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    Pitanga
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Pitanga

    Cinema de afeto

    por Francisco Russo

    Se documentários revisionistas sobre personalidades são de certa forma corriqueiros, raros são aqueles que conseguem revelar tanto através de detalhes. Pitanga, documentário dirigido em parceria por Beto Brant e Camila Pitanga, é um destes casos. Mais do que uma mera homenagem, trata-se de uma fiel representação do espírito inquieto de Antonio Pitanga e do quanto representou, simbolicamente, para o cinema brasileiro.

    Tal objetivo é alcançado muito graças à proposta narrativa implementada pela dupla de diretores. Ao invés de seguirem o formato padrão, envolvendo entrevistas e material de arquivo, Pitanga busca o coloquial a partir de encontros do protagonista com velhos conhecidos, que fizeram parte de sua vida seja por questões profissionais ou afetivas. É a partir de tais conversas que, aos poucos, é esmiuçada não só a imponência de sua presença de tela, através de trechos de seus trabalhos habilmente inseridos durante o bate-papo, mas também o quanto ele foi importante para a representação do negro. É quando o documentário assume também um importante viés político, intrínseco à própria personalidade do homenageado.

    Entretanto, mais do que apenas relembrar momentos marcantes de Antonio Pitanga, o grande achado do longa-metragem é mesmo a espontaneidade. A partir de conversas divertidas e descontraídas, sua personalidade é revelada através de olhares, risos, brincadeiras e até mesmo momentos desconcertantes. É o que faz Itala Nandi, ao revelar uma paixonite secreta, ou mesmo o olhar carinhoso vindo de Maria Bethânia. Mais do que o ator ou a figura pública, o espectador tem a chance de conhecer o homem. Com direito a todas as suas idiossincrasias, do lado extrovertido ao namorador, da posição política ao interesse cada vez maior pelo cinema, da consciência de sua posição perante a sociedade ao convívio entre amigos.

    Tal revelação muito tem a ver com a própria intimidade existente e exposta entre Antonio Pitanga e os realizadores do documentário - Camila, não por acaso, é sua filha. O que, por outro lado, tem também o agravante de jamais permitir que seu personagem principal seja confrontado, seja por quem for. Consequência direta do formato adotado, que busca não apenas louvar seu personagem principal mas também inseri-lo em um ambiente absolutamente afetuoso, de forma a deixá-lo o mais confortável possível - e, daí, extrair as valiosas revelações através de detalhes.

    Dinâmico e divertido, Pitanga é ao mesmo tempo um passeio pela história do cinema brasileiro e um retrato carinhoso de seu personagem principal. Se por vezes se alonga demais, especialmente no trecho dedicado à sua família, tamanha verborragia é compensada pela riqueza da descontração obtida pelas lentes de Brant e (Camila) Pitanga. Belo filme.

    Filme visto durante a cobertura do Festival do Rio, em outubro de 2016.

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