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    Lucy in the Sky
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Lucy in the Sky

    A vida após o espaço

    por Francisco Russo

    Uma das perguntas mais recorrentes da humanidade é se estamos sós no universo, explorada das mais diversas formas por todo tipo de ficção científica. Entretanto, raros são os filmes que buscam tal resposta não propriamente pelo que vem de fora, mas olhando para dentro. É o que acontece em Lucy in the Sky, ficção científica filosófica que marca a estreia de Noah Hawley no cinema.

    Exaltado pelo trabalho feito nas séries Fargo e Legion, ambas com características muito particulares que as diferenciam da narrativa convencional, não é de se espantar que Crawley siga o mesmo caminho em seu primeiro filme. Já a sequência de abertura é emblemática: vemos Natalie Portman com o sorriso escancarado em pleno espaço, deslumbrada com a visão da Terra e realizada por ter tido a chance de viver tal experiência. Ao retornar, todos ao redor aparentam preocupação com seu estado de espírito. "Estou ótima, nunca me senti tão viva", repete a todo instante. Não é bem assim.

    O que Hawley realmente deseja abordar é o quanto uma experiência enorme quanto uma viagem ao espaço pode modificar a vida de uma pessoa, não propriamente em relação a fatos mas no aspecto psicológico. Mais do que propriamente saber se há vida lá fora, o objetivo aqui é compreender as dificuldades em retornar às miudezas do cotidiano após ter escancarada diante de si a vastidão existente e, mais ainda, a necessidade em retornar a ela para, uma vez mais, vivenciar tal experiência. Ou, simplificando, como lidar com o insustentável vazio da insignificância, perante o que há ao redor.

    Para tanto, Hawley elabora a narrativa tanto pelo aspecto filosófico quanto sensorial. Se o roteiro dá espaço para que as percepções da astronauta interpretada por Natalie Portman aflorem de forma orgânica e sem pressa, visualmente o filme envereda por mensagens enviadas através da constante transformação dos formatos de tela. Por exemplo: na citada sequência de abertura, o espectador é brindado com um belo widescreen, de forma a contemplar a beleza do universo. Ao chegar à Terra, o formato se adapta ao fullscreen, de forma a transmitir a sensação de aprisionamento. É assim por todo o filme, não só transitando através desta dicotomia como, também, modificando a altura e o posicionamento do formato de tela, em vários momentos.

    Tal proposta dá a Lucy in the Sky um impressionante deslumbre visual, através do combo fotografia e edição, que rendem sequências marcantes: da partida de boliche ao plano-sequência que percorre a casa do personagem de Jon Hamm, o lado estético chama a atenção até em momentos mais singelos, como o paulatino aumento da luminosidade no rosto dos atores ao contemplar o nascer do sol. Entretanto, nenhum deles se compara à belíssima transição na qual acompanhamos a icônica (e esperada) "Lucy in the Sky with Diamond", em versão mais lenta.

    Além da narrativa visual, o filme ainda conta como trunfo a dupla Natalie Portman e Jon Hamm. Se ele se destaca pelo conhecido carisma, ela marca presença pela postura em cena. Pode-se compreender muito sobre sua personagem apenas acompanhando seu andar, típico de uma mulher autoconfiante e decidida. Já Dan StevensZazie Beetz cumprem seu papel de forma trivial, em personagens unidimensionais sem grande aprofundamento.

    Por mais que possua muitos méritos conceituais sobre como contar esta história, Lucy in the Sky traz também um certo desapontamento em relação ao seu desfecho, quando a percepção sensorial migra para fatos - em parte, devido ao próprio desenrolar da narrativa. Apesar de ser compreensível tal mudança, há um desnível muito claro entre tais momentos. Ainda assim, trata-se de um filme bem interessante que, além de levantar necessários questionamentos para a melhor compreensão de si mesmo, entrega uma proposta narrativa visual que poucos diretores na atualidade conseguem fazer.

    Filme visto no Festival de Toronto, em setembro de 2019.

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    Comentários

    • DIEGO RIBEIRO VIEIRA
      Bingo, é sim. Aguentei só 15min
    • Fluforte
      putz deve ser um tremendo sonífero.
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