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    O Filho Uruguaio
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    O Filho Uruguaio

    Tudo sobre minhas mães

    por Taiani Mendes

    O que define uma mãe? O filho gerado em seu ventre? O amor incondicional? A cumplicidade inquestionável? A colocação de todas as outras coisas em segundo plano em virtude da criança? O incontornável sofrimento? A responsabilidade da criação? O tal instinto maternal? Tendo um menino como centro de disputa, O Filho Uruguaio reflete a maternidade em suas diferentes maneiras através de um imbróglio intercontinental de longa duração e sem solução fácil.

    Há quatro anos sem ver o filho, sequestrado pelo pai uruguaio, a francesa Sylvie (Isabelle Carré) desembarca no país latino-americano com um endereço e a certeza de que voltará para a Europa com o garoto nos braços. Seu aliado no resgate é o assistente social Mehdi (Ramzy Bedia), que desobedece a seus superiores compactuando com a mãe desesperada ao invés de deixar o caso nas mãos da polícia.

    Enquanto a impulsiva Sylvie cuida da logística na capital, fantasiando o reencontro da maneira mais mágica possível, Mehdi vai até a pequena Florida, no sul do país, pegar Felipe (Dylan Cortes). Ao ter contato com o menino, porém, o assistente social percebe que a situação é um milhão de vezes mais complexa do que o previsto e acaba tendo que se equilibrar com enorme dificuldade entre a cobrança de Sylvie, a desconfiança da avó de Felipe, o flerte com a tia do garoto e seu compromisso profissional de preparar a criança para a revelação.

    Como um escudo, tentando proteger Felipe das forças maternas inconscientemente desproporcionais, ele é o homem racional que tenta usar o tempo a seu favor para resolver da melhor maneira o caos gerado justamente por uma figura masculina. Esta história, no entanto, é sobre a maternidade e, ainda que em dado momento crítico entrem em cena até homens do consulado e da polícia como intermediadores, a resolução só pode vir do trio feminino conectado pelo amor em comum – outrora por Pablo, marido, irmão e filho, agora por Felipe.

    Em seu terceiro longa-metragem, o segundo ficcional, o diretor Olivier Peyon conduz a trama no encalço de seus personagens, deixando que suas emoções deem o tom da narrativa. Acompanhando o nervoso de Sylvie ao se deparar com imprevistos na chegada ao Uruguai, o início é nebuloso e acelerado, ao passo que a tensa busca de Mehdi por Felipe tem inspiração no suspense, tanto pela expectativa construída, quanto pela caminhonete aos pedaços, digna de filme de terror, conduzida pelas ruas desertas da pequena cidade. Com protagonistas sempre à espreita, preocupados e apressados, O Filho Uruguaio tem fotografia que inteligentemente acompanha-os pelas costas, como que perseguindo, e em oposição alguns planos isolando os estrangeiros - não raras vezes passados para trás pelos locais - diante de enormes estruturas.

    Impecável, o elenco composto ainda por María Dupláa (como a simpática tia que largou tudo para criar Felipe) e Virginia Méndez (a avó protetora) instiga a emoção que o roteiro não força, flui naturalmente principalmente nos aguardados contatos de Sylvie com o herdeiro e se faz presente nos menores gestos, dolorosos silêncios e ressentidos olhares, e também nas compreensíveis explosões da personagem de Carré. Se em 1989 Pedro Almodóvar colocou tão bem a agitação sexual espanhola na tela em Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, aqui Peyon retrata com enorme sensibilidade a angústia maternal franco-uruguaia, tão intensa quanto.

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