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    Em 97 Era Assim
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Em 97 Era Assim

    Fantasias juvenis

    por Francisco Russo

    Nostalgia, teu nome é Em 97 Era Assim. Já na primeira cena o diretor Zeca Brito estabelece tal conexão ao espectador, com um superclose em um... walkman. Tão datado quanto marcante para uma geração, o objeto é apenas o primeiro de uma sucessão que imeditamente estabelece um mergulho do tempo ao som do hino jovem "Alright", do Supergrass. Da banca de jornal à videolocadora - saudades! -, conhecemos então quatro garotos, na faixa dos 15 anos, que sofrem da mesma aflição: a descoberta da sexualidade.

    Não é de hoje que o cinema investe neste momento em que os hormônios borbulham e a ansiedade reina. Dos icônicos Porky's e American Pie ao brazuca O Último Virgem, eles não costumam fugir de um certo lugar comum envolvendo estereótipos e trapalhadas, com pitadas de vulgaridade e até mesmo machismo intrínsecas. Em 97 Era Assim não foge à regra, ao investir no olhar juvenil masculino que, muitas vezes, vê o sexo oposto apenas como objeto de (muito) desejo, sem se ater a questões como compreensão e reciprocidade que apenas o amadurecimento amoroso proporciona. Natural.

    É interessante notar como o roteiro de Leo Garcia trabalha esta questão do tesão explodindo. Por mais que um dos personagens até tenha um perfil romântico, com a amiga de colégio que é também a garota de seus sonhos, o filme também escancara tal urgência hormonal a partir da procura (e dedicação) para transar, com quem quer que seja. O ato em si é mais importante (e emblemático, vide a insistência na perda da virgindade) do que a qualidade da experiência, atitude perfeitamente compatível com a idade dos personagens. Neste contexto, os excessos vulgares e machistas existem muito mais para ressaltar que tal viés existe do que propriamente ao defendê-los. Comparando com seus irmãos de gênero cinematográfico, os filmes citados no parágrafo acima, Em 97 Era Assim é bem mais ameno.

    Muito porque há um claro interesse em abordar tal história sob a ótica da nostalgia. Com um punhado de referências que inevitavelmente farão abrir um sorriso na turma que está na casa dos trinta, o longa-metragem diverte ao ressaltar verdadeiras aberrações aos olhos contemporâneos, como jogos de computador divididos em quatro diskettes e a Banheira do Gugu. Tudo ao som de ícones musicais da época, como É o Tchan e "Selim", dos Raimundos - quer música melhor para ressaltar o tesão juvenil do que esta? -, alinhados à fotografia dessaturada de Bruno Polidoro, em busca de um ar antiquado. A cuidadosa direção de arte, dos carros vistos em cena ao figurino, completam tal esforço em recriar a impressão visual de uma época.

    Diante de tamanha contextualização, Zeca Brito opta por construir um filme de causos em torno de seus personagens, explorando arquétipos clássicos: o romântico, o nerd, o tarado, o transgressor, o sem noção, a garota dos sonhos. Se a nostalgia é também impulsionada pela ingenuidade, tal proposta narrativa enumera situações que poderiam jamais ter fim, como uma imensa coletânea de memórias. Explorar a amizade entre os garotos como elo de continuidade por um lado os fortalece como grupo, mas também fragiliza o roteiro como um todo, que vive de momentos. Ainda mais devido a uma certa instabilidade de ritmo, muito pontuada pela edição que, em várias sequências, se alonga um pouco além da conta.

    Simpático e bem construído, Em 97 Era Assim é um filme de exaltação à uma época de vida. Com um elenco jovem correto, onde quem se destaca mais é o carismático João Pedro Corrêa Alves, o longa abre mão de peripécias narrativas e até mesmo uma certa originalidade em nome de seus valores fundamentais: amizade e nostalgia. Dentro do que se propõe a ser, funciona.

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