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    La Cama
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    La Cama

    Vidas descontruídas

    por Francisco Russo

    A sequência de abertura de La Cama é tão surpreendente quanto esclarecedora: um casal de terceira idade, inteiramente nu, em plena tentativa de ato sexual na tal cama do título. A surpresa nem é pelo sexo em si, mas pela cumplicidade escancarada existente entre a diretora Mónica Lairana e os atores Alejo Mango e Sandra Sandrini, que se expõem sem qualquer pudor diante das câmeras. Esclarecedora porque, nas minúcias do ato, muito se revela sobre estes personagens que, no fim das contas, estão bem longe do êxtase.

    Descobrir quem são Jorge e Mabel é a grande atração deste longa-metragem, graças ao quebra-cabeças emocional apresentado aos poucos. Seja pelo modo como um trata o outro ou mesmo pela ambientação da casa retratada, pode-se concluir muito sobre a época em que a história acontece e, mais ainda, o passado do casal protagonista a partir de detalhes espaçados aqui e ali, nem sempre óbvios, que requerem um espectador atento. Para tanto, a diretora (e roteirista) com habilidade trabalha o tempo morto, exercitando o silêncio e a ausência de diálogos para trazer uma história recheada de dores do passado. Soma-se a isto uma fotografia que assume o posto de voyeur, seja pelo posicionamento um pouco distante ou mesmo por, intencionalmente, deixar à mostra as frestas da porta do quarto, como se revelasse mais do que deveria.

    Tal conjuntura demonstra que, acima de tudo, La Cama é um filme meticulosamente planejado, tanto no lado estético quanto narrativo, o que de imediato lhe rende pontos. O grande problema é que, dentro de tal estrutura, Lairana se prende a uma rigidez excessiva que prejudica bastante o longa-metragem. A partir do momento em que os códigos desta história são decodificados nada mais resta senão o tédio, muito pelo fato do filme a todo instante se repetir em uma busca incessante por cenas de desfecho desperdiçadas. A inexistência de qualquer fato novo, ou mesmo alguma dinâmica diferente entre os personagens, faz com que tal proposta rapidamente se esgote, levando o filme - e o espectador - a um cansaço extenuante.

    Diante disso, La Cama é um longa-metragem que funcionaria bem melhor caso fosse um média, ou mesmo um curta-metragem. No decorrer da narrativa ainda é possível notar uma certa fragilidade, quando o enxuto elenco é obrigado a ir a extremos emocionais - especialmente em relação a ela, fica escancarada a artificialidade de certas cenas. O que, mais uma vez, impede que o filme vá além de um mero jogo de narrativa cinematográfica, interessante a princípio mas jamais envolvente.

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