Eu sempre possuo um certo receio com filmes que se valem pela experiência, seja pelo receio de ter ou não algo para entregar além deste fato que a obra se propõe – porque existe sim muito conteúdo vazio em diversas obras que só se propõe à serem grandes experiências angustiantes – mas ao mesmo tempo, mesmo quando elas têm sim algo à dizer, e mesmo que seja sim algo bem impressionante, no fim a experiência já será se concretizada. Aí não tem como não suar desinteressante em revê-la em situações futuras.
E acredito que Get Out (2017), seja um caso curioso sobre isso, eu tenho uma história com este filme. Ouvir falar na época de seu lançamento, mas me passou completamente batido, devo ter só o assistido um ano após todo o seu inestimável e contudo merecido hype – afinal este foi literalmente um filme de gênero à ter recebido 4 indicações ao Oscar, incluindo o de Melhor Filme, e saiu ganhando o prêmio de Melhor Roteiro Original pela obra de Jordan Peele, que também assina a direção – e ao fim da experiência, eu terminei achando a parada mais impressionante que já vi em um bom tempo.
Mas após tudo isso, creio que nessa minha segunda assistida, creio que o tal fator já tenha passado, pois agora já sabendo de tudo que vai rolar, me recordo de tudo que já me explicitei, seja que Get Out é nada mais que um filme de pura experiência, e contudo nada mais... sim, é não. Mas como dizia Jack, o Estripador "vamos por partes". Na trama: acompanhamos Chris, um jovem fotógrafo negro (Daniel Kaluuya) que está prestes a conhecer a família de sua namorada, a caucasiana Rose (Allison Williams). A princípio acreditando que o comportamento excessivamente amoroso por parte da família dela é uma tentativa de lidar com o relacionamento de Rose com um rapaz de sua etnia, o mesmo começa à perceber um acumulado de coisas cada vez mais fora do normal, e que a família talvez possa esconder algo muito mais perturbador.
Novamente vendo um longa do gênero se apropriando de um horror mais psicológico e de paranoia, ao invés de assumir o mais convencional de sustos – fechado talvez com chave de ouro a nossa trindade de artista do horror moderno – Peele apresenta aqui uma premissa instigante e que cativa a nossa curiosidade, e se por um lado eu digo que o fato do filme se força mais em ser um filme de experiência acaba o prejudicando, o que ele possui de conteúdo aí sim é nada mais do que fascinante. A pura ideia de alguém misturar subgêneros de suspense com doses de comédia, sendo que tudo isso ainda se trata de uma grande crítica social ao racismo, e ainda o filme consegui o feito de ser bom, à de se reconhecer que é muito mais do que uma vitória.
E mesmo que o resultado seja à maior parte das vezes longe da perfeição, o que ele tinha pra dizer, está muito mais do que dito, e funciona bem até aí. Get Out (2017) é de muitas formas a pequena (quase) obra-prima de Jordan Peele (pelo menos até agora, o diretor não só dar mais um belo passo para o crescimento do Pós-terror no mainstream, como abriu toda uma onda para a maior diversidade dentro do gênero. E apesar de algumas de suas imperfeições, a obra de Peele com toda a certeza garante o seu lugar ao sol.