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    Coringa: Delírio a Dois
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Coringa: Delírio a Dois

    Joaquin Phoenix e Lady Gaga vivem um casal caótico em ousada sequência de Coringa

    por Katiúscia Vianna

    Coringa foi uma anomalia no cinema. Tudo bem, é inspirado em um personagem famoso dos quadrinhos, porém seu estilo mais realista que apresenta o famoso vilão do Batman como uma vítima de uma sociedade desprezível se destaca em comparação com as explosões coloridas de outros filmes de super-heróis. 1 bilhão de dólares nas bilheterias mundiais, 11 indicações ao Oscar e duas vitórias depois, surgiu a grande dúvida: será que Joker também ia cair no clichê de ganhar uma sequência?

    Bem, clichê não é a palavra que eu usaria para descrever Coringa: Delírio a Dois. O diretor Todd Phillips decidiu colocar Joaquin Phoenix para cantar e dançar ao lado de Lady Gaga, ao mesmo tempo que conta uma história de amor tóxica e um julgamento dramático.

    Qual é a história de Coringa: Delírio a Dois?

    Warner Bros Pictures

    Anos depois dos acontecimentos de Coringa, Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) está preso em Arkham, onde é constantemente maltratado pelos guardas do local. Por outro lado, a advogada Maryanne Stewart (Catherine Keener) está construindo sua defesa, tentando provar como Coringa é uma personalidade separada do protagonista. Tudo muda quando ele conhece outra paciente, Harley Quinzel (Lady Gaga), durante aulas de música na instituição.

    Conhecida como Lee, ela também carrega seus traumas, além de ser fã do Coringa. Começa então um relacionamento amoroso perigoso, onde Arthur descobre o poder da música que existe dentro de si. Com seu julgamento prestes a começar, a divisão do público se encontra entre raivosos apoiadores e críticos ferrenhos, então o ex-palhaço terá que decidir se quer seguir o caminho do caos ao lado de Lee.

    Afinal, Coringa 2 é um musical?

    Bem, um musical com Lady Gaga não é a opção que eu esperava quando anunciaram uma sequência de Coringa, mas cá estamos nós. Sim, Todd Phillips não gosta de descrever Delírio a Dois como um musical, mas os personagens se expressam através de canções… Isso é justamente ser um musical.

    Warner Bros Pictures

    Para um filme que se sustentou tanto pelo teor realista de sua história, é uma surpresa que a continuação seja tão ancorada na imaginação de Arthur - onde mesmo o seu mundo perfeito apresenta detalhes imperfeitos, uma forma legal de mostrar o quão fragmentada é a mente do protagonista. Existe, quase sempre, uma transição clara entre realidade e ilusão nos momentos musicais, quando os cenários ganham mais cores e estilos de clássicos longas do gênero, além de referências à Sonny & Cher.

    Mas, com a indecisão na hora de decidir se assume um estilo musical de forma completa ou volta para seu universo sombrio e decadente, Delírio a Dois acaba sendo um filme que não consegue satisfazer os fãs de nenhum desses dois gêneros. Para os fãs de quadrinhos, existem alguns elementos bacanas para reconhecer, como a presença de Harvey Dent (Harry Lawtey) ou um detalhe na cena final, se prestar bastante atenção. Mas, no geral, é um filme tão fragmentado quanto a mente de Arthur.

    Apesar de coloridos, os números musicais não são luxuosos de forma lúdica, então não é o suficiente para fazer o espectador sair cantarolando ou ouvir a trilha sonora nos streamings de áudio. Já o seu lado mais violento acaba ofuscado por essa necessidade de basear as canções em partes da realidade. Ainda tem momentos impactantes, mas sem a construção de tensão tão elogiada no primeiro Coringa.

    Lee de Lady Gaga não é a Arlequina que você conhece

    Warner Bros Pictures

    Porém, precisamos falar sobre Lee. Lady Gaga apresenta uma bela e intrigante performance para o longa, então nada de reclamações nesse sentido. Porém, a personagem subverte os conceitos já conhecidos ao redor de Arlequina. O que não seria um problema, se essa nova versão não servisse somente para satisfazer as necessidades já criadas em um filme anterior.

    Em sua primeira aparição nas telas nos anos 90, Arlequina surgiu apenas como um instrumento a mais do Coringa. Ao longo dos anos, ela foi ganhando autonomia nos quadrinhos e audiovisual, apresentando uma evolução no retrato desse relacionamento tóxico, trazendo essa discussão para diversos públicos. Aqui, é o contrário da origem dela: É Lee quem tem uma personalidade manipuladora, orientando Arthur numa tentativa de reaver o Coringa idolatrado por uma massa rebelde.

    Então, por um lado, sua vida gira totalmente em torno de Arthur (quase não temos vislumbres de sua trajetória antes de Arkham, apenas uma citação). Por outro, ela é um ser caótico que está manipulando uma vítima, invertendo os papéis entre Arlequina e Coringa. Mas podemos chamar um assassino psicopata de vítima? Talvez, considerando o histórico do casal, foi escolhida a personagem errada para fazer essa dinâmica, criada objetivamente para reforçar a ideia de “ingenuidade de Arthur”. Ela também desperta curiosidade, afinal quem não gostaria de ver Lady Gaga como Arlequina?

    Coringa: Delírio a Dois é melhor que o primeiro Coringa?

    Warner Bros Pictures

    Em defesa do filme, Delírio a Dois separa um espaço de sua duração para abordar as consequências graves da violência, em resposta à reação polarizadora do primeiro filme (pois, infelizmente, ainda vivemos numa sociedade onde a gente precisa praticamente desenhar que violência é algo ruim). Prova disso são as cenas que mostram o que aconteceu com outros personagens já conhecidos, com destaque para o depoimento do sobrevivente interpretado por Leigh Gill, um dos melhores momentos da continuação.

    Por mais que (o primeiro) Coringa não seja unanimidade entre o público, é fato que ele apresentava um novo ângulo para essa história, trazendo um estudo de personagem bem brutal. Por sua vez, Delírio a Dois entrega muitas coisas ao mesmo tempo, sem conseguir focar sua mensagem numa direção.

    Para um filme que planeja discutir a responsabilidade de assumir as consequências dos seus atos, a ideia de reforçar tanto a ingenuidade de Arthur parece não se encaixar nessa proposta.

    Claro, o retrato de como as instituições falham com os mais necessitados ainda funciona, mas fica apagado diante de tantas ilusões e números musicais. O espetáculo do caos parece mais relevante do que a mensagem crua apresentada no primeiro filme. Nesse sentido, não sei exatamente qual é o público-alvo de Coringa: Delírio a Dois. É um filme ousado, sem dúvida, com grandes performances de Joaquin Phoenix e Lady Gaga, mas não sobrevive à questão mais temida por sequências: Será que era necessário?

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