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    Janis: Little Girl Blue
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Janis: Little Girl Blue

    Janis para principiantes

    por Renato Hermsdorff

    Janis Joplin é um mito. Nascida em 1943, até a sua morte precoce – por overdose de drogas aos 27 anos, em 1970 – foi considerada a “maior cantora de rock dos anos 1960”, “maior cantora de blues e soul da sua geração”, responsável por influenciar dezenas de artistas até os dias de hoje. Trata-se, portanto, e em última análise, de um personagem tão interessante quanto o é relevante preservar sua trajetória e/ou apresentá-la a uma grande audiência. Papel que Janis: Little Girl Blue, o documentário de Amy Berg (que concorreu ao Oscar 2006 com outra produção do gênero, Livrai-nos Do Mal, sobre um padre pedófilo) cumpre com precisão – mas também com uma certa caretice.

    Little Girl Blue (“garotinha triste”, em tradução livre) narra a vida da cantora de forma cronológica. De cara, o que se recorda é a adolescência sofrida, vitimada pelo bullying – no início da vida universitária, Janis chegou a ser eleita “o homem mais feio do campus”, um baque simbólico que teve repercussão tanto em sua saída da pequena cidade natal de Port Arthur, quanto engatilhado sua dedicação à música e a um estilo alternativo de vida que, sim, envolvia o consumo de drogas. É uma forma de entender – para quem não conhece – e, por quê não?, se identificar com a personagem que, anos depois, deixaria um legado genial. Um tapa na cara na sociedade.

    Ao longo da projeção, há um respeitoso equilíbrio entre vida pessoal e carreira, através do acesso da produção a objetos pessoais da cantora, bem como à participação daqueles que conviveram com ela. Um dos destaques são as cartas que Janis escrevia à família – narradas no filme –, que são uma espécie de fio-condutor das próprias emoções. Companheiros de banda (principalmente da tão importante "Big Brother and the Holding Company", da qual foi vocalista), amigos de escola e irmãos depõem sem nenhum tipo de pudor ou falsa tentativa de proteger a memória da artista. A irmã fala abertamente

    sobre o consumo de drogas, por exemplo.

    No entanto, os pontos de virada (que sim, há na vida real) são inseridos de forma bruta – e sempre associados ao consumo de drogas. Em um par de frases, o humor da artista varia de um extremo ao outro, alimentado pela heroína, o que, como narrativa, soa demasiadamente superficial – e repetitivo, sobretudo na segunda metade.

    A tradicional combinação do formato de recortes de jornais + fotos do acervo familiar + depoimentos de arquivo (da própria Janis) é didática, num bom sentido, mas um tanto careta –  quando se tem em mente que é de Janis Joplin que se está falando. E a impressão que fica é que falta a Little Girl Blue o suingue de Amy ou de What Happened, Miss Simone? Ao filme. Não à cantora.

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