Sophie Thatcher brilha em Acompanhante Perfeita, mistura divertida e sangrenta de romance, comédia e terror
por Bruno Botelho dos SantosSe tem uma frase que se aplica muito bem ao filme Acompanhante Perfeita é que "as aparências enganam". Isso não é nenhuma novidade, considerando que várias produções ficaram marcadas no cinema com plot twists chocantes e inesperados. De qualquer forma, o longa-metragem estrelado por Jack Quaid e Sophie Thatcher, dois nomes queridinhos em Hollywood atualmente, surpreende não apenas por sua narrativa repleta de reviravoltas, mas também por sua estrutura que brinca com diferentes gêneros cinematográficos.
Levando isso em consideração, este é o típico caso de quanto menos você souber da trama, melhor. Então, aqui já fica meu AVISO DE SPOILERS que podem atrapalhar sua experiência.
Em Acompanhante Perfeita, acompanhamos o casal Iris (Sophie Thatcher) e Josh (Jack Quaid) durante um final de semana entre amigos numa casa de campo luxuosa e tranquila. Os dois se conhecem num mercado e começam a sair. Apaixonados, eles vivem um romance de cinema. O problema é que Iris é um robô – e nem ela mesmo sabia. A viagem toma um rumo inesperado, com perseguições, sangue e revelações estrondosas enquanto ela perde o controle e precisa lutar pela sua sobrevivência.
O filme marca a estreia na direção de Drew Hancock, que também é responsável pelo roteiro, apadrinhado por Zach Cregger, diretor do aclamado Noites Brutais, lançado em 2022. Ele, inicialmente, iria comandar o projeto, mas ficou apenas no cargo de produtor. Para um estreante em longa-metragem, Hancock – que tinha experiências na televisão, trabalhando em Suburgatory e Faking It – chama atenção com uma narrativa ágil e intrigante que mistura diferentes gêneros, especialmente romance, ficção científica, terror e comédia.
Nada é o que parece quando se assiste Acompanhante Perfeita. O filme começa no que parece ser uma história de amor envolvendo o casal Iris e Josh, mas logo se constroi uma sensação constante de que algo não está certo nessa relação. Tudo muda quando descobrimos que a personagem de Sophie Thatcher é uma androide – o que transforma completamente nossa percepção sobre esse "romance" ideal.
Na realidade, ela é uma inteligência artificial criada para ser uma “acompanhante perfeita”, aqui especificamente controlada por Josh e desenvolvida para atender seus desejos. Esses elementos abrem discussões sobre relacionamento abusivo, manipulação e autonomia, assim como a ética de como utilizamos essas ferramentas a nosso favor e até mesmo para exercer poder.
O mais interessante é que Drew Hancock não força essa temática na tentativa de ser uma história mais pretensiosa e séria do que seria necessário. Na verdade, ele entrega uma narrativa divertida, cheia de reviravoltas, apostando realmente numa espécie de sátira envolvendo essas relações de controle, colocando a tecnologia com um papel central. Tudo isso funciona principalmente pela química do elenco e personagens que estão completamente perdidos e não sabem lidar com a situação.
Quando Iris descobre sua verdadeira identidade, não demora para que acabe se revoltando, e passe a enfrentar um jogo de gato e rato contra os personagens enquanto ela luta por sua sobrevivência. É aqui que o diretor explora melhor o suspense e o terror, enquanto a contagem de sangue aumenta progressivamente e a violência explode pelos conflitos no filme.
Um dos maiores acertos de Acompanhante Perfeita é seu elenco e a dinâmica cômica e inusitada dos protagonistas tentando lidar com a situação de uma inteligência artificial fora de controle. Harvey Guillen, conhecido pela série What We Do In The Shadows, é uma peça fundamental para a proposta cômica do filme, enquanto Lukas Gage, Megan Suri e Rupert Friend complementam muito bem o núcleo principal da produção.
O destaque fica para Sophie Thatcher como a protagonista. A atriz se tornou uma queridinha dos fãs de terror nos últimos anos, por causa de Yellowjackets, Boogeyman: Seu Medo é Real e Herege. Aqui, ela entrega a melhor atuação da sua carreira como Iris e, como a própria revelou em entrevista ao AdoroCinema, é o seu “papel mais desafiador” até hoje pelas nuances que precisa passar na personagem. Uma performance mais robótica e contida no começo do longa, enquanto está sendo controlada, o que aos poucos muda quando ela se rebela e começa a lutar em sua jornada enfurecida de vingança.
Jack Quaid, estrela de The Boys, é a escolha perfeita para o papel de Josh. Ele engana bem como esse namorado romântico e cara legal que, aos poucos, revela seu comportamento tóxico escondido na necessidade de controlar e manipular uma pessoa para atender seus desejos. Um personagem que lembra bastante outros personagens anteriores da sua carreira, como o vilão Ghostface que ele interpretou em Pânico 5 (2022), e que funciona para a proposta criada por Drew Hancock.
Acompanhante Perfeita é uma grata surpresa dos filmes de terror que serão lançados em 2025. Sophie Thatcher rouba a cena e entrega sua melhor atuação como uma robô lutando por sobrevivência. Drew Hancock estreia na direção com um filme que mistura gêneros, principalmente comédia, terror e romance, e apresenta uma experiência divertida e sangrenta.
Tudo isso sem deixar de lado uma discussão interessantes sobre relacionamentos abusivos e inteligência artificial, que é alvo de bastante controversa em Hollywood atualmente – um dos principais temas da greve de atores e roteiristas de 2023.
Com apenas 1 hora e 37 minutos de duração, Acompanhante Perfeita tem uma condução envolvente e surpreendente, mas com uma construção de roteiro que se torna bastante refém das reviravoltas. Por isso, é definitivamente uma experiência mais satisfatória para quem não sabe muitos detalhes sobre a trama.