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    As Incríveis Artimanhas da Nuvem Cigana
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    As Incríveis Artimanhas da Nuvem Cigana

    Foi assim que aconteceu

    por Bruno Carmelo

    O título deste documentário pode soar estranho para quem não tiver ouvido falar na Nuvem Cigana, um coletivo de poetas, artistas e performers que criou uma arte popular e subversiva durante a ditadura militar no país. Os diretores Cláudio Lobato e Paola Vieira têm o privilégio de contar com figuras centrais desse movimento no filme, podendo debater o papel da arte em momentos de golpe – um tema cada vez mais urgente nos tempos atuais.

    A biografia, infelizmente, recebe um tratamento caótico. Talvez na intenção de ser plural e livre como seus entrevistados, o filme alterna entre temáticas completamente diferentes: fala-se do estilo de vida hippie, da Guerra Fria, da casa onde moravam os artistas, dos blocos de Carnaval que frequentavam, dos cortes de cabelo, da ditadura, das drogas que usavam, e depois do Carvanal novamente. A montagem é desordenada e confusa: a direção não possui um discurso preciso, nem uma linha condutora, apenas uma série de ideias evocadas com a aleatoriedade da memória afetiva.

    Esteticamente, a bagunça é ainda maior. A trilha sonora não para nunca, a edição corta os depoimentos após poucos segundos (com direito a vários inserts de risos e sorrisos), as poesias são acompanhadas por efeitos visuais invasivos e exagerados, as vozes narrando poemas se alternam sem referencial dos poetas, os cortes são acompanhados por vinhetas de nuvens animadas. Na desordem de imagem e som, raramente se ouve poemas completos, ou se tem o tempo suficiente para absorver um verso antes que chegue a próxima canção, a próxima animação.

    Além destes efeitos lúdicos no limite do infantil, a direção não consegue extrair de seus interessantes artistas muito mais do que fatos, verbos, ações. Eles dizem “Eu fui, eu me mudei, eu fiz, eu li, eu escrevi, eu conheci, eu usei, eu saí” etc. Seria importante saber o que pensam, como analisam, de que maneira suas ideias mudaram. Mas a imagem apenas ilustra, de modo redundante, a narração sonora. Quando se falam da casa onde moravam, vemos a casa. Quando falam do nome de um barco, vemos o nome do barco; quando o poema cita um sapato, filma-se o sapato e assim por diante.

    Em termos artísticos e cognitivos, essas escolhas são de uma pobreza lamentável, além de tentarem sugerir, didaticamente, que os depoimentos são verdadeiros. Os diretores trabalham menos como fontes de criação do que como investigadores, destinados a fornecer documentos e provas de que aquelas pessoas, ruas, casas e eventos de fato aconteceram. Este é um cinema ilustrativo, reincidente, que não fornece ao grupo marginal a criatividade que merece. Na tentativa de reproduzir uma arte libertária, chega-se à narrativa saturada, histérica, mais pedagógica do que reflexiva.

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