcismo de sua filha Regan, a garotinha possuída no longa de 1973, porque o patriarcado não deixaria), além de um conflito com a filha sem qualquer tipo de explicação e uma sequência que a deixa cega ao longo do filme.

    A protagonista passa o filme inteiro com a mesma cara e seu conflito é reduzido a uma decisão, deixando uma conclusão reacionária e absurda para a luta final. Ann Dowd passa para dizer as falas pesadas com uma cara triste. Nada range muito, tudo é recitado como se fosse o que devíamos ouvir o tempo todo. O tédio se instala e o uso do tema clássico de Mike Oldfield é a única coisa que supostamente se conecta com a ideia original.

    Voando muito perto do Sol

    O Exorcista - O Devoto quer ser importante e continua com os sustos de esconde-esconde, o vômito do muco digital preto e as levitações na ordem em que aparecem. Não propõe uma linha de ação para os filmes seguintes que possa pelo menos ser envolvente como uma novela, nem realoca os acontecimentos num mapa maior pensando em episódios futuros ou gerando curiosidade.

    Universal Studios

    É um filme ruim, mas um primeiro capítulo pior. Ele não só tem pouca ideia de onde quer chegar, como não demonstra convicção no que apresenta. Às vezes, o público também é capaz de capturar isso e talvez a Blumhouse quisesse voar muito perto do Sol, pensando que o filme iria se sair como Sobrenatural: A Porta Vermelha, de 12 milhões de dólares, ou o sétimo Atividade Paranormal.

    Se você tentar resgatar aquele que é considerado o melhor filme de terror da história e transformá-lo em um novo sucesso, é preciso um pouco mais do que confiar na marca, economizar na produção e gastar com marketing. Talvez possa ser um pequeno estímulo para a empresa voltar a apostar na descoberta de talentos e oferecer o que outras grandes empresas não se atrevem a fazer: projetos arriscados, originais e novos autores que tenham o que dizer.

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