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    O Que Há Entre Nós?
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    O Que Há Entre Nós?

    Meu marido é gay

    por Bruno Carmelo

    Um dia, Alice (Ursina Lardi) começa a suspeitar que o marido seja homossexual. As evidências são fortes: ela encontra sites gays abertos no computador dele, descobre vídeos do esposo abraçando carinhosamente outro homem. O Que Há Entre Nós? trabalha a confusão da sexualidade, mas ao invés de adotar o ponto de vista do personagem que concretiza seus desejos após 18 anos de casamento, prefere acompanhar a dor da esposa. Alice é a protagonista deste drama suíço.

    A diretora Claudia Lorenz coloca o público do lado da esposa traída, que tenta manter um pensamento aberto e liberal – ela tolera que o marido saia com outro homem, e propõe sexo a três para aliviar as pulsões dele – mas que nunca compreende como Frank (Dominique Jann) poderia ter mudado tanto ao longo do relacionamento. Apesar de ser racionalmente progressista, o medo faz com que Alice recaia nos preconceitos mais reacionários: ela estima que o “problema” do marido seja falta de sexo, ou talvez apenas uma fase passageira.

    O filme usa as regras do melodrama, mas tenta manter a narrativa em tom sóbrio. As cores pastéis, os planos fixos que nunca abandonam o lar e a montagem cirúrgica fazem com que estas transformações aconteçam no plano dos fatos: o público presencia principalmente ações, e não sentimentos. Existe pouco espaço para hesitação, dúvida, para a construção gradual da dor. Esta é uma obra movida por provas: Frank está com outro homem, na cena seguinte ele admite seu desejo, no próximo instante, abandona a casa...

    O Que Há Entre Nós? decepciona pelo tratamento ineficaz dos elementos mais básicos da mise en scène: o trabalho do tempo, do espaço e dos atores. O tempo, em especial, é um fator importantíssimo para a construção de dramas, mas é utilizado de maneira apenas funcional nesta história. Os planos demoram o mínimo necessário para transmitirem uma mensagem, antes que a edição os interrompa. O espaço simbólico da casa, onde o casal constrói e destrói a família, tampouco convence pelo uso de enquadramentos repetidos, pela recusa de gerar movimento ou estranhamento entre quatro paredes. A direção de Lorenz é burocrática, evitando as metáforas tão importantes à sensibilidade desta história.

    Por esta razão, as atuações transparecem artificialidade: sem construção de uma psicologia precisa, de um passado e de nuances para os personagens, as atuações tornam-se bruscas e injustificáveis. Apesar destes problemas, é inegável o carinho do roteiro pelos personagens, e a boa intenção de lidar com a homossexualidade com otimismo. Se prestasse mais atenção aos personagens e menos às reviravoltas do roteiro (que se estende excessivamente), o filme poderia ser mais comovente e sincero.

    Filme visto no 23º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, em novembro de 2015.

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