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    Sono Mortal
    Críticas AdoroCinema
    1,0
    Muito ruim
    Sono Mortal

    Esqueça a ciência, acredite em monstros

    por Bruno Carmelo

    Quando alguma pessoa justifica suas crenças com base em misticismos da Internet ou rumores do imaginário popular, o ensinamento clássico costuma indicar que esta pessoa busque livros ou fatos para se informar. Sono Mortal faz o caminho oposto: ele parte do conhecimento científico para sugerir o abandono de qualquer forma de lógica, aconselhando a crença nos comentários de portais e vídeos do YouTube. Este é o filme da “pós-verdade”, dos “fatos alternativos”: a verdade virou questão de opinião.

    Na história, Beth (Jocelin Donahue) sofre da paralisia do sono, fenômeno médico que leva a pessoa a acordar, mas sentir o seu corpo paralisado como se ainda estivesse dormindo. A protagonista sofre com um agravante: ela percebe uma criatura estrangulando-a durante o período de imobilidade. A cientista Dra. Sykes (Lori Petty) explica o caso por uma disfunção orgânica, relacionada à aparição de alucinações. O xamã Hassan, colecionador de objetos de magia negra, de olhos arregalados e boca sempre aberta (Jesse Borrego), prefere a interpretação de uma bruxa malvada aparecendo para estrangular as pessoas sem motivação aparente. Isso justificaria a suposta epidemia de mortes durante o sono.

    Esta hipótese do xamã é um tanto absurda, mas é ela que o filme prefere. Até aí, nenhum problema: o cinema tem a possibilidade de criar universos fantásticos, incluindo seres sobrenaturais. No entanto, neste caso, seria necessário criar um universo verossímil para a existência destes fenômenos, quesito no qual Sono Mortal falha gravemente. Cena após cena, o roteiro ignora as regras criadas por ele mesmo, para supostamente aumentar o suspense. De repente, os ataques da bruxa são transmissíveis pelo pensamento, depois eles se espalham para todos que acreditem nela, em seguida a força invisível é vista por gatos, depois o xamã diz exatamente como proceder diante de casos que nunca tinha visto na vida.

    A trama não faz muito sentido, mas o uso cinematográfico dela é pior. O projeto tem uma atmosfera de Filme B, com baixíssimo orçamento e capacidade técnica ainda mais limitada: os enquadramentos próximos no rosto são paupérrimos, a fotografia cinzenta é incapaz de criar relevos nos espaços, a montagem desconhece a noção de tensão e os atores são os mais canastrões possíveis. É difícil acreditar na cara de sofrimento de Jocelin Donahue, mas espere para vê-la atuar consigo mesma, no papel de irmãs gêmeas: as cenas se tornam um verdadeiro sofrimento para o espectador. O resultado poderia ser interessante caso o cineasta Phillip Guzman reconhecesse o aspecto tosco do conjunto e as limitações da produção. Mas o diretor conduz a obra com a seriedade de quem tem em mãos o novo Invocação do Mal

    Portanto, o resultado é um amontoado de clichês que dificilmente assusta qualquer espectador com a mínima experiência em filmes de terror. Por que o imaginário da assombração explora sempre a mesma mulher rastejando, com o rosto deteriorado e os cabelos pretos cobrindo parte do rosto? Quem ainda acredita no clímax em que o personagem tropeça e deixa cair o antídoto no chão? Por que o diretor teria deixado as vias abertas a uma sequência? Sono Mortal não carece apenas de criatividade ou tensão: ele precisa de um mínimo de bom senso, aquele mesmo elemento que ele pede aos personagens – e ao espectador, por extensão – para abandonar.

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    Comentários

    • tim meme
      Se você tem medo de filme ruim vai ficar apavorado.
    • Celso M.
      É Bruno. É fácil falar quando não se conhece do problema. Não é? Faço parte desta porcentagem de pessoas que enfrentam este dilema desde criança. O absurdo que você entende como verdade, na certa é porque não faz parte do seu universo.
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