Nise — O Coração da Loucura, filme de 2016 dirigido por Roberto Berliner é a cinebiografia da psiquiatra Nise da Silveira, e todas as possibilidades que a tornaram o turbilhão revolucionário do tratamento mental no Brasil, com repercussões pelo mundo. Alagoana, nascida em Maceió, em 1905, uma das mulheres mais importantes do século XX que conceituou a arteterapia como catarse psíquica dos doentes mentais. Nise foi presa pelo Estado Novo de Getúlio Vargas, nos 18 meses de reclusão, dividiu a cela com a militante Olga Benário e manteve contato com o escritor Graciliano Ramos, que faria relatos sobre a médica em seu famoso livro Memórias do Cárcere. Depois de liberta em 1944, retorna ao trabalho no Hospital Psiquiátrico Pedro II, Engenho de Dentro, no subúrbio do Rio de Janeiro. Encarregada da área de terapia ocupacional, desprezada na época e comandada por serventes, Nise reorganiza o ambiente iniciando um longo processo de transformações naquele setor. Implanta paulatinamente uma nova forma de tratamento com os pacientes psicóticos, submetidos até então à barbaridade da lobotomia e eletrochoque. O jovem funcionário Almir, interessado por belas-artes, propõem a Nise o início de um ateliê de pintura, que se expande para outras propostas artísticas. Aos poucos o contato com essa nova forma de expressão acalma os internos que exteriorizam seus traumas e mazelas interiores através de mandalas em um desenvolvimento lento, e catártico. Filme rodado no próprio hospital que Nise trabalhou, o que dá mais veracidade ao longa. Glória Pires interpreta Nise da Silveirta, além dela o filme conta com Fabrício Boliveira, aqui em um trabalho excepcional, Roberta Rodrigues e Zé Carlos Machado. O diretor e documentarista Roberto Berliner é bastante realista, mostrando sem pudores a degradação, a sujeira, a precariedade inicial, os corpos nus e uma cena de sexo entre um casal de internos inserida com bastante naturalidade, sem subterfúgios. Bela fotografia, atores coadjuvantes contracenando com vivacidade, e Glória Pires em um momento brilhante de sua carreira. Falha somente no roteiro pouco explorado em relação a Nise da Silveira e sua trajetória até ali. Nota máxima por evidenciar a monumental psiquiatra alagoana, marco na revolução da medicina mental no Brasil. “Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: Vivam a imaginação, pois, ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas ajuizadas” (Nise da Silveira).