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    O Livro dos Prazeres
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    O Livro dos Prazeres

    A beleza no cotidiano

    por Barbara Demerov

    O filme O Livro dos Prazeres, adaptado do livro "Um Aprendizado ou Livro dos Prazeres", de Clarice Lispector, tem como maior qualidade a atuação de sua protagonista, Simone Spoladore. Na pele da personagem Lóri, uma mulher que passa por um complexo processo de redescobertas - tanto interna quanto externamente - , a narrativa flui com a mesma leveza de uma leitura tranquila, em que se acompanha não só o que é dito mas também o que está na imaginação.

    Dirigido por Marcela Lordy, este é um filme muito sensorial e que garante uma atmosfera que presta atenção exclusiva ao âmago do universo feminino. Ao longo da história, vemos Lóri, uma professora, expor suas camadas mais misteriosas (até para si mesma) ao passo que vai descobrindo o que é o amor através de outro professor: o argentino Ulisses (Javier Drolas). A personalidade intrigante de Ulisses não só prende a atenção da protagonista como também é a porta de entrada para esse processo em que ela olha mais para dentro para compreender melhor o mundo à sua volta.

    É ao longo dessa transformação a partir de olhares, posturas e atitudes que O Livro dos Prazeres mantém um ritmo agradável e sempre curioso. Diante da aproximação da diretora para com a personagem de Lóri, especialmente nos momentos íntimos em seu apartamento, acompanhamos a solidão dando espaço para um preenchimento inédito em sua vida. A busca pelo prazer carnal, que vemos desde o início do filme, nunca parece ser a solução -- o que faz com que a obra entre num processo de observação e Lóri se torne uma mulher multifacetada, com defeitos e qualidades.

    Lóri se fecha por receio e, ao mesmo tempo, se abre com sentimentos novos e excitantes. O Livro dos Prazeres também abre espaço para reflexões atemporais, e que muito conversam com a obra de Lispector: Afinal, dá para ser feliz sozinho? Ou será que as pessoas apenas conseguem ser felizes consigo mesmas ou com uma companhia especial quando elas se amam o suficiente? Estes são temas universais e que, no filme, ganham vida própria a partir de uma mulher tão incrível quanto falha.

    A atuação de Spoladore mantém tudo no mais alto nível de intensidade -- especialmente quando está sozinha em cena, em momentos que parece habitar cada centímetro de cada quadro. E, de forma complementar, o filme traz bastante contemplação nas cenas que expõem a rotina da protagonista e nos diálogos com Ulisses, que são capítulos um tanto imprecisos, assim como a vida. E, por falar em vida, a belíssima sequência com os créditos finais transmite bem a ambientação do filme como um todo, com a beleza pura originada do prazer.

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