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    Bye Bye Alemanha
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Bye Bye Alemanha

    Malandragem pós-traumática

    por Bruno Carmelo

    Comédias sobre o nazismo sempre constituíram empreitadas arriscadas, porém válidas como tentativa de exorcizar o peso do tema. Uma comédia sobre os traumas do nazismo, do ponto de vista dos judeus sobreviventes, soa como um projeto ainda mais delicado. No entanto, o diretor Sam Garbarski acredita ser possível conjugar na mesma história os dramas pessoais, o sofrimento da nação, o estereótipo de judeus bons no comércio, romances impossíveis, cachorros fofos e uma série de piadas.

    O resultado é Bye Bye Alemanha, tentativa de feel good movie produzida por três países europeus. Na trama, o judeu David (Moritz Bleibtreu) tenta deixar o país, como muitos os outros judeus, porém seu visto é negado, e David precisa explicar aos policiais alguns segredos do passado. Enquanto isso, desenvolve um negócio de produtos de cama, mesa e banho, para vender especificamente aos alemães que perderam filhos nazistas. Lucrando com o dinheiro do inimigo, eles se sentem vingados. Assim, os malandros se unem para criar falsas histórias de amizade com os falecidos, e saem rindo das casas dos pais em luto, com o dinheiro em mãos.

    Se a exploração financeira pela dor familiar tem um caráter particularmente amargo, espere até ver a narrativa de traumas históricos de David em seu depoimento à policial Sara (Antje Traue). Ao narrar alguns dos momentos mais difíceis de sua vida, o protagonista o faz com sarcasmo, piadas e muitas tiradas sedutoras à bela policial. Esses elementos são improváveis, circenses, adicionando à galeria de bufões: um policial malvado (Joel Basman) parece saído de uma história em quadrinhos, enquanto as mulheres ingênuas existem apenas no imaginário masculino dominador dos colegas.

    A montagem paralela alterna o drama (as lembranças em flashback dos horrores da Segunda Guerra) e a comédia (a prosperidade dos negócios através da mentira). A confluência de gêneros nem sempre funciona, seja pela transição abrupta, seja pela repetição de ações: David depõe dia após dia, entrando e saindo da delegacia quando bem entende, enquanto os colegas vendem lençóis e toalhas sem que o roteiro pense em discutir qualquer parte do processo comercial, como a distribuição, o fornecimento, a partilha do dinheiro. Tanto as vendas quanto o depoimento/romance soam fáceis demais. Ninguém acredita que o protagonista será realmente pego, ou que a venda inescrupulosa gerará algum problema. Pelo tom cor-de-rosa, a premissa carece de conflito.

    Para agradar uma plateia ampla, o diretor faz tantas concessões à História, ao bom senso e à suspensão da descrença que cria uma fábula insossa e inofensiva. A narrativa do segredo de David não leva a lugar nenhum, assim como as atividades comerciais dos colegas crescem, sem encaminharem a um desfecho preciso. A suposta obsessão do grupo em trocar a Alemanha pelos Estados Unidos está ausente, e a percepção do trauma pós-nazismo é de uma simplicidade perturbadora. Nada contra a leveza – é possível, sim, conjugar guerra e luto de modo harmonioso – mas Bye Bye Alemanha precisaria escolher um foco, uma abordagem estética, um público preciso, ao invés de ampliar seu escopo a ponto de perder de vista os personagens e a História. As comédias baseadas em fatos, especialmente um genocídio dessas proporções, não podem se isentar de responsabilidade em relação ao tema retratado.

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