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    Historietas Assombradas - O Filme
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Historietas Assombradas - O Filme

    Medo de mentirinha

    por Francisco Russo

    Por mais que nos últimos anos tenha demonstrado uma bem-vinda ousadia aliada à diversidade, tanto nos curtas quanto nos longas, a animação brasileira ainda carece de um grande sucesso de público, inexistente desde os filmes estrelados pela Turma da Mônica na década de 1980. Historietas Assombradas, longa de estreia do diretor Victor-Hugo Borges, é a nova tentativa nesta árdua tarefa, a partir de uma caminhada um tanto quanto inusitada.

    Lançado inicialmente como curta-metragem no Festival do Rio de 2005, Historietas Assombradas (para Crianças Mal-criadas) trouxe a essência do que viria a se tornar uma das séries animadas de maior sucesso na TV por assinatura: a mescla entre terror e graciosidade, no melhor estilo Tim Burton, de forma a entreter a partir de criaturas bem distantes da fofura idealizada nos filmes da Disney. Com isso, os traços escuros sobressaem em meio a personagens intencionalmente fora do convencional, o que pode assustar (um pouco) os menores. Entretanto, não é preciso ter medo: tanto o curta - feito em animação stop motion, aquela tipo massinha de modelar - quanto o longa - em 3D multicolorido - são dosados de forma a também atrair o público infantil, brincando de forma bem-humorada com seus medos.

    Em sua versão longa-metragem, Historietas Assombradas dialoga mais com a série do que propriamente com o material original devido à escolha do garoto Pepe como protagonista. Logo de início, o espectador é tragado em uma jornada repleta de símbolos do terror onde um bebê é largado por seus próprios pais na porta de uma bruxa, já que são perseguidos por vilões que, no fim das contas, representam o confronto entre magia e ciência. Se Pepe e sua avó convivem em um mundo mágico e cheio de surpresas, seus antagonistas buscam afastar a morte através da implantação de membros biônicos no próprio corpo - o que automaticamente lhes traz um visual robótico mais sombrio.

    O pulo do gato é justamente este preâmbulo, já que na série nunca foi explicada a origem do relacionamento entre Pepe e a avó - ou seja, por mais que não seja necessário assistir aos episódios para conferir o longa-metragem, há uma preocupação em ir além da mera adaptação de formato envolvendo os personagens. Tamanha ambição pode ser notada não só na qualidade da animação mas, também, na presença de piadas mais adultas, dispostas a agradar mais aos acompanhantes do que às crianças. O exemplo maior é a hilária situação envolvendo os pais da jovem Marilu, críticos especializados do jornal de casa.

    Com personagens cativantes que não têm medo de expôr seus interesses pessoais e uma trilha sonora bem roqueira, Historietas Assombradas é um filme que jamais deixa o ritmo cair, ao mesmo tempo em que dá algumas cutucadas nos clichês da animação - tem até paródia às onipresentes canções, com direito a citação a O Fantasma da Ópera! Se por um lado o roteiro por vezes não explica direito o porquê do que ocorre na telona, se valendo da agilidade típica de histórias mais amalucadas, tal deslize é compensado pela diversão entregue, para adultos e crianças. Fica ainda um aviso: há uma cena pós-crédito bem bacana, que merece ser conferida.

    Filme visto no 19º Festival do Rio, em outubro de 2017.

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