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    Rindo à Toa - Humor sem Limites
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Rindo à Toa - Humor sem Limites

    A saída necessária

    por Francisco Russo

    Início dos anos 80, quase duas décadas de ditadura militar no Brasil. Uma geração chegava à maioridade sem sentir na pele os abusos da falta de democracia, em um momento em que o regime autoritário também demonstrava uma certa fadiga. Período propício para uma certa ousadia, seja através da esculhambação do status quo ou mesmo pela necessidade em encontrar algum respiro, em meio à repressão reinante. É este cenário o tema principal do documentário Rindo à Toa, que busca investigar não apenas as iniciativas do período como, também, entender suas origens.

    Tendo como mola mestra a ascensão das revistas Casseta Popular e O Planeta Diário, em parte devido à presença de Cláudio Manoel dentre os diretores, o documentário entrega um amplo e variado painel sobre propostas que pipocaram especialmente no eixo Rio-São Paulo, nos mais diferentes formatos. Se as citadas revistas tiveram origem parecida, inspiradas pel'O Pasquim e nascidas em grupos formados na faculdade, o longa-metragem envereda também para iniciativas no meio teatral (Asdrúbal Trouxe o Trombone, Mauro Rasi, o besteirol), na música (Blitz, Ultraje a Rigor, Vexame), nos quadrinhos (o trio Angeli-Laerte-Glauco) e a própria televisão (Ernesto Varela, Armação Ilimitada, TV Pirata). Todos em busca do diferente, de uma linguagem não-convencional onde houvesse a possibilidade de dialogar com o público, mesmo que para tanto fosse necessário apelar à vulgaridade, sem deixar de lado um forte tom crítico.

    Entender esta revolução, que nasceu inconscientemente no meio artístico e aos poucos encampou o público, é também compreender (um pouco) as vindouras Diretas Já! e a transição da ditadura para a democracia, em 1989. Passada a época da guerrilha, a luta agora acontecia no campo intelectual com o objetivo de conquistar corações e mentes, mesmo que a mensagem anti-repressão não esteja (de toda) explícita - vide Blitz e suas canções divertidas de fundo teatral, que iam de encontro a toda uma estrutura formal existente até então. Provocar, seja lá de que forma for, era não só o objetivo, mas também uma necessidade.

    Para captar este espírito, o trio de diretores apresenta não só muitas cenas de arquivo mas também dezenas de entrevistas. É a partir de depoimentos de gente que não só viveu aquela época, mas também sobreviveu a ela, que aos poucos se monta este imenso cenário underground pulverizado e, também, como aos poucos todos foram capturados pelo mainstream, de alguma forma. O sistema, como sempre, se retroalimenta com aqueles que possam mantê-lo adiante, oferecendo em troca melhores condições de vida e de trabalho.

    Isto, no fim das contas, é um subtexto que pode-se constatar ao assistir Rindo à Toa. O objetivo maior é mesmo ressaltar tal movimento a partir de seus variados artífices, por mais que em determinado momento o documentário se perca ao ir além de sua meta original. Ao abordar fenômenos como Sai de Baixo e Hermes e Renato, ambos lançados nos anos 90, o enfoque na reação inconsciente à ditadura se perde em nome de outra discussão, mais ampla e atual: os limites do humor. Só que, até mesmo pelo pouco tempo ainda disponível e a ausencia de pluralidade acerca dos entrevistados, soa como um debate incompleto e inconclusivo. Tema, talvez, para um outro documentário.

    Enquanto se mantém dentro de seu objetivo principal, Rindo à Toa cumpre sua função com competência, mesmo se atendo ao binômio cenas de arquivo/entrevistas tão comum ao gênero. Ainda assim, vale não apenas como pesquisa sobre uma época mas, também, para compreender como era a maneira de se expressar em um período tão diferente dos dias atuais, quando a internet, e a liberdade decorrente dela, sequer eram sonhados.

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