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    Guardiões da Galáxia Vol. 3
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Guardiões da Galáxia Vol. 3

    Só faltou "Não Aprendi a Dizer Adeus" na mixtape de Peter Quill

    por Aline Pereira

    Em 2014, os Guardiões da Galáxia chegaram ao Universo Cinematográfico da Marvel como uma onda de ar fresco e uma boa surpresa para a esmagadora maioria do público, que provavelmente nunca tinha ouvido falar desse grupo carismático de personagens dos quadrinhos. Quase dez anos depois, o terceiro volume da franquia traz um pouco dessa energia de volta – e se Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, que veio pouco antes, não empolgou tanto assim, a aventura espacial corre atrás do espírito “diversão, ação e emoção” do estúdio.

    Após os acontecimentos de Vingadores: Ultimato, encontramos um Peter Quill (Chris Pratt) desolado no início de Guardiões da Galáxia Vol. 3. O grupo está se restabelecendo nas terras de Luganenhum e, enquanto seu líder sofre com o luto por Gamora (Zoe Saldana), uma nova ameaça os pega completamente desprevenidos. O passado trágico de Rocket vem à tona com um peso avassalador – para os Guardiões e para quem está assistindo – e a partir daí, surge uma missão que ameaça tanto a pequena família de desajustados, quanto a galáxia inteira.

    Guardiões da Galáxia é um filme, acima de tudo, com coração

    Assim como seus predecessores (e, bem, basicamente todos os outros filmes da Marvel), o terceiro Guardiões impressiona, sim, no visual. No que diz respeito à sensação de imensidão e imponência, o volume 3 enche nossos olhos, mas a verdade é que, depois de 15 anos dentro deste Universo Cinematográfico, a capacidade técnica do estúdio já está mais do que comprovada e esse quesito não acrescenta tanto à discussão. O brilho vem, realmente, quando conseguimos enxergar uma alma por trás de toda a pompa (que já é o arroz-com-feijão da Marvel).

    Walt Disney Studios Motion Pictures

    Acho que é justamente esse o caso aqui. Guardiões da Galáxia 3 é um filme que tem coração porque encontra espaço, em um mar de fórmulas e adaptações, para ter identidade, impulsionar seus personagens e nos fazer sentir alguma coisa. Todo o aspecto visual e a ação (que é ótima!) funciona melhor porque as emoções que os protagonistas estão vivendo também fazem sentido e convencem do lado de cá da tela. O grupo chega até aqui com uma sintonia tão forte que a perspectiva do fim – e mais do que isso, de um fim trágico – gera uma certa aflição.

    Enquanto a iminência do desastre desperta esse senso de urgência, há outros dois fatores bem interessantes que estabelecem a emoção. O primeiro já era esperado como consequência do Ultimato de 2019: Peter Quill está em uma situação terrível, já que a figura de Gamora está lá, mas não é a mulher por quem ele se apaixonou. O que fazer? Aceitar que a Gamora dele não existe mais? Tentar encontrá-la dentro da Gamora que está presente agora? Embarcar em um Como Se Fosse a Primeira Vez? Para os mais românticos, um impasse de cortar o coração mesmo.

    Depois, vem a estrela da história: Rocket Racoon é uma peça-chave no desfecho de Guardiões e ganha muitas boas camadas ao longo da trama. Da explicação comovente sobre a escolha do nome “Rocket” à intensa história de origem de seus superpoderes, é surpreendente o quanto o longa investe no personagem. E os olhos de Gato de Botas do Shrek, obviamente, são irresistíveis. 

    Walt Disney Studios Motion Pictures

    O que torna esses dois dramas principais (o de Peter e do Rocket) ainda mais interessantes é o envolvimento do grupo todo neles. Ao longo de uma década, vimos esses personagens passarem de desconhecidos para grandes parceiros e agora, em sua última corrida, a dinâmica é mais do que convincente. Desajustados e marcados pela solidão, eles se escolheram como família e a última coisa que queremos é ver a separação – mas a gente sabe que a hora vai chegar.

    Mas calma, nem tudo é drama no último Guardiões da Galáxia

    O diretor James Gunn soube dosar os momentos emocionais e, no fim das contas, Guardiões da Galáxia Vol. 3 é um filme enérgico e bem-humorado. Embora as brincadeiras com as ingenuidades distintas de Mantis (Pom Klementieff) e Drax (Dave Bautista) sejam repetitivas em alguns momentos, o longa encontra pontos de humor inesperados. Sem spoilers, claro, mas Nebula (Karen Gillan) e Kraglin (Sean Gunn), por exemplo, surgem em momentos repentinos com piadas bem engraçadinhas.

    Em 2021, James Gunn dirigiu o bem-sucedido O Esquadrão Suicida e seu terceiro Guardiões lembra uma versão mais “classificação livre” do que vimos no filme da DC no que diz respeito à comédia de ação. As cenas de pancadaria são recorrentes, como o gênero pede, e pendem para um lado pastelão (no melhor sentido da palavra!), que se encaixa mais naturalmente ao espírito desta franquia da Marvel. 

    “Novos” personagens são pouco aproveitados

    Em 2017, uma das várias cenas pós-créditos de Guardiões da Galáxia Vol. 2, introduziu o que pareciam ser grandes vilões para uma futura história. E ficou basicamente por isso mesmo. Elizabeth DebickiWill Poulter retornam como Ayesha e Adam Warlock, mas a participação deles tem uma magnitude bem diferente do que tudo o que foi especulado nesses seis anos de intervalo.

    Walt Disney Studios Motion Pictures

    Com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo (e em todo lugar), os dois estão, em boa parte do tempo, meio desconectados da história. Depois de tanto tempo de “vem aí”, ficou a sensação de que essa era a hora de eles brilharem, mas o que rolou foi mais uma espécie de motor para fazer as outras tramas andarem e mesmo nos momentos que protagoniza, Adam Warlock não parece tão relevante quanto prometia – criamos essas expectativas por conta própria ou os planos mudaram no meio do caminho?

    Uma boa despedida: Guardiões da Galáxia 3 é o “Ultimato” deles

    Em meio a um Universo Cinematográfico tão solidificado, Guardiões 3 não abre espaço para uma indagação batida: por que não chamar o fulano para resolver o problema? Esta é uma missão que diz respeito a Peter, Gamora, Mantis, Nebula, Drax, Rocket e Groot. E só. Ao manter isso claro o tempo todo, o longa já cumpre muito do que está se propondo fazer e torna seus personagens parte intrínseca e indispensável para a batalha tanto de forma individual, quanto em grupo.

    Embora haja uma ameaça em escala maior (porque ela sempre existe), esta é uma aventura cuja importância e todos os seus significados só podem ser totalmente sentidos e compreendidos pelos Guardiões. Sabe quando você está vivendo algo e já sabe que vai sentir saudade antes mesmo do fim porque está sendo divertido? Então.

     

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