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    Talk-show - Reinventando A Comédia
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Talk-show - Reinventando A Comédia

    Quase não é lá

    por Laysa Zanetti

    Há algo a ser dito, sobretudo no momento após o auge do movimento Time’s Up e em uma época em que Hollywood tenta parecer mais interessada em histórias protagonizadas por mulheres e no questionamento do status quo, sobre uma comédia que se passa nos bastidores de um Talk Show de entrevistas liderado por uma mulher, mas cuja sala de roteiristas é dominada primordialmente por homens. Esta é a premissa de Late Night, que inevitavelmente mistura as experiências pessoais de Mindy Kaling com elementos de ficção, entregando uma obra que traz um assunto pertinente, embora se resguarde de tratar o tema com mais seriedade.

    A escolha criativa de não aprofundar o tema não é exatamente um problema, tendo em vista justamente que o roteiro de Mindy Kaling traz ritmo e dinamismo à história. O conflito é relativamente simples: Katherine Newbury (Emma Thompson) é ameaçada de demissão do próprio programa caso não consiga reverter as quedas de audiência, e decide contratar uma nova roteirista para a sua equipe após ser acusada de, basicamente, reforçar o discurso machista. Quem entra para a história é Molly (Kaling), que apesar de ser fã do programa, chega para mudar o formato e apontar todos os problemas tanto de seus colegas quanto de sua chefe.

    A partir deste princípio, o filme mergulha em uma discussão que indiretamente conversa com muitas produções que, a princípio, desejariam ser vistas como pró-feministas, mas não muito. Há uma mulher à frente do projeto, como o rosto principal do programa, mas todas as decisões e todas as pautas são pensadas por mentes masculinas, com a visão para agradar justamente a este público: sem grandes riscos, sem tocar em qualquer eventual ferida. É o desejo de se posicionar e de ser transgressor sem de fato assumir uma postura transgressora, sem sofrer o ônus de perder uma parcela do público que naturalmente se afastaria de um programa que não reforça pontos de vista ultrapassados.

    De uma certa forma, é também o que acaba acontecendo com o próprio filme, que pisa no freio antes de precisar realmente apontar os verdadeiros problemas ou vilões da situação. Neste sentido, Late Night se prende a reviravoltas fáceis e a uma estrutura narrativa que se atrela demasiadamente a personagens cartunescos, o que sempre empobrece a discussão e faz com que a conclusão chegue a um ponto bastante anti-climático.

    Ainda assim, é corajosa a denúncia feita por Mindy Kaling, e o resultado é carismático — um bônus, aliás, catapultado também pela atuação sempre intrigante e cativante de Emma Thompson. Não é a comédia mais brilhante do ano, mas é uma que, ainda assim, tem bastante a dizer e a acrescentar — e diz.

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