"Pisque Duas Vezes" (2024), é um típico thriller psicológico: curioso, instigante e tenso!
Zoë Kravitz (“The Batman”, “Divergente”), estreando na direção e roteiro – este coa-assinado por ET Feigenbaum –, traz aqui receita semelhante a outros filmes como "Corra" (2017), ao explorar a interessante mistura entre o subgênero do terror do psicológico à temas sensíveis e atuais de nossa sociedade. Entretanto, embora a proposta seja agradável, a sua execução é um problema em “Pisque Duas Vezes”. O enredo tímido, uma direção que se perde na divisão dos atos, e as atuações medianas, fazem do filme um desperdício de potencial!
O enredo, em resumo, traz o encontro entre Frida (Naomi Ackie) – uma garçonete estabanada que sonha em ter o seu lugar o sol –, e o magnata Slater King (Channing Tatum), que acaba convidando-a, junto a outros convidados especiais, para uma festa em sua ilha particular. Ao longo da trama, incidentes estranhos ocorrem, e, partir daí vocês já sabem... Puro suco do suspense! Ou, ao menos, é o que os primeiros vinte minutos do filme prometem!
Embora, como eu disse, a premissa seja interessante, os problemas de enredo e direção, que se mostraram crônicos ao decorrer do filme, começam logo no primeiro ato: desnecessariamente arrastada, a trama aqui, perde muito tempo ao nos introduzir ao ambiente festivo, e aos dias de princesa experimentados por Frida, na tal ilha paradisíaca. Até vemos um esforço da direção, ao explodir a tela com diversas pistas que indicam, a cada frame, que tem algo de errado rolando naquele lugar, mas, como eu disse antes, tudo muito lento e arrastado.
Por outro lado, o ritmo arrastado do primeiro ato, dá lugar a uma corrida desenfreada, nos atos seguintes: os elementos e indícios plantados até aqui, são substituídos por uma série de soluções e explicações fáceis, o que, convenhamos, é terrível àqueles que, como eu, amam investigar as pistas deixadas em filmes do gênero.
Ao final de um segundo ato apressado e tímido – uma vez que, seja por escolha artística, seja para evitar gatilhos ao "público-alvo", o filme deixa tudo no campo do "subtendido" – os mistérios são resolvidos rapidamente, e, a partir de então, o filme abandona de vez o terror psicológico, e se lança ao desatino completo.
Na mesma toada, o terceiro ato dá aos espectadores sinais fortes de cansaço, ao mesmo tempo em que nos cansa. Aqui, tanto a direção, como quem assiste, torce para o filme acabar logo! E, mesmo ao final, numa última tentativa de ganhar os espectadores com um “plot twist”, o enredo fracassa com sua previsibilidade.
Além disso, as atuações medianas do filme não suprem os tantos problemas citados quanto ao enredo e direção: Channing Tatum não convence como vilão, e sua atuação aqui, salvo raros momentos de respiro, é totalmente esquecível! Por sua vez, Naomi Ackie até se esforça em pincelar contornos de curiosidade, espanto, e terror em sua “Frida”, porém, o texto não explora a personagem como deveria, deixando lacunas insanáveis quanto às sua história e motivaçõ. Pior ainda, para o elenco de coadjuvantes que, a exceção de Adria Arjona (Sarah), é relegado a uma quase figuração.
Por tudo isso, tenho que "Pisque Duas Vezes" é um grande desperdício de potencial, uma vez que, apesar da temática interessante e atual, o filme não abraça o gênero do terror psicológico – embora se venda como um –, além de ter um ritmo descompassado, e atuações medianas.
Vale a pipoca, mas, vá sem muitas expectativas!!