O filme é abaixo do medíocre. Traz todos os cacoetes do esquerdismo woke assossiados a uma de suas pautas narrativas: a da ditadura da beleza.
O mundo fora devastado pelo uso de combustíveis fósseis, e um grupo de cientistas (os iluminados) foi responsável por pesquisar e criar uma fonte de "energia renovável" para resolver seus problemas. Essa fonte: uma flor! Mas o simplismo não para aí! O "problema" persiste, porque a o ser humano continua a se dividir, a criar fronteiras e países e a se desentender com os seu semelhantes. A solução: realizar cirurgias estéticas que tornarão as pessoas "perfeitas", livres de todo ódio e discriminação. Entretanto, há nessa sociedade um grupo de revolucionários que decidiu lutar e afirmar as suas diferenças. Em razão disso foram marginalizados e combatidos como uma ameaça. Mais clichê do que isso é impossível, e o pior é que o filme todo é embalado com um sentimentalismo tacanho em todas as cenas. A singularidade, por exemplo, é apresentada como o gosto em utilizar apelidinhos carinhosos e fazer atividades radicais adolescentes, como se arriscar por aí em skates voadores.
Não se pensa que as divisões entre os seres humanos são frutos de sua subjetividade e que é isso que enseja as tais fronteiras, algo curiosamente criticado pelo filme, muito menos que os anseios humanos estejama além da estética de um rosto, que é a única coisa que a tal cirurgia corrige. Mais que isso, problemas como o envelhecimento, a necessidade de manutenção da beleza do corpo através de exercícios físicos, o desgaste e as vicissitudes causados pelo labor ou outros aspectos da estética, como a altura, não são abordados. De todo modo, todas as pontas soltas são "explicadas" através de mais um clichê: a lavagem cerebral causada por essa cirurgia, através de uma intervenção física no cérebro, que supostamente consegue implantar uma nova forma de pensar e de ver o mundo.
A ideia de que uma intervenção FÍSICA no cérebro pode implantar ideias e visões de mundo é um acinte à inteligência, mas retrata bem o modo de pensar dos roteiristas adolescentes (malgrado as suas 3, 4, 5 décadas de existência) que dominam Hollywood. E esse simplismo é aplicado ao filme inteiro, tudo é raso, inverossímil e caricato, mas, ainda assim, pretensioso. Tenho certeza de que esses roteiristas devem se achar extremamente criativos, quando apenas repetem todos os clichês dos gêneros saturados a que foram expostos a vida inteira, nesse caso as distopias. A questão é que cada nova versão parece mais desleixada, repleta das mesmas frases prontas e empurrada de mais sentimentalismo travestido de "emoção e profundidade narrativa".