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    Wajib - Um Convite de Casamento
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Wajib - Um Convite de Casamento

    Um "road movie" sobre passado, presente e futuro

    por Barbara Demerov

    Wajib já começa com uma tradição palestina: quando uma mulher está prestes a se casar, os responsáveis por entregar todos os convites do casamento são os familiares – e apenas os homens, de preferência pai e irmão. Isso faz com que o professor Abu Shadi e seu filho Shadi peguem o carro para andar por Nazaré e entregar cada um deles pessoalmente. Essa premissa aparentemente simples é apenas o ponto de partida para uma verdadeira viagem não só por uma cidade ainda arcaica em modos e pensamentos, como também por questões políticas, sociais e íntimas, vistas de modos bem diferentes por pai e filho.

    O trabalho da diretora Annemarie Jacir em nos inserir dentro daquelas perspectivas distintas é exímio e praticamente imediato. A própria palavra "wajib" significa dever/obrigação, e tal tarefa é interpretada de maneiras opostas por Abu e Shadi: o pai, extremamente tradicional, valoriza cada dever de sua sociedade; já o filho encara com outros olhos estes antigos hábitos, hoje praticamente insuportáveis devido às suas novas experiências em Roma, atual local onde mora. O retorno de Shadi à sua cidade de origem faz com que diversos assuntos sejam postos na mesa diante de seu pai: a namorada na Itália, o novo estilo de se vestir e a mente ainda mais aberta do jovem são vistos com desdém e impaciência por Abu, que diz direta e indiretamente como gostaria que seu filho fosse – variando suas opiniões entre trabalho e escolhas amorosas.

    A cada casa e família visitada a fim de entregar os convites do casamento da irmã, Shadi vai relembrando sua vida antiga e discutindo-a com seu pai. Cada visita serve como uma "pausa" nas discussões ou até a extensão de algumas (caracterizadas principalmente com alguns olhares e indiretas), mas tudo é apresentado com uma sensibilidade absolutamente natural, assim como é a vida e grande parte das relações entre pais e filhos. Apesar de discordarem de inúmeras coisas, a afeição de Abu com Shadi (e vice-versa) é palpável. O fato dos atores serem pai e filho na vida real só reforça a sinceridade em cada olhar, que misturam carinho com estranheza, fascínio com repreensão.

    O longo percurso de carro é também um percurso de conhecimento que proporciona a ambas as mentes uma nova perspectiva de mundo – ou, no caso de Shadi, o respeito pelos meios de vida do pai. Cada conflito da dupla oscila entre o conservadorismo de uma sociedade e o progresso de uma nova geração que, apesar de tentar entender as razões pelas quais os mais velhos seguem passos impostos em outras épocas (como é o caso da escolha antiquada que o pai faz com relação a banda que tocará no casamento da filha), quer seguir a qualquer custo um caminho diferente.

    Apesar de possuir alguns bons momentos de tensão e encarar de frente velhos costumes que fazem parte das vidas daquela região, Wajib nunca chega ao nível de se tornar um filme com personagens intolerantes e desrespeitosos. A escolha intimista da diretora em abordar tantos temas difíceis sob a perspectiva de dois parentes resulta em um filme humano e sensível, demonstrando as divergências que podem existir em famílias não só palestinas como do mundo inteiro. O casamento da filha de Abu é o que está na superfície daquela família; o que importa (e o que permanece) é justamente a troca de pensamentos, dúvidas, objeções e, como podemos ver na última cena, de compreensão e amor.

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