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    O Desmonte do Monte
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    O Desmonte do Monte

    A História não pode ser enterrada

    por Barbara Demerov

    Quando um documentário é feito com base histórica, ele naturalmente já carrega consigo certa relevância. No caso de O Desmonte do Monte (estreia de Sinai Sganzerla como diretora), é inegável que o estilo em que é contada a história do Morro do Castelo, local marcado pela fundação do Rio de Janeiro no século XVI, se sobressai juntamente com seu conteúdo - este descrito minuciosamente.

    Com resultados abafados através das décadas, o Morro do Castelo foi o local escolhido pelos portugueses para sediar as primeiras moradias da sociedade e, posteriormente, foi destruído a fim de 'limpar' e atualizar a cidade. O documentário traça um panorama de centenas de anos de vida do Rio de Janeiro e utiliza, de forma exímia, a iconografia sobreposta à narração de Helena Ignez (mãe da diretora), Negro Leo e Marcos Alvisi. Tais narrações são feitas com tom melancólico e reflexivo, dando ênfase nas questões abordadas e abrindo o leque de interpretação para associar com desmontes que ainda acontecem nos dias atuais. tomando como exemplo a Vila Autódromo (RJ) por conta das Olimpíadas de 2016.

    O extenso material de arquivo que é apresentado ao longo do documentário dá toda a profundidade necessária para ser possível o embarque a um passado que deveria ser mais notório e discutido. Além disso, a dinâmica da montagem com o material torna a experiência extremamente construtiva e esclarecedora. No entanto, a estrutura diferenciada sem muitas imagens em movimento, como se tudo fosse lenda, pode tornar ligeiramente cansativa a experiência para o público menos familiarizado com tal formato. No mais, tanto esclarecimento em tela faz valer o tempo de pesquisa: a diretora trabalhou por 5 anos para construir a linha narrativa de seu filme.

    Somado a alguns depoimentos de ex-moradores do Morro do Castelo, Sinai Sganzerla dinamiza o extenso material que tem em mãos com narrações profundas, que abordam pontos como escravidão e a remoção dos índios de seu próprio espaço. O Brasil tem mais história do que se pode imaginar, e O Desmonte do Monte mais uma vez reforça tal afirmação com a entrega de um material rico da cultura deste país.

    Filme visto em julho de 2018 na 1ª edição do Festival Internacional de Mulheres no Cinema.

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    Comentários

    • Zilda K
      Apesar do rico material a que teve acesso, fica clara a falta de uma compreensão histórica acerca do tema. Temporalidades se misturam, fatos são jogados sem um fio que os articule, marcos são omitidos, há abuso de clichês comuns nos livros didáticos da escola básica. Além disso, é incompreensível que prefira filmar livros com imagens que estão disponíveis nos museus, na Biblioteca Nacional e no arquivo do IHGB, todos no Rio de Janeiro. Se pouco divulgada, a derrubada do Morro do Castelo é objeto de muitos estudos históricos. Uma pena um material tão rico numa narrativa mal articulada
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