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    Macaco Tião, O Candidato do Povo
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    Macaco Tião, O Candidato do Povo

    Animal político

    por Taiani Mendes

    Provavelmente o mais famoso habitante da história do zoológico do Rio de Janeiro, Tião era um chimpanzé que andava como homem, fazia careta como criança, posava para fotos como estrela e aprontava como uma peste. Celebridade animal na década de 1980, entrou na política em piada da trupe do Casseta & Planeta e acabou sendo um dos candidatos mais votados na eleição para prefeito da cidade dita maravilhosa no ano de 1988. Terceiro lugar? 10% dos votos? Escolha de 400 mil eleitores? Não há consenso a respeito do desempenho do primata nas urnas, mas fato é que muita gente escreveu seu nome na cédula de papel, seja por apoio à zoeira, protesto ou falta de candidato melhor. Alex Levy Heller (O Relógio do Meu Avô) reconta a curiosa história através de depoimentos de atores fundamentais no processo no documentário Macaco Tião, O Candidato do Povo.

    A narração do incrível acontecimento protagonizado por um personagem maravilhoso como Tião já é meio caminho andado para o filme ser no mínimo digno de ser visto, pois não há quem não tenha vontade de relembrar a loucura, saber mais detalhes ou descobrir pela primeira vez o que ocorreu. Macaco Tião, no entanto, não é um longa-metragem muito bem acabado e a partir de determinado ponto parece mais interessado nas piadas políticas da turma formada por Hubert, Cláudio Manoel, Helio de la PeñaMarcelo Madureira e cia do que no macaco propriamente. É necessária a abertura de espaço aos humoristas que “adotaram” Tião, inventaram a candidatura e comandaram intensa campanha com direito a jingle, showmício e camisas. A participação deles, porém, se estende além do compreensível, ao passo que nada é dito, por exemplo, pelo cuidador de Tião a respeito da disputa eleitoral. E quem foram essas pessoas todas que acharam aceitável votar nele, o povo do título? Como os concorrentes viram o “fenômeno” na época? Como o resultado improvável foi recebido? Os Cassetas dizendo frases engraçadinhas roubam holofotes que deveriam ser totalmente do Candidato do Povo, o dito Pelé do Zoo.

    Tião é protagonista apenas na primeira parte da obra, quando sua trajetória é contada por funcionários do zoológico. Os humoristas entram em cena para comentar a campanha e suas motivações e então o documentário abre espaço para a discussão do problema da democracia com falas relevantes de especialistas como o economista Sérgio Besserman, o antropólogo Roberto DaMatta e o cientista político Jairo Nicolau, prejudicadas pela má organização do conteúdo dentro do longa-metragem. A “embalagem” também não ajuda. Os planos têm cabeças cortadas e iluminação descuidada e a montagem insiste numa sobreposição de manchetes e repetidas imagens de arquivo que ofusca as informações ao invés de destacá-las. Vacilos bobos que no fim das contas deixam o filme com cara de projeto de conclusão de curso universitário feito sem muita dedicação à pesquisa e capricho técnico.

    É bacana a lembrança do precursor Cacareco e uma pena que a fama internacional de Tião passe batida – como não ir fundo na sondagem ao chimpanzé para a presidência dos EUA em 1992? Entre o protesto contra “tudo isso que está aí” – o Ultraje a Rigor canta "Inútil" enquanto fotos dos presidentes do Brasil são mostradas –, uma confusamente explicada Teoria do Macaco Infinito e intervenções sem graça evocando o espírito malandro do protagonista, o grito mais forte que Macaco Tião, O Candidato do Povo dá é contra o voto obrigatório. Repetindo o que fizeram os humoristas, Heller usa Tião meramente para a crítica política, não se importando com o debate do aprisionamento animal ou mesmo como foi sua vida depois do auge da fama até a morte por diabetes em 1996. Deixa a desejar como cinebiografia e como retrato de um determinado evento.

    Filme visto no II Festival Imperial de Cinema de Petrópolis, em outubro de 2017.

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