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    Cromossomo 21
    Críticas AdoroCinema
    1,0
    Muito ruim
    Cromossomo 21

    Eufemismo: ingênuo

    por Rodrigo Torres

    Cromossomo 21 é um projeto repleto de afeto. Movido pelo anseio louvável de visibilizar pessoas com Síndrome de Down, relatando casos de inserção e conquista de independência motivados pelo esforço e talento delas, Alex Duarte promove a iniciativa como um bom publicitário (título de sua formação universitária), em diversas frentes: dois livros lançados, palestras sobre o tema e a websérie Geração 21 — bem simples, porém eficaz em termos de proposta e, de modo geral, correta quanto à aplicação do formato documental.

    Infelizmente, porém, não se pode dizer o mesmo sobre o longa-metragem ficcional que é o carro-chefe dessa ação. A boa intenção de Alex Duarte surge sola, destituída de aptidão cinematográfica. Falhas graves de operação de câmera, enquadramento e posicionamento dos atores em cena, âmbito básico da linguagem audiovisual, denotam um amadorismo compreensível: o entusiasmo do jovem diretor e roteirista foi quem o colocou atrás das câmeras, assim realizando um trabalho independente, colaborativo, movido pela paixão e pela benevolência, sem visar (necessariamente) à consagração artística.

    O grande problema é o fato de Alex Duarte não fazer de Cromossomo 21 uma ficção condizente com sua proposta. A protagonista Vitória é mesmo uma menina articulada, assim como sua intérprete, Adriele Pelentir — algo que parece acontecer em frente à câmera por mera casualidade (como a débil direção dos atores revela). Pois, em vez de acentuar essas qualidades, o cineasta demonstra uma visão viciada de pessoas com Síndrome de Down, ilustrando suas capacidades com amenidades como dançar e cantar, representando seu poder de expressão a um inocente dedo do meio em riste. Quando não isso, um ato heróico como impedir um atropelamento. Por que não feitos cotidianos, ofícios reais, plausíveis, como em Geração 21?

    Alex Duarte assim se equivoca sem qualquer lastro de maldade. Ao contrário: ingenuidade é um termo que define bem Cromossomo 21. Logo após uma narração nada inspirada e um tanto precipitada discursar, ao som de um pianinho, a finalidade benevolente da obra (algo que a trama deveria operar por si só), surge um personagem que se finge de cego. A desculpa de Afonso (Luís Fernando Irgang), de que faz aquilo para testar a solidariedade das pessoas, não atenua sua falta de bom senso — na verdade, ainda acentua essa falha no diretor. Ambos tentam (de maneira frustrada e frustrante) justificar um comportamento tão bizarro em âmbito real que também se torna questionável como manipulação narrativa. Em se tratando de um filme que prega em favor de pessoas com deficiência, explorar uma condição dessa forma vai além do deselegante; soa contraditório. Mais uma vez, parece ingenuidade de alguém que ainda não domina bem o que faz.

    Essa inexperiência se manifesta em toda a dramaturgia de Cromossomo 21, o que afeta o potencial de sua premissa. A total superficialidade dos diálogos, alguns com certo mau gosto, declamados por personagens que não passam de estereótipos, não se ajustam à proposta dramática do longa. A maior prova disso são os momentos em que a melhor atriz do elenco, Deborah Finocchiaro, confere verossimilhança e pungência às cenas. Com seu talento e perícia, ao lado de Pelentir, surgem os únicos momentos comoventes. E com uma maturidade que Alex Duarte poderá adquirir fazendo mais obras de ficção. Não tem segredo: uma boa ideia só atinge sua meta grandiosa (ser um veículo de conscientização de ampla adesão via esforço criativo, como o cinema) com o devido intermédio de planejamento e preparação. Sem pular etapas e cuidadosamente. Que assim seja em seus trabalhos futuros.

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