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    Teerã: Cidade do Amor
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Teerã: Cidade do Amor

    As particularidades que tocam

    por Barbara Demerov

    O que há de efetivo em mostrar o dia-a-dia de três indivíduos que observam e procuram, mas não vivem de fato o amor? São as pessoas que criam os sentimentos ou são os sentimentos que formam as pessoas? Algumas reflexões como estas podem vir à mente do espectador durante Teerã, Cidade do Amor, cuja estrutura se inspira em filmes românticos (sobretudo americanos) que criam teias invisíveis entre os personagens, ligando-os de forma tão casual e sucinta que este simples ato já se torna poético.

    Com personagens que lidam com a solidão de diferentes formas, mesmo sem nunca estarem sozinhos fisicamente em cena, o filme de Ali Jaberansari bebe da fonte de um gênero amplamente conhecido, mas que ainda assim possui luz própria por abordar as minuciosidades que existem na capital do Irã e no interior da vida de cada um deles. Uma mulher trabalha em uma clínica de estética e "brinca" com alguns homens da lista de clientes como se fosse outra pessoa, mudando sua voz no telefone para parecer mais sexy e marcar encontros que nunca acontecem; um cantor de funeral se separa da noiva e busca mudar de área na música, indo para casamentos; e um personal trainer, outrora tri-campeão de bodybuilding, encontra um pupilo talentoso que também desperta um interesse amoroso.

    Os três possuem estilos de vida completamente diferentes e, mesmo com algum tipo de ligação direta, ela é sutil e não é o que mais importa. Este tipo de ligação entre o trio só tornaria o filme mais próximo de uma fantasia já configurada pelo gênero, onde o que mais importa é a ligação, e não a mensagem que existe no âmago. O que pesa neste filme é o recorte selecionado, que prioriza sobretudo o presente e se conecta a fundo com o que eles sentem e desejam. Estes personagens desejam amar e ser amados, e é por isso que, a cada desilusão ou surpresa imposta pelo roteiro, suas dores e frustrações se manisfestam de modo tocante.

    Apesar da montagem expor alternadamente cada um dos três indivíduos que dão vida à história, a sensação de uma crescente nunca é sentida – talvez porque a verdadeira graça está na ausência de um grande twist, pois a vida pode não entregar momentos dignos de um filme com James Dean ou Louis Garrell (figuras conhecidas que dão as caras no filme). Não há problema nisso se o pensamento recai mais para as vivências do ser humano, mas enquanto narrativa de cinema o ritmo se sai um pouco descompassado.

    O que Jaberansari almeja registrar em seu longa é algo que mais se parece como uma fábula que não foca tanto na narração ou na jornada de seus heróis comuns, mas no desejo de simplesmente chegar ao final dela. Tendo em vista que o principal foco é o amor e suas vertentes, nada mais justo do que usufruir como resultado algo imprevisível e essencialmente sentimental. De modo satisfatório, o diretor não se limita a uma abordagem cheia de pontos de intensidade, mas sim no que está no hiato entre grandes acontecimentos.

    Filme visto na 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro de 2019.

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