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    Rock'n Roll: Por Trás da Fama
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    Rock'n Roll: Por Trás da Fama

    A arte de rir de si mesmo

    por Francisco Russo

    Se rir de si mesmo é sinal de inteligência, o que dizer de um filme calcado na persona pública de seu protagonista e nos estereótipos inerentes à profissão? Esta é a difícil e corajosa tarefa de Guillaume Canet no divertidíssimo Rock'n Roll: Por Trás da Fama, onde se expõe de uma maneira surpreendente a partir de uma ideia ao mesmo tempo simples e inusitada: trazer a público os bastidores da vida em casal do próprio Canet e de sua esposa, Marion Cotillard.

    Sim, é isso mesmo que você leu: em Rock'n Roll, Canet e Cotillard interpretam a si mesmos - ou uma versão de si mesmos, a partir de como são vistos mundo afora. Sem qualquer tipo de complacência, Canet e os roteiristas Rodolphe Lauga e Philippe Lefebvre abordam com muito bom humor temas delicados, como o fato dela ser bem mais reconhecida (e exaltada) do que ele e a proximidade da idade perante os astros de Hollywood, que tanto dependem de sua aparência para conseguir bons papéis. Para tanto, Canet se despe de qualquer vaidade ao mostrar uma faceta baseada em suas láureas do passado, como o sucesso de Na Próxima, Acerto no Coração e a consequente indicação ao César, para apresentar uma espécie de star system francês que tão bem sustente esta variação de si mesmo.

    É a partir deste reconhecimento prévio ao que Canet e Marion já fizeram que o espectador mais atento se delicia com detalhes inerentes ao mundo do cinema. Um exemplo é a dedicação extrema desta Marion Cotillard ao ensaiar para cada novo papel, com uma intensidade exagerada que tão bem combina com a transformação por ela sofrida ao atuar em filmes como Piaf - Um Hino ao Amor - que lhe rendeu o Oscar, por sinal. Esta é a grande beleza do roteiro: pegar "lendas urbanas" acerca de seus personagens principais e criar a partir delas, como se fossem verdade absoluta. Da mesma forma, o filme brinca com a aparência sisuda do próprio Canet e com a fama de não ter sex appeal - daí vem o título do filme, sem qualquer referência musical.

    É claro que uma exposição de tal forma só foi obtida graças ao fato de que Canet e Marion são parceiros na vida real - algo que o filme, é claro, também explora. Entretanto, se como recriação de si mesmos o filme já diverte, ele oferece momentos de brilhantismo quando envereda por rumos absurdos, mas ao mesmo tempo bastante plausíveis, acerca da necessidade em manter-se jovial. Surpreendente e afiado no tom crítico, Rock'n Roll é incisivo sem jamais perder o bom humor, atacando firme não só o ambiente do cinema mas também das séries - com direito a um desfecho absolutamente genial, que merece ser acompanhado até o último dos créditos finais.

    Inteligente, sarcástico e extremamente divertido, Rock'n Roll é uma comédia para rir com gosto sobre as entranhas do mundo do cinema e os estereótipos que a vida pública traz. Um belíssimo trabalho do diretor/roteirista/protagonista Guillaume Canet, não só pelo que apresenta em cena mas também pela coragem em se expôr de tal forma, luxuosamente auxiliado por uma Marion Cotillard que, consciente de sua posição nesta mesma realidade, serve à proposta do filme com uma generosidade e entrega cativantes. Excelente filme, um dos melhores vistos em 2017.

    Filme visto durante o Festival Varilux de Cinema Francês, em junho de 2017.

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