A comédia tem uma obrigação? Ou várias obrigações? Se tem, qual é? É possível falar em humor fácil, que se preocupa somente com risadas altas? Ou será que é humor aquilo que é dito e que causa o que podemos chamar de "riso interno", tão agradável quanto uma gargalhada?
Enquanto ator de teatro, e como pessoa que frequenta o teatro e os cinemas desde muito novo, eu fui criando vários tipos de gosto. E fui percebendo que o que é bom não é a comédia ou o drama. O que é bom é o que é bom. É aquilo que se preocupa não com sua vaidade, mas que se preocupa com quem a emoção do público. Seja ela manifestada com um riso, uma lágrima, uma batida de coração acelerada.
Mas, será que isso é somente um ponto de vista? Bom, se é, sei que é o meu. Muitas vezes, me emociono não com o texto, mas com a qualidade do trabalho de atuação. Ou rio não com o roteiro, mas com as caracterizações assumidas pelo personagem.
"Minha vida em Marte" é a sequência de "Os homens são de Marte... e é pra lá que eu vou", que conta a história de Fernanda, vivida por Mônica Martelli, em busca do grande amor. No roteiro atual, ela já está "em Marte", casada com Tom, personagem de Marcos Palmeira, e mãe da pequena Joana. Apesar da história ter como pano de fundo o casamento de Fernanda e Tom, o foco do filme é a relação de amizade com Aníbal, de Paulo Gustavo, que está fantástico. Paulo é genial nas suas criações de personagem, com uma série de preocupações que chega a parecer que ele respira como o personagem, e não como o ator. Fernanda e Aníbal possuem uma empresa cuida da festa de casamento dos casais.
Este filme possui um roteiro muito corajoso. Digo isto porque Mônica mexeu numa área que incomoda demais à sociedade, em especial uma sociedade como a brasileira, que tem no casamento um pilar quase que sagrado. Discutir sobre sua obrigatoriedade, sobre estar ou não em uma relação, e sobre a possibilidade de sua dissolução é como cutucar um vespeiro.
No entanto, ela o fez com muita dignidade, porque em nenhum momento o filme questiona a validade do casamento. Ele não é agressivo com essa instituição. Não questiona sua importância e também investe em dizer sobre o respeito que ambos devem ter um pelo outro.
O longa traz também um tipo de relação a dois que as pessoas ainda estão descobrindo o real valor, que é a amizade. Aníbal e Fernanda são muito importantes um para o outro e apesar de tratar-se de uma comédia é lindo ver o amor que compartilham.
Enquanto colunista, digo que se a pessoa não curte comédia, não vale a pena assistir. Porque quem não gosta de comédia sempre dá um jeito de encontrar defeitos. Porém, "Minha vida em Marte" é um filme delicioso, que vale muito ser assistido. Ele confere risadas altas, risos internos e, fique tranquila ou tranquilo. Se você vive um relacionamento a dois, e está bem com essa pessoa, não sairá do cinema questionando se deve rompê-lo. Pelo contrário, sairá contente com o que viu. E se tem uma boa relação de amizade, será muito grato por isso.