O sempre controverso diretor Oliver Stone (The doors; Nascidos para matar; JFK; Nascido a 4 de julho; Talk radio) se apossou de uma das figuras históricas mais importantes em termos de conquistas, a vida de Alexandre, o grande (Colin Firth). E incorreu em dois erros crassos: 1. Tratou Alexandre como se ele fosse um líder de um grupo de rock psicodélico, acentuando sua orientação sexual (na verdade o general "papava" tudo o que aparecia diante dele) e a onipresença de uma ave que mostrava com sua visão mostrava o que transcorria do lado do campo de batalha dos adversários. Stone fez algo semelhante ao filmar "The doors" (havia mais sentido na medida que o consumo de drogas lisérgicas era grande), sendo um detalhe interessante a presença do ator Val Kilmer como Felipe, o caolho, pai de Alexandre (ele que interpretou Jim Morrison em "The doors"); 2. Para não ser acusado de falsear a história dos temas que aborda (vide JFK), Oliver Stone deve ter se cercado de um grupo de doutores na vida do imperador da Macedônia, e elaborou o roteiro com jeito de aula de cursinho pré-vestibular, o que tornou o filme enfadonho. Tenho de admitir que as cenas de guerra são estupendas. As cenas da batalha de Gaugamela, na qual Alexandre vence o rei Dario, e daí tem a Babilônia a seus pés, são brilhantes. Também a recriação do império babilônico é eficiente. Na verdade o ponto nevrálgico das discussões sobre o filme diz respeito à sexualidade de Alexandre. Ele era bissexual, sim. E daí? Sim, ele manteve relações íntimas com o seu amigo de infância Hefastion (Jared Leto), além de alguns de seus serviçais. Sim, ele casou-se com uma belíssima mulher, Roxane (Rosario Dawson), por quem se apaixonou, mas por não ter-lhe dado um filho, o amor se esvaiu. Ptolomeu (Anthony Hopkins) é o narrador da história, ele que foi companheiro de Alexandre em toda a incursão do general pela Ásia adentro, e o descreve com todos os adjetivos superlativos. Porém, Alexandre era um alcoolista e tanto, e o seu núcleo paranóide tomava dimensões excepcionais sob o efeito da bebida dionisíaca. E aí ele fazia as maiores besteiras do mundo. Bem, todos nós conhecemos algumas estórias semelhantes. Então, a narração de Ptolomeu é ambígua. Aliás, os traços paranóides de Olímpia (Angelina Jolie), com suas cobras a tira-colo, são de tal forma reforçadas para que a platéia entenda a relação mãe-filho, como uma fonte propulsora (ou destruidora?) na vida breve de Alexandre. Acho que todos devem assistir o filme, porém, particularmente, estou aguardando ansiosamente a versão do diretor Baz Luhrman (o mesmo do hipnótico Moulin Rouge) que deve chegar aos cinemas em 2006. Oliver Stone faz grandes filmes quando o tema não é tão grandioso, caso específico de Talk Radio - verdade que matam.