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    A Mulher da Luz Própria
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    A Mulher da Luz Própria

    Autoreflexão

    por Barbara Demerov

    "Quem é Helena Ignez?", indaga a própria Helena Ignez na abertura deste documentário dedicado inteiramente à sua persona. A vastidão de sua obra profissional e sua história pessoal, que transitou entre o Cinema Novo e o Cinema Marginal enquanto ela conquistava respeito e espaço como mulher no cenário artístico, são o maior foco de A Mulher da Luz Própria, filme de Sinai Sganzerla - uma das filhas de Ignez.

    Por mais que pareça ser num primeiro momento, este não é um documentário sobre a relação entre mãe e filha. Sganzerla mantém distância de Ignez e tem como foco apenas dar o palco para a atriz narrar toda sua trajetória - contada de uma forma sensível, íntima, como se fosse para um(a) amigo(a) ou para ela mesma. Ao começar com uma pergunta que pode ser tanto para o espectador como para si mesma, Ignez abre este livro de memórias em movimento passando pelos dias em que escrevia uma coluna social sob o pseudônimo de Krista, até quando passou a trabalhar com Rogério Sganzerla, seu companheiro por 35 anos.

    Dança, teatro e cinema. Estas três vertentes moldaram Helena Ignez como artista e pessoa, e tais paixões são bem explícitas no monólogo que permeia toda a narrativa. Alguns pontos já bem conhecidos, como sua relação com Glauber Rocha, ganham mais camadas com detalhes que vão no fundo de memórias com mais de meio século de vida. Ao som de Claire de Lune, vemos diversas imagens de arquivo que misturam o casamento, quando ainda eram jovens, e cenas de filmes de Ignez que conversam de forma belíssima com suas palavras: a vemos sozinha em seu quarto e sendo deixada para trás por um homem enquanto ouvimos que, à epoca, fora vista como uma adúltera - mesmo com todos à sua volta sabendo que Glauber também era infiel.

    A minúcia de Sganzerla em montar o filme de forma com que a grande maioria das cenas criem um diálogo com o que é proferido é admirável. Aliada à trilha-sonora, que ora fica mais densa, ora mais animada (como quando está no Rio de Janeiro), existe uma mesclagem com imagens atuais de Ignez contemplando a natureza - o que combina com o tom de seu monólogo e cria uma atmosfera serena, equilibrada no presente mesmo com um passado turbulento.

    Um documentário sobre esta figura do cinema brasileiro não poderia ganhar um título melhor. A Mulher da Luz Própria explicita bem os percalços e as glórias de quem não deixou sua estrela apagar. Mesmo sendo tida como musa (do Cinema Marginal, por exemplo) por muitos nacional e internacionalmente, Ignez nunca se autointitulou como tal. Assistindo a este documentário, fica ainda mais clara que seu objetivo principal sempre foi o mesmo: fazer arte e ser fiel a si mesma, não importa de qual forma.

    Filme visto no 8º Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba, em junho de 2019.

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