PABLO LARRAIN, NÃO FAZ CINEMA COMUM!
Com este "JACKIE" já é possível confirmar algo que venho pensando a propósito deste cineasta chileno, com importantes vôos internacionais em sua cinematografia. Sim, porque se "NO" e "O CLUBE" estão ainda na esteira de uma "produção nacional" chilena (me corrijam se estou errado, ou se nesses filmes já há a presença internacional na produção, tenho dúvidas), em "NERUDA", a co-produção Européia se confirma, e agora com "JACKIE", Larrain chega à meca do cinema.
Isso contudo não tem qualquer importância para o cinéfilo. Para o amante do cinema o que interessa é a qualidade da produção, a criatividade e arrojo no emprego das técnicas, domínio e apropriação da linguagem. E, isso encontramos de sobra em todos os filmes de Pablo Larrain. Este "JACKIE" e esta câmara colada nos rostos dos intérpretes, esse tom abaixo, rouco, reprimido, carregado de lamento, força e fúria, na interpretação de Natalie Portman, é por demais valioso. Coloca o espectador junto, ao lado, dos personagens, diante da grande tragédia (o assassinato de seu presidente) que abalou a nação americana.
Larrain, não faz cinema comum, quer seja no plano da linguagem, da apropriação das ferramentas técnicas e dos temas que deseja abordar, trazer luz para o espectador. Escolhe e bem os personagens e os momentos emblemáticos da vida dos mesmos a serem retratados (Neruda, Jacqueline Kennedy), bem como os momentos históricas de seu país, o Chile (em "NO", que trata do plebiscito que o ditador Pinochet programou para se perpetuar no poder e foi derrotado, ou de outros como, agora, os EUA.
E isso, avalio, é um processo de construção de uma trajetória para construir uma biografia de autor de cinema, alguém com assinatura. É cedo para afirmar isso? Talvez!. Mas, não há dúvidas: o cineasta tem ofertado ótimos filmes, que atendem às expectativas do entretenimento, fazem pensar e acima de tudo, são esteticamente muito bem feitos. No plano da linguagem, não ficam na mesmice da tradição consolidada pelo "cinemão" que oferece tudo mastigado para o espectador que acompanha embevecido o começo meio e fim das histórias. Não, e melhor ainda, os filmes de Larrain apresentam os personagens e suas contradições: ninguém é bom o tempo todo, ninguém é por assim dizer vilão sempre!
Enfim, ir ao cinema assistir a um filme de Pablo Larrain é sempre um bom programa.