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    #SCREAMERS
    Críticas AdoroCinema
    1,0
    Muito ruim
    #SCREAMERS

    Os caçadores de memes

    por Bruno Carmelo

    O found footage entrou na era das redes sociais. O subgênero do terror no qual os vídeos, supostamente gravados por amadores, captam por acidente crimes e mortes, foi imortalizado por A Bruxa de Blair e Atividade Paranormal. Agora, ele é transportado à cultura fast food dos gifs, memes, fake news. #Screamers gira em torno de uma jovem empresa de Internet, a Gigaler, um derivado de YouTube, Facebook e Google, concebido para divulgar vídeos pessoais. Um dia, os jovens criadores Tom (Tom Malloy) e Chris (Chris Bannow) descobrem um vídeo genial que gera muito lucro à empresa, e decidem buscar os criadores do material.

    O conceito poderia seduzir o espectador por fugir aos elementos clássicos do gênero: não há florestas assustadoras, casal mal-assombradas nem presenças demoníacas à vista. A equipe do site é cuidadosamente pensada para incluir uma mulher sem envolvimento amoroso com nenhum outro personagem (Abbi Snee), além de um cinegrafista negro e gay assumido (Griffin Matthews), bem inserido no mercado profissional. Ou seja, passamos de um imaginário folclórico para uma configuração urbana e contemporânea. O problema é a verossimilhança deste retrato que se pretende tão colado à realidade.

    Primeiro, o conceito por trás da Gigaler é simplório: os diretores vendem a ideia de um algoritmo como se tivessem descoberto em 2017 a possibilidade de rastrear as preferências dos internautas. O vídeo anônimo, com um figura assustadora pulando em frente à câmera, é apresentado como o material mais inovador de todos os tempos, embora pareça uma pegadinha televisiva banal. O roteiro sugere que a popularidade deste material é tão grande que a empresa não poderia se sustentar financeiramente sem ele. Mesmo dedicando mais da metade de sua narrativa à rotina enfadonha da empresa, o filme não consegue criar um ambiente de trabalho verossímil. Aqueles jovens adultos parecem não ter nada para fazer o dia inteiro.

    Segundo, não existe noção de terror, nem de suspense. Em outras palavras, não há tensão. Os quatro protagonistas buscam a criadora do vídeo, mas não são perseguidos, não se sentem ameaçados. A figura com uma máscara é claramente encenada. Durante dois terços de #Screamers, a narrativa se repete sem confrontar os personagens a nenhum conflito digno de nota. O resultado é tão divertido quanto ver os seus amigos discutindo durante uma hora sobre um meme de gatinho encontrado na Internet. O filme quer sugerir que existe algo muito sério por trás desta paródia, mas falha na tentativa de se estabelecer tanto como terror quanto como humor.

    Mais engraçado ainda é ver estes profissionais de vídeos caseiros irritadíssimos quando descobrem que a autora do vídeo pode ter encenado a aparição da criatura. Ninguém imaginava que existem vídeos falsos e fictícios na Internet? É difícil acreditar nesses personagens. Por mais que a interação seja verossímil em termos de diálogos e atuações, o projeto não encaminha seus personagens e lugar algum. O suposto vilão - a aparição do vídeo - não possui um passado, um objetivo, um modo de agir. Ele termina sendo apenas uma imagem, um tipo com uma máscara. Se realmente mata, não sabemos como o faz. Na hora de mostrar as garras, o filme se acovarda.

    São perceptíveis em #Screamers as referências a A Bruxa de Blair - a clássica cena da câmera caída no chão, captando sozinha um momento assustador, em contra-plongée - e Atividade Paranormal - o exibicionismo de uma criatura que não aparece a olho nu, apenas quando uma câmera é colocada à sua frente. Mas estas duas obras trabalhavam a noção crescente de paranoia, de perigo que poderia, ou não, ser real. Ambos estimulavam a imaginação do espectador, criando o medo. Já o filme de Dean Matthew Ronalds é tristemente incapaz de sugerir algo além da superfície das suas imagens. Não existe metáfora, ambiguidade, nem mesmo algum comentário sobre o uso nocivo da Internet. No final das contas, o monstro meio tosco do vídeo não era mais do que isso: um monstro meio tosco, sem origem nem destino.

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