Dança com Lobos (Dances with Wolves)
"Dança com Lobos" foi lançado em1990, estrelado, dirigido e produzido por Kevin Costner (juntamente com Jim Wilson na produção). O longa é uma adaptação cinematográfica do romance de 1988, 'Dances with Wolves', de Michael Blake. Durante a Guerra Civil, o tenente do Exército da União John J. Dunbar (Kevin Costner) pratica uma ato ousado, é considerado herói e viaja para a fronteira americana por sua livre escolha. Lá ele vai servir em um posto militar em um lugar com uma forte predominância do povo Sioux.
"Dança com Lobos" marca a estreia de Kevin Costner na direção. Eu tenho um carinho muito especial por este filme, pois foi com ele que eu aprendi muitas coisas da vida, muitos valores em minha infância/adolescência, foi o primeiro filme que eu assisti para fazer um trabalho escolar. Pra mim é uma obra muito intimista, muito pessoal, que sempre me chamou a atenção pelos ensinamentos que nos transmite a respeito de liderança, de amizade, de compaixão e de reconhecimento. Realmente foi uma obra que me ensinou muito, teve uma participação direta na formação do meu caráter.
Em todas as vezes que assisti o longa-metragem eu vi a versão normal, de 3h, dessa vez eu pude acompanhar a versão estendida de 3h 54min. É incrível como um filme de quase 4 horas não cansa, não é maçante, não é monótono, não é enfadonho, o ritmo é perfeito e acertado, tem uma história muito envolvente que nos prende gradativamente em cada cena. Os 54 minutos a mais foram cruciais para o desenrolar de toda história, para a construção de toda a trama, onde o longa conseguiu se desenvolver ainda mais. Assisti poucos filmes que chegassem a quase 4 horas de duração, posso afirmar que um tempo muito extenso fatalmente cansaria o espectador, o que incrivelmente não acontece aqui, pois eu assisti o filme de forma ininterrupta.
Eu tenho uma amor e um carinho muito especial pelo cinema da década de 1990, sempre afirmei que os anos 90 foram os anos de ouro para o cinema. De fato os anos 90 foi uma década cuja às grandes obras cinematográficas nos retratava grandes histórias, grandes contos, grandes passagens, era uma época totalmente diferente de se fazer cinema. E aqui temos um longa que revolucionou o faroeste, pois "Dança com Lobos" foi lançado exatamente em 1990, uma época que o gênero estava defasado e totalmente em crise em Hollywood, pois todo mundo já estava saturado dos westerns americanos. Dessa forma o longa de Kevin Costner encontrou bastante rejeição e dificuldade para ser produzido e consequentemente financiado.
"Dança com Lobos" novamente abre as portas para o gênero em Hollywood e mostra que ainda temos muitas coisas para falar a respeito de um tema tão consagrado e cultuado nas décadas passadas. O longa ficou marcado como o responsável pela renovação dos westerns americanos e marcou o início do faroeste moderno nos cinemas. Aqui temos uma aventura épica, um drama envolvente, um romance singelo e um humor leve e passivo. Kevin Costner traz simplesmente o melhor e mais notável trabalho de toda a sua carreira, com uma direção maestral, com muita segurança em cada cena, com uma narrativa muito bem amarrada onde era mesclado momentos de tranquilidade e tensão.
O roteiro de "Dança com Lobos" é incrivelmente perfeito e feito com uma coesão incrível. Pois temos o início da história do tenente John Dunbar, que se inicia durante a Guerra Civil americana (por volta da década de 1860) em uma luta travada pelo fim da escravidão. Somos confrontados com um personagem que sofre com traumas pelos horrores da guerra, que é totalmente perturbado, que já tentou suicídio, mas que ao partir para um local para viver sozinho, ele vai se reencontrando, se desenvolvendo, se achando, sua vida vai tomando um outro rumo e uma outra forma. Temos aqui um verdadeiro estudo do ser humano e suas culturas - como o desenvolvimento e a construção do respeito, do reconhecimento, dos ensinamentos, da admiração, da confiança. Também temos o choque e o confronto de cultura entre o homem branco americano e os índios Sioux, que aparentemente poderia difundir a sua cultura entre os índios, mas somos confrontados com uma assimilação dos costumes dos nativos, acontecendo uma verdadeira aculturação às avessas.
É muito interessante notar que com o tempo o John Dunbar vai se moldando com às culturas indígenas, vai adquirindo respeito e construindo uma amizade singela e verdadeira. Por outro lado o personagem vai cada vez mais se distanciando da sua civilização e se aproximando dos índios e das suas culturas e ensinamentos. Podemos claramente notar uma certa distância de personalidade e caráter do personagem John Dunbar (o tenente americano) como novo personagem 'Dança com Lobos' (nome que ele ganhou dos indígenas). Assim como também está muito claro que a medida que seu relacionamento vai se aprofundando com os índios, a sua aproximação com o lobo também vai aumentando, até ele finalmente conseguir fazer com que o lobo pegue a comida em suas mãos - incrível!
Kevin Costner foi magnífico ao conseguir sincronizar inúmeros momentos durante toda a trama, momentos esses que vão desde o épico ao faroeste, que apesar do filme não ser predominantemente um faroeste por completo, mas ele possui muitas nuances do gênero. O mais notável em toda a história é a quebra dos estereótipos indígenas, pois sempre houve uma mística que os índios eram seres brutais, violentos, que só matavam, roubavam e causavam destruições por onde passavam. Porém, aqui o longa nos mostra uma outra vertente, uma outra faceta dos povos indígenas, que são realmente pessoas muito incompreendidas, que são vítimas dos povos brancos, que vão colonizando e tomando tudo pela frente, sempre com muita violência e com intenções inteiramente mercantilistas. O longa também faz questão de nos elucidar em como o homem branco praticamente exterminou os povos indígenas e suas culturas, que eles também eram vítimas de uma sociedade totalitarista e facínora (como ainda vemos hoje em dia).
Além de produzir e dirigir magistralmente, Kevin Costner (que atualmente está na série Yellowstone) também atua com a alma e o coração. Posso afirmar que "Dança com Lobos" é o projeto mais grandioso e mais certeiro de toda a carreira do Costner, assim como a sua atuação, que certamente é a melhor de toda uma vida cinematográfica. Aqui temos Costner personificando um personagem que possui várias camadas, várias nuances, ele é extremamente reflexivo e traumatizado pela guerra, mas que se reencontra com o seu "EU" interior ao adentrar na cultura daqueles povos, e ao se apaixonar verdadeiramente. Nota 10 para a atuação de Kevin Costner, melhor impossível, totalmente memorável (muito bem indicado ao Oscar por esse trabalho).
Mary McDonnell (da série Major Crimes) também está incrível, traz uma atuação muito bem acertada com sua personagem 'De Pé com Punho'. Mary se destacou como a princesa de toda história, o par romântico do personagem 'Dança com Lobos', alcançando uma química muito funcional e muito condizente com toda a trama que ia se desenvolvendo - outra atuação completamente perfeita, que foi justamente indicada ao Oscar.
Graham Greene (da obra-prima À Espera de um Milagre) completa com muita dignidade o trio de ouro do filme. Seu personagem 'Pássaro Esperneante' é muito autêntico, inteligente, confiante, é dele os confrontos iniciais com o personagem John Dunbar, também parte dele a intenção de depositar uma certa confiança em John e vê até que ponto essa confiança pode resultar para seus povos e suas culturas. Por outro lado a confiança, a admiração, o reconhecimento e a amizade que nasce entre eles são verdadeiras e sinceras. Graham Greene também está impecável, tem uma grande atuação, o que condiz plenamente com a sua indicação ao Oscar.
Um destaque para Annie Costner, a filha de Kevin Costner com apenas 6 anos, onde ela tem uma breve participação como a pequenina Christine (um flashback do passado da personagem da Mary McDonnell), cuja cena ela escapa do ataque correndo para as montanhas.
"Dança com Lobos" é um filme que acerta em tudo, e nas qualidades técnicas não seria diferente, pelo contrário, estão completamente absurdas.
Quero destacar a assombrosa, a monumental, a estratosférica trilha sonora de John Barry (compositor de longa data da icônica franquia 007 nos anos 80). Vou ser bem sincero: não me lembro de outro filme que tivesse uma trilha sonora tão impactante, tão memorável, tão esplêndida como aqui. Uma trilha completamente envolvente, com lindíssimas melodias tiradas com genuinidade de pianos, violinos, violoncelos e flautas. Uma coisa magnífica, que me emocionou verdadeiramente, pois quando terminou o filme a primeira coisa que eu fui fazer foi procurar a trilha sonora para guardar em meu computador. Oscar mais justo da história das trilhas sonoras dos cinemas.
Uma fotografia deslumbrante, com enquadramentos perfeitos, que potencializava ainda mais a qualidade estética de cada cena. Os cenários são de uma beleza sem igual, os figurinos estão homogêneo. A direção de arte é absurdamente perfeita. A cenografia é gloriosa. Muito bem montado, muito bem editado, muito bem mixado, muito bem arquitetado, e uma ideia muito abrangente e muito bem transplantada para a tela.
O longa foi um verdadeiro sucesso de bilheteria, com um orçamento de US$ 19 milhões, sendo que apenas nos Estados Unidos o filme arrecadou mais de US$ 180 milhões, arrecadando US$ 424,2 milhões em todo o mundo, tornando-se o quarto filme de maior bilheteria de 1990, e é o filme de maior bilheteria da Orion Pictures.
O filme foi indicado a 12 Oscars no Oscar de 1991 e ganhou sete, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor para Costner, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição, Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Mixagem de Som. O filme também ganhou o Globo de Ouro de Melhor Filme - Drama. O longa de Costner ainda integra a seleta lista dos únicos três westerns a ganhar o Oscar de Melhor Filme na história, sendo acompanhado por "Cimarron" (1931) e "Os Imperdoáveis" (1992).
"Dança com Lobos" é um marco na indústria hollywoodiana, é muito importante para um fator social, por praticamente ter assumido a culpa de ter dizimado uma cultura inteira (a cultura indígena). Após 32 anos de lançamento, o longa não ficou datado, não ficou ultrapassado, envelheceu muito bem, o tempo fez muito bem para à obra. Além, é claro, o filme é creditado como uma das principais influências para a revitalização do gênero de cinema ocidental em Hollywood.
"Dança com Lobos" e "Os Imperdoáveis" são as duas melhores obras-primas do faroeste dos anos 90 que eu já assisti na vida.
Uma verdadeira obra-prima, obra épica, obra histórica, obra memorável, obra influente, obra revolucionária, obra visionária, obra icônica, obra de arte, pérola da sétima arte, aula de cinema, um verdadeiro estudo histórico e contemporâneo. Simplesmente o ganhador do Oscar de Melhor filme em 1991 e um dos principais filmes da minha vida. [26/08/2022]
⭐⭐⭐⭐⭐